domingo, 11 de abril de 2021

Ciclópico - Crítica: Godzilla II: Rei dos Monstros (2019)

 

Reunindo a banda!!!

 
por Ronald Lima 
 (originalmente publicada em 06/ 08/ 2019)


Continuação firma o conceito do "Monsterverse" 

 

- Ele não é realmente mau, mas o problema é que ele é muito grande, e aí quando ele anda, ele acaba pisando nas pessoas...”
 


O original de 1954: O clássico homem em roupa de borracha...

Esta definição feita pela sobrinha de 10 anos de um amigo meu com relação à versão de 1998 dirigida por Rolland Emmerich ainda permanece como a melhor definição de Godzilla, o titânico dinossauro radioativo nipônico que desde a sua estreia em 1954 (nove anos após a detonação da bomba de Hiroshima) no clássico dirigido por Ishiro Honda tem literalmente não deixado pedra sobre pedra sobre Tóquio ou qualquer cidade pela qual ele tenha passado enfrentando adversários tão colossais quanto ele, abrindo a caminho para todas as empreiteiras que queiram depois faturar com as obras de reconstrução (este dado nunca foi mencionado nos filmes, mas vocês duvidam???).

 

O Rhedossaurus de Ray Harryhausem: Fonte inspiradora.

 

 Fruto dos talentos de Honda e do produtor Tomoyuki Tanaka, além do compositor Akira Ifukube e do mestre em efeitos especiais Eiji Tsuburaya, que anos depois seria o criador da super bem sucedida franquia Ultraman (e seus derivados) o originalmente lagarto gigante popozudo emborrachado, que era mestre em destruir maquetes, arrebatou o imaginário pop, gerando filmes, quadrinhos, toda e qualquer sorte de colecionáveis, animações e é claro que Hollywood não ficaria insensível a tão promissora fonte de verdinhas. A primeira tentativa, não bem sucedida foi a já citada versão de 1998 com Mathew Broderick e Jean Reno, que tinha como principal falha a de, tal qual no filme inspirador do personagem, O Monstro do Mar, 1953 de Eugène Lourié, com efeitos de stop motion da lenda Ray Harryhausen, o fato do monstro morrer no final. Tudo bem que o Godzilla original também morria, mas os japoneses perceberam rapidamente (ao contrário dos americanos...) que O MONSTRO É QUE ERA O HERÓI DA HISTÓRIA!!! Então, porque não enaltecê-lo?  

 


O "state of art" atual: CGI com captura de movimentos. Curiosamente 
os japoneses conseguiam ser mais dramáticos com os monstros de borracha...

 

Passados alguns anos finalmente surgiu um cineasta que realmente entendeu o conceito do personagem e conseguiu adaptá-lo ao modus operandi norte-americano sem perder a essência do poderoso Kaiju (como os japoneses se referem aos monstros gigantes do cinema) e assim, Garreth Edwards (Rogue One: Uma História Star Wars) que havia dirigido o filme independente Monstros (2010) dirigiu Godzilla (2014 ) conseguiu fincar as poderosas patas do monstro de maneira sólida no território ianque, dando início ao conceito do Monsterverse da Legendary Pictures e da Warner Bros.Pictures, que em associação com a Toho Film Company Ltd. Lançaram o projeto de um universo compartilhado tal qual nos filmes da Marvel Studios sendo lançado em seguida Kong: A ilha da Caveira (2017) de Jordan Vogt Roberts já redimensionando o gorilão para o padrão peso-ultra-super-pesado e alicerçando as bases da mitologia lançadas no filme de 2014, onde a agência cripto-zoológica Monarch (que desde os eventos do filme de 2014 sofreu um crescimento enorme, tornando-se uma espécie de S.H.I.E.L.D. deste universo, possuindo bases espalhadas por todo o globo) monitora os lendários titâs adormecidos que por vezes no passado ameaçaram a existência humana, servindo e base a muitas lendas e mitos, pois  A Grande Muralha  (2016) de Yimou Zhang seria ambientado no mesmo universo narrativo, funcionando quase como um prequel

 


Stranger Teen: Millie Bobby Brown como Madison Russel, a adolescente geniazinha da vez...

 

Dirigido por Michael Dougherty (roteirista de Krampus: O Terror do Natal, Superman O Retorno, X-Men 2) Godzilla II: Rei dos Monstros (2019) chega com a missão colossal de colocar essa engrenagem monstruosa para rodar e firmar de vez as franquias do lagartão, bem como de Kong, Mothra, Rodan, King Gidorah, e todo “um universo pleno de deuses e monstros”como diria James Whale, o lendário diretor de Frankenstein (1931) não apenas como um produto de nicho nerd, mas como Blockbusters de alta rentabilidade. Haja sopro radioativo!  

 

Mothra: Uma das grandes atrações do filme com lindos efeitos bioluminescentes

O roteiro é do próprio Dougherty com Zach Shields, autores da história também com Max Borenstein. Borenstein está nesse Universo de Monstros desde 2014. A Terra enfrenta uma sequência de aparições de monstros gigantescos, incluindo Godzilla, que recebe ajuda de Mothra, e enfrenta Rodan e seu arqui-inimigo de três cabeças, King Ghidorah (todos eles personagens pertencentes a  Toho Film Co.Ltd.). 

 


"Easter-eggs" não faltam quanto ao histórico dos monstros. É ficar de olhos abertos e atentos...

 

Quando estas criaturas milenares – ressurgem, elas lutam pela supremacia, colocando em risco a existência da humanidade, na realidade, humanidade responsável pelo seu ressurgimento. Aqui deve-se elogiar o respeito às origens desses icônicos personagens, ampliando o seu background e fazendo uma citação à teoria de Gaia (que toda a biosfera seria um único organismo coletivo) e os titâs seriam uma forma de corrigir as ações nefastas e atualmente essa destruição está sob peso, culpa e responsabilidade do homem, e assim, nós seriamos o mal, e eles, a cura. Podemos dizer que, em paralelo aos seriados japoneses, todo o planeta Terra se tornou uma grande Tóquio.  

 


Viva as referências: "Voila l'Ennemi!" Ghidora pousa ameaçador sob um vulcão em total alusãoa à essa publicação francesa de 1902...

 
Como núcleo principal, temos a típica “família disfuncional, apanhada em algo maior do que ela, tendo a sua união posta à prova”, composta pelo Dr.Mark Russel (Kyle Chandler de  O Lobo de Wall Street, Argo), especialista em comportamento animal e em comunicações a sua ex-esposa Dra. Emma Russel (Vera Farmiga de  Amor Sem Escalas, e Bates Motel) criadores da “Orca”, dispositivo que lhes permite um grau de comunicação com os titâs. Os dois tem o seu relacionamento abalado por uma perda, o que afeta a sua filha Madison (Millie Bobby Brown de Stranger Things) uma geniazinha de 14 anos ou 15 anos, que como toda geniazinha, tem a sua cota de “salvação do dia”. Uma vez Eleven, sempre Eleven... A Dr. Emma Russel será fundamental nessa trama atual. Ela propositadamente se coloca entre a força da natureza e a ciência, posição de difícil equilíbrio. Boa personagem e a lamentar uma corrida desenfreada típica de filmes de ação B norte-americanos (eles adoram isso!! Uff...) Mas não estraga o personagem.
 


O vilão Col. Allan Jonah (Charles Dance) e as "hóspedes" Madison, e sua mãe Dra. Ema Russel (Vera Farmiga)

Aqui temos que apontar a principal falha do filme que é a necessidade de emular a “fórmula Marvel”, no quesito em querer inserir cenas de ação com soldados (para que o público se identifique com personagens humanos talvez) com muitos textos expositivos com os cientistas e, temendo deixar o filme muito sério, diluem o impacto da grandiosidade que desejam com diálogos bobos e piadas idem, tendo o Dr. Rick Stanton (Bradley Whitford de Corra!, The Post - A Guerra Secreta) um cripto-sonógrafo, da Monarch, irritante por suas piadas idiotas, parecendo um personagem de Rick & Morty, sendo um alívio cômico totalmente questionável, desnecessário até, não o personagem mas seu texto. O nerd Dr. Sam Coleman (Thomas Middleditch de Silicon Valley) diretor de tecnologia da Monarch é o elo com o governo americano, apesar de mais contido, não é tão diferente assim... O filme mostra cenas de impacto e portanto há um desejo de criar um apelo a audiência. Mas erram na dose aqui.


A bomba baseada em oxigênio líquido é uma citação ao "Destruidor de Oxigênio" de filme de 1954, que eliminava o monstro original

 

O ponto alto é o núcleo dos personagens japoneses, e aqueles que os rodeiam, excetuando o Stanton, assim, retornando do primeiro filme, o Dr. Ishiro Serizawa (Ken Watanabe de O Último Samurai, A Origem e Godzilla) é o mentor e principal consultor da Monarch e filho de um dos fundadores da agência. Apesar de sua autoridade ele não é o comandante da agência, pois os governos mantém um controle sobre a Monarch. Volta também a Dra. Vivienne Graham (Sally Hawkins de A Forma da Água, Blue Jasmine), paleozoologista da Monarch, e braço direito do Dr. Serizawa, acrescente ainda a Dra. Ilene Chen (Ziyi Zhang (Memórias de uma Gueixa, O Tigre e o Dragão), mitologista e a terceira geração de consultores da Monarch e sua irmã gêmea Dra. Ling. Serizawa e a jovem cientista são muito baseados nos personagens de seriados de monstros e por isso ótimos personagens, pois os japoneses conseguiam transmitir um senso de urgência e seriedade mesmo com monstros de borracha e maquetes de isopor. Esta seriedade nos diálogos e uma dose até exagerada no drama do roteiro é o que fez dos kaijus o que eles são.  

 


O herói- pai de família Dr.Mark Russel (Kyle Chandler): Traumatizado por uma perda decorrente dos monstros...

No núcleo militar, o núcleo humano mais sem graça, com honras se destaca o Almirante da sétima frota americana William Stenz o ator David Strathairn de  Boa Noite e Boa Sorte, Alphas, que tem uma participação pequena mas coerente com as características de um militar e no espírito e clima kaiju (não poderiam ser todos assim?); a Coronel Dane Foster (Aisha Hinds de Além da Escuridão - Star Trek), como a líder do corpo de forças especiais e o oficial Jackson Barnes (O’Shea Jackson Jr. de  Straight Outta Compton – A História do N.W.A.) sendo o” resto da tropa rostos sem nomes, dignos de camisas vermelhas da Star Trek clássica... Hinds consegue manter uma seriedade face ao restante do núcleo militar do filme, exceção o já mencionado almirante, mas apenas dá ordens, não era necessária, para que toda ênfase nos soldados? Bastando o básico de pousar, atacar, correr e só. Sem a necessidade de lhes dar diálogos. Em Star Wars Wedge Antilles entra quase mudo e sai calado e se tornou um dos personagens secundários favoritos da franquia. Tem um personagem militar que poderá entra nesse seleto hall, a 1º tenente Griffin (Elizabeth Ludlow) piloto de um dos V-22 Osprey da Monarch.

 


Salamandra anabolizada:Rodan, o pterodátilo infernal, saído de um vulcão.

 

É claro que para dar graça precisamos de um vilão, aqui representado pelo eco-terrorista Coronel Alan Jonah (Charles Dance de  Game of ThronesO Jogo Da Imitação), que vê vantagem em fazer com que King Ghidorah vença Godzilla na disputa pela supremacia frente aos outros monstros, tornando-se o Alpha dominante do bando. Não faria feio como vilão de James Bond.  

 


Ao contrário do lagartão, King Gidorah tem realmente uma natureza realmente cruel e sente prazer em destruir...

 

Nos ótimos valores de produção destacamos a vigorosa música de Bear McCreary (The Walking Dead, Rua Cloverfield, 10), homenageando o tema de Akira Ifukube, e os figurinos de Louise Mingenbach ( a cine série X-Men e Se Beber, Não Case! ) são funcionais, não tendo grande destaque, coisa diferente do desenho de produção de Scott Chambliss ( Guardiões da Galáxia Vol. 2Além da Escuridão - Star Trek ); que é inventivo, criando ambientes estilosos como a cidade-santuário habitada por Godzilla numa fossa submarina que remete a Lemúria e Atlântida, cheia de construções similares aos estilos gregos e babilônios, com atalhos para vários pontos do mundo pelo leito dos oceanos, entre outros ambientes colossais que ajudam a dar um bom background tanto para o lagartão quanto para os demais monstros sem fugir a suas histórias; a edição de Roger Barton, Richard Pearson e Bob Ducsay procura dosar as cenas de ação com momentos mais intimistas, mas o ritmo se torna arrastado (e olha que é ação quase o tempo todo), o que indica que se a metragem tivesse alguns minutos a menos, teria um formato redondo. 

 


Alpha dominante: King Ghidorah se mostra um oponente à altura na hegemonia entre os monstros...

 
A fotografia de Lawrence Sher (Se Beber, Não Case! e Godzilla) apesar de escura em muitas cenas que convenientemente são noturnas para não ser necessário um custo maior do CGI. Lawrence sabe explorar bem o contraste nas sequências das rajadas nucleares de Godzilla ou da bioluminescência de Mothra, linda por sinal. O design de criaturas é fabuloso agradando a criança que habita qualquer adulto. Que identificará de cara os Kaijus da sua infância e juventude apenas vendo a sombra de um deles como ocorre na maioria. Parabéns à equipe do supervisor de efeitos especiais de Guillaume Rocheron (As Aventuras de Pi, Godzilla ). 


O Dr. Ishiro Serizawa (Ken Watanabe) é uma reformulação do personagem de 1954, fazendo uma participação digna

  Ao final saímos até satisfeitos de Godzilla II: Rei dos Monstros  certos de que se o resultado não é perfeito, pelo menos sentimos que agora não deve haver volta, certos de que pelo menos nas telas, novamente os titâs caminham sobre a Terra, e portanto tal qual as formigas, devemos nos desviar de suas pisadas... Atentos aos pós créditos.


Tal qual Rock Balboa, ele apanha mas bate forte no final...


"E esta noite na UFC, a luta do século! O encontro de dois titâs das telas!!!"

 

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