O perigo da tela azul
por Alexandre César
(Originalmente postado em 02/11/2019)
Antologia animada da Netflix surpreende
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"A Vantagem de Sonnie" |
Uma
vez na época da faculdade ouvi que a expressão “Vinho, Mulheres e
Guerra” seria a versão medieval de “Sexo, Drogas & Rock´n Roll”.
Coisa que me ficou na memória por um bom tempo. Agora, neste tempos
distópicos de internet, onde tudo ou é on-line ou por streaming, surge
agora na Netflix a série cujo título é a materialização deste conceito
em versão sci-fi: Love, Death & Robots (2019), série que se compõe
de uma antologia de curtas metragens nos variados estilos de animação e
abordagem de temas de fantasia, horror e ficção-científica, às vezes na
proposta lembrando um pouco Black Mirror, outra série de formato
antológico também da grade de plataforma, mas enquanto esta tem uma
assumida influência do clássico de Rod Serling Além da Imaginação, esta aqui tem
uma pegada mais colorida e abrangente, indo graças à sua variedade de
estilos visuais e narrativos do visual gamer num CGI 3D, foto-realista e
se levando à sério, até ao tradicional 2D, indo do realista ao mais
cartunesco possível, remetendo às clássicas revistas em quadrinhos Metal
Hurlant , a sua versão americana, a Heavy Metal, e as revistas da
Warren Publishing Company, que moldaram toda uma geração de artistas e
profissionais das artes visuais e áudio-visuais.
Criada
por David Fincher (Seven, Clube da Luta) e Tim Miller (diretor do
primeiro Deadpool e do vindouro Terminator: Dark Fate), nesta 1ª
Temporada temos vários formatos de episódios, de metragem variada,
percorrendo vários conceitos que, se muitos deles já foram abordados
anteriormente em inúmeros filmes, séries, contos, etc... aqui ganham em
concisão e eficiência por justamente estarem numa narrativa de
curta-metragem, não havendo espaço para encheção de linguiça e firulas
narrativas desnecessárias. 15 anos após o lançamento de Animatrix (The
Animatrix), lançada no agora longínquo ano 2003 em cima do tremendo
sucesso da trilogia sci-fi Matrix, uma antologia de animação não era tão
aguardada assim, onde percebe-se a grande liberdade que foi dada a cada
equipe e estúdio responsável por episódio, tendo cada um deles cerca de
5 a 15 minutos de duração, criados por diferentes cineastas ao redor do
mundo, incluindo animadores da Hungria, França, Canadá e Coreia do Sul,
entre outros, em 18 histórias que na sua maioria, não aconselháveis
para menores de 18 anos...
Destaco os episódios “Proteção contra Alienígenas” de Frank Balson, do
Blur Studio, baseado numa história de Steven Lewis que nos mostra
fazendeiros defendendo suas terras de pragas; “Para Além da Fenda de
Áquila” de Leon Bérelle, Dominique Boidin, Rémi Kozyra e Maxime Luère do
Unit Image, baseado numa história de Alastair Reynolds, onde a
tripulação de uma nave fora de curso procura descobrir o seu paradeiro;
“Dia de Pescaria” de Damian Nenow, do Platige Image Studio, baseado numa
história de Joe Lansdale, onde após a quebra de seu carro no deserto,
dois vendedores têm uma “viagem” surreal; “13, Número da Sorte” de
Jerome Chen, do Sony Pictures Imageworks, baseado numa história de Marko
Kloos, que num conto de guerra relata a relação entre uma piloto e a
sua nave; “Ponto Cego” de Vitaliy Sushhko (baseado numa história de sua
autoria), produzido por Elena Volk,onde temos um bando de ciborgues
realizando um roubo num cenário tipo Mad Max; “Era do Gelo” de Tim
Miller, baseado numa história de Michael Swanwick, temos Topher Grace e
Mary Elisabeth Winstead lidando com uma situação doméstica surreal.
Destacam-se como os melhores desta temporada:
“Os
Três Robôs” de Victor Maldonado e Alfredo Torres, do Blow Studio,
baseado numa história de John Scalzi, mostrando a divertida excursão de
três amigos cibernéticos ao planeta Terra, lar de uma extinta
civilização: A humana. Uma pequena obra-prima do humor satírico;
“Boa
caçada” de Oliver Thomas, do Red Dog Culture House baseado numa
história de Ken Liu, onde vemos a improvável amizade do filho de um
caçador de espíritos com uma criatura mágica numa Hong Kong steampunk,
numa pequena obra-prima digna de Katsuhiro Otomo ou Myazaki;
“Ajudinha”
de Jon Yeo, da Axis Studios baseado numa história de Claudine Griggis,
onde uma técnica de manutenção de satélites tem um dilema vital. Ficção -
Científica espacial claustrofóbica, lógica e concisa;
“Zima
Blue” de Robert Valley, do Passion Animation Studios, baseado numa
história de Alastair Reynolds, onde num estilo gráfico descolado um
famoso artista plástico conta à uma repórter sobre as suas origens e o
objetivo de seu trabalho e, refletindo questões como a busca do sentido
da vida, o “eterno retorno” e o valor da arte;
“A
Guerra Secreta” de István Zorkóczy da Digic Pictures, baseado numa
história de David W. Amendola, onde um valoroso pelotão do Exército
Vermelho combate o avanço das trevas nas florestas siberianas durante a
Segunda Guerra Mundial. Se você curte games de guerra, irá adorar.
E
é isso. Falar mais de Love, Death & Robots é cair no diletantismo.
Assistam e concordem ou discordem desse que vos tecla, pois haverá
justificativas para qualquer ponto de vista uma vez que a antologia
prima pelo ecletismo. Seja você humorista, fã de ficção - científica, ou
gamer de Call of Duty haverá o que o satisfaça. Sirvam-se...
E que venha a 2ª Temporada!
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