terça-feira, 12 de abril de 2022

A longeva franquia da garotada - Crítica - Filmes: D. P. A. 3 - Uma Aventura no Fim do Mundo

 

Indo onde nenhum D.P.A. jamais esteve...

por Ronald  Lima

Corre! Vai lá chamar sua tia que vai ter Detetives do Prédio Azul 3 no Cinema.

  



Com honras e méritos, os Detetives do Prédio Azul (D.P.A.) ocupam atualmente o lugar das boas produções para o público infantil, lugar antes ocupado pela Vila Sésamo, Sítio do Pica Pau Amarelo e Castelo Rá-Tim-Bum - esses faziam parte da grade dos programas da televisão, hoje chamada aberta. Os canais de assinatura e de Streaming ocuparam essa vaga, lugares base de DOA, ainda que a partir de 2015 a TV Brasil e TV Cultura também passaram a retransmitir o seriado.

O Gloob - Unidade de produção Infantil do Grupo Globo - surgiu em 2012 com uma programação totalmente voltada para as crianças. O seu carro-chefe foi o seriado Detetives do Prédio Azul ou a sigla D.P.A. com roteiros de Flávia Lins e Silva. Eles são um trio informal de detetives mirins que moram em um prédio muito antigo cheio de mistérios e decidem desvendá-los. Daí surgem inúmeras situações e tramas. Quando  entram em ação, vestem suas capas coloridas de detetives, inspiradas no visual clássico dos detetives noir do cinema. Além disso, vestir capas dá um toque de super-herói também. As crianças fazem uso de vários gagdets, tal qual o Inspetor Bugiganga, do desenho animado dos anos 80, e os equipamentos do cinto de utilidades do Batman, que ficou famoso no seriado clássico das TV de 1966 . Os três se reúnem em um clube secreto dentro do próprio edifício. 
  
A série chega a 16 temporadas e ao 3º filme para o cinema. Na sexta temporada os atores mirins originais, que já tinham crescido, passaram suas capas para um novo trio de detetives e assim, a medida que eles crescem ocorre essa mudança de equipe. É uma ótima idéia essa da mudança dos protagonistas. Não foi surpresa quando a trindade original voltou a aparecer no 1º filme para cinema, lembrando seus dias de D.P.A.


O 1º D.P.A. com os detetives Tom (Caio Manhente), Mila (Letícia Pedro) e Cícero Capim (Cauê Campos) . Sol (Letícia Braga), Bento (Anderson Lima) e Pippo (Pedro Henriques Motta) são os atuais detetives.

Em "Uma Aventura no Fim do Mundo" a trama reforça o tema magia cada vez mais presente nas histórias do D.P.A., principalmente após a vinda da personagem Berenice, - interpretada pela atriz Nicole Orsini -, a implicante aprendiz de feiticeira e tataraneta da vó Berta (Sueli Franco). Berenice faz pouco caso do trio, mas adora participar de suas investigações. Acabou se tornando a 4ª detetive. Até mais ou menos a 6ª temporada, as histórias dos D.P.A. lembravam muito as aventuras infanto-juvenis dos detetives mirins da Coleção Vaga-Lume publicada pela Editora Ática. Esse fator ainda se faz presente, mas o elemento magia chegou pra ficar, com evidente influência de Harry Potter.


Berenice, esnoba, reclama e desdenha, mas, quando uma investigação está para começar, não pensa duas vezes em querer fazer parte da equipe.


A narrativa corre com facilidade e você não precisa ter acompanhado um episódio sequer da série para entender o filme. Contudo, se ficar atento, verá inúmeras incoerências no roteiro. Não que essas estejam ligadas a aventuras anteriores, mas a própria história do filme.... Quando eu assistia aos filmes dos Trapalhões quando criança, não estava ligando muito para sua incoerências de roteiro. Eu queria era vê-los em ação e pronto. Portanto esses buracos não lhe impedirão de curtir a aventura, vá por mim.

A atuação do quarteto infantil é bem legal, principalmente as duas meninas do grupo. Letícia Braga, a Sol, é muito natural com a personagem, para mim a melhor de todo elenco, junto com Ronaldo Reis (o porteiro Severino). Nicole Orsini está cada vez mais à vontade com a aprendiz de feiticeira Berenice. Ela tem um conflito consigo mesma, melhor dizendo, contra o que ela pensa ou vê de si mesma. Isso, porém, foi pouco explorado e poderia ter rendido um ótimo momento para a personagem e a atriz. Afinal, em breve ela assumirá o papel da mais velha em um novo grupo de Detetives, já que o atual trio não deve demorar a ser substituído. De qualquer forma, foi legal a escolha de qual das Berenices apresentadas no filme era a verdadeira e seria interessante se esse fator fosse explorado depois na série (fica a sugestão). Entre os dois garotos, Pedro Henrique, o detetive Pippo, se destaca e, dos quatro, Anderson Lima, o Bento, me parece o mais forçado. 

Nessa aventura outra atriz, que também começou cedo a carreira, está presente. Klara Castanho interpreta a bruxinha má Dunhoca, filha da terrível bruxa Duvíbora, que está a cargo de Alexandra Richter. Klara imprime em sua personagem todas as manias típicas dos adolescentes atuais, como o uso constante das mídias sociais e implicâncias com as decisões da sua mãe, junto aos trejeitos típicos de bruxos que você vê em filmes. Uma disputa contra Berenice soa inevitável.

"Cuidado com a Cuca.... Que a Cuca te pega! Te pega daqui! Te pega de Lá!" Alexandra Richter como Duvíbora. 


Mas afinal do que trata o filme? Severino (Ronaldo Reis) encontra um medalhão sem perceber que o objeto estava próximo a um pequeno avião acidentado em uma ravina, tendo ao fundo uma névoa verde sinistra. Literalmente aos trancos e barrancos ele consegue pegar o medalhão e o espírito de um antigo mago toma posse de seu corpo. O mal não pede licença, vai entrando, não é? 

Para conseguir interpretar dois personagens tão opostos, Ronaldo Reis pediu uma certa reclusão para treinar seu vilão sem que ninguém do elenco infantil acompanhasse no processo. Com essa técnica obteve mais impacto de cena. Seu personagem é o único do elenco que está presente desde a 1ª episódio do D.P.A. O vínculo das crianças com o simpático Severino é grande e isso poderia atrapalhar a sua interpretação, segundo ele.

                               
 Ronaldo Reis: Muita dedicação ao papel


O que parecia um inofensivo acessório é, na verdade, a parte maligna do “Medalhão de Uzur”, que controla e manipula toda a magia existente no Mundo. 


       
"Mas que bonito!! Acho que a Sol vai gostar desse colar, eu o pego fácil, fácil"


Determinados a encontrar a outra parte do medalhão para quebrar o encantamento e libertar Severino, que a cada instante fica pior influenciado pelo Mago Maligno, o Trio... opa! O Quarteto começa a investigação e a busca por pistas. Não podem contar com a ajuda dos magos adultos, Leocádia (Claúdia Netto), Theobaldo (Charles Myara) e a Vovó Berta (Sueli Franco), já que os três foram enfeitiçados pelo Severino Malvado. Para piorar, existem outros também interessados no medalhão... Além do próprio Mago , incorporado no coitado do Severino. São as já mencionadas bruxas Duvíbora e Dunhoca, que estão dispostas a realizar todos os truques para conseguir seus intentos. As duas, além de grandes poderes mágicos, possuem um veículo estilizado e outros adereços digamos mais comuns (ou quase), como um celular em formato de cobra. 

A outra parte do Medalhão pode estar no "Fim do Mundo"... Onde quer que seja esse lugar! Mistério, magia e uma boa dose de intuição de detetive conduzem a turma até um hangar que parece estar a vista de todos, mas não está, o local abriga um avião mágico, com direito a um piloto que bem poderia ser o filho do Carimbador Maluco do Musical da TV Globo Plunct, Plact, Zum, de 1983, e interpretado por Raul Seixas. O avião pertence ao Comandante Téo (o ator Rafael Cardoso). Téo é muito habilidoso, apesar de extremamente míope. Já marquei pra mim o Comandante Téo como filho do Carimbador Maluco, é perfeito!



"Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado se quiser voar" - pra Lua a taxa é alta - pro Sol: identidade... Pra andar no meu Foguete é preciso o meu carimbo dando o sim, sim, sim, sim..." Rafael Cardoso como o aviador Téo




Com as vilãs no encalço e o Mago ali junto com eles (porque o trouxeram?), o quarteto conta com a boa ajuda de Los Inspetores de La Casa Naranja, Pablo, Alejandra e Juanita. É isso mesmo! Grupos como nossos conhecidos Detetives estão em outros cantos do Mundo. 

A produção criou bons efeitos especiais... Não sabia que tínhamos uma rota de dirigíveis por aqui. Os efeitos mágicos são bem convincentes (a exceção de um cipó que prende os adultos, mas tudo bem), o cenário dentro do "Fim do Mundo" conta até com um dragão voador e uma Fantástica Fábrica de Chocolate... Chocolate não, Fantástica Fábrica de Doce de Leite, com um Senhor Wonka e tudo... O Senhor Wonka é certamente a referência para o personagem de Lázaro Ramos e os encantados Dulces de Leche Elergun que ele fabrica.

Entrem!! Quem precisa dos Lumpa Lumpas? Sou um mago poderoso afinal. Lázaro Ramos como Elergun 

Além das mencionadas participações especiais, temos o Prefeito Fortuna, integrante do lendário grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone e fundador do Circo Voador no papel do Mago Baltazar, Guardião do Portal do Fim do Mundo. E Alinne Moraes, em um papel bem curioso que não vou mencionar aqui para não estragar o impacto. 

A canção de entrada intitulada: "Um Barulho, Um Sumiço" tem a voz inconfundível de Ivete Sangalo. Com ela a turma está pronta para seguir em um passeio a bordo de um  “Super Fantástico Balão Mágico".

O que incomoda muito para quem curte cinema é a dificuldade com que a nossa produção teima em não se livrar da linguagem televisiva. Mas o público-alvo infantil está acostumado com a linguagem na série e deve se identificar. As sequências internas ficaram bem, principalmente por receber um enriquecimento com os efeitos. Ainda assim, a linguagem TV e Teatro estão ali não só nos enquadramentos como também na interpretação. A equipe mais uma vez sai dos estúdios e seguiu para outro país. Dessa vez escolheram a região da Patagônia, na Argentina. As externas, porém, não causam o devido impacto necessário para uma tela maior, a não ser pela paisagem em si. As cenas de perseguição e ação ficam sem força... A turma entra correndo para embarcar em um trem com um desespero desproporcional, porque até uma criança de cinco anos conseguiria alcança-lo de tão lento que ele sai da estação. Esse é o grande senão, além do roteiro apresentar incoerências.... A maior delas, se ainda não perceberam, é que o Mago que incorpora no porteiro Severino não tem um nome. Isso importa? De fato sim, mas, como dito acima, o filme flui bem e tudo isso somente será notado pelo seu público-alvo mais tarde, quando os Detetives do Prédio Azul estiverem na memória afetiva dos futuros adultos que hoje curtem suas aventuras. Assim como os da minha geração, que ficaram marcados pelos programas infantis de outrora, ou você acha que eles eram extremamente perfeitos?

Detetives do Prédio Azul 3, empreendimento da Paris Entretenimento com coprodução da Gloob e Globo Filmes, chega 21 de abril aos cinemas.




                            Uau!! Luzes! Ok. Câmera! Ok. e Ação! Bom..


                                              Esse medalhão será meu! Bwahahaha!!

 

 

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