Tristeza não tem fim...?
por Alexandre César
(Originalmente postado em 06/ 04/ 2018)
Segunda temporada mantém o pique mas revela suas fragilidades
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Os Baudelaire e um de seus vários oponentes: a irritante Carmelita Spatz (Kitana Turnbull) a "Shirley Temple do Mal" |
Chegando a sua segunda temporada, Desventuras em Série, série da Netflix, tendo Neil Patrick Harris como o vilão cartunesco Conde Olaf, ávido como um abutre para pôr as mãos na herança dos órfãos Baudelaire, seus (de grau bem afastado) sobrinhos Violet (Malina Weissman) a inventora do quer que necessite, Klaus (Louis Hynes) gênio da absorção de qualquer conhecimento escrito e, Sunny (Presley Smith) bebê (ou agora, uma criancinha! Afinal, ela cresce como toda criança e vai desenvolvendo habilidades!) De dentes afiadíssimos, usuária da “linguagem dos bebês”, que apenas os seus irmãos entendem, se cristaliza no que tem de bom e, no que pode ser o seu fator limitador.
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Olaf (Neil Patrick Harris) e seus disfarces, um cada vez mais estapafúrdio do que o outro, mas que funcionam |
Descobrindo
no internato os “trigêmeos”(um teria morrido no incêndio que destruiu a
sua mansão tal qual a dos Baudelaire...) Isadora e Duncan Quagmire ( e )
, praticamente uma versão espelhada deles mesmos, tendo inclusive
”perdido” seus pais da mesma forma, eles procuram descobrir os mistérios
que cercam as duas famílias e os segredos da misteriosa sociedade secreta, CSC,
que tem como símbolo um olho, da qual seus pais, alguns de seus tutores
(e desafetos), Olaf, Lemony (Patrick Warburton) e seu heroico irmão
Jacques Snicket (Nathan Filion, ótimo) faziam parte.
A nova temporada de 10 capítulos, adapta os 5 livros seguintes da série (Inferno no Colégio Interno, O Elevador Ersatz, A Cidade Sinistra dos Corvos , O Hospital Hostil e O Espetáculo Carnívoro)
da série de 13 livros de mesmo nome escritos por Daniel Handler
(pseudônimo de Lemony Snicket) com Warburton continuando o seu ótimo
trabalho de narrador melancólico que vai narrando os desencontros e as
tragédias dos Baudelaire, sempre nos lembrando, que devemos mudar de
canal se estamos a procura de histórias felizes.
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Lazy Town: estrutura narrativa semelhante |
A
opção inicial de unir os órfãos dinamizou a narrativa, mas, quando se
poderia mudar as interações entre eles, trocando as duplas, o que
ajudaria aos atores a desenvolver ais os personagens, eles logo são
separados, voltando a mesma estrutura já consagrada.
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Os capangas de Olaf e Lemony Snicket (Patrick Warburton): Maior individualização e melhor caracterização |
O
formato de um livro para cada dois episódios apesar de acertada, já
começa em termos narrativos apresentar alguns problemas pelo fator da
repetição estrutural da história que praticamente não muda, a mesma
fórmula dos livros, mas no áudio visual depois da terceira vez vai
ficando cansativo principalmente se você a maratonar (o que foi o nosso
caso) pois continua a sequência: Olaf chega ridiculamente disfarçado
coisa que só as crianças percebem enquanto os adultos idiotas (que não o
reconhecem) caem na sua lábia, ele os atormenta com estratagemas
cruéis, até que os Baudelaire o desmascaram, quando fugirá para preparar
outro golpe. Em alguns momentos me lembrou vagamente a estrutura do seriado Lazy Town, onde o vilão Rob Roten se disfarça, engana todo mundo, o herói Sportacus
salva o dia e no final o disfarce cai e todos o reconhecem. A repetição
é necessária para as crianças pequenas mas começa a se fazer urgente
formas de burlá-la para um público mais amplo.
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Esmé Squalor (Lcy Punch) peruíce a enésima potência e uma queda para a teatralidade que rouba a cena de Olaf em alguns momentos. |
O
correto e “tolo” (para ser gentil...) Sr. Poe (K. Todd Freeman), o
testamenteiro oficial, encarregado de encontrar um lar para as crianças,
bem como os adultos à volta dos pequenos continuam cada vez mais
influenciáveis pela malandragem de Olaf, com consequências catastróficas
para os Baudelaire. Não é difícil de enxergar certa analogia com grupos
políticos e econômicos que manipulam grupos sociais em vários países,
gerando aí um sentimento de angústia pela sina das crianças. Pois aqui
coisas ruins acontecem com pessoas boas, não importa quão honradas e
abnegadas elas sejam...
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Os valentes voluntários: Jacques Snicket (Nathan Filion) e Olivia Caliban (Sara Rue). ótimas adições a trama. |
Temos
outros personagens enriquecendo a narrativa em um ou mais arcos
narrativos como a irritante Carmelita Spats (Kitana Turnbull)
megera-mirim trajada de rosa com visual de Shirley Temple, a abnegada
bibliotecária (Sara Rue) e a perua Esmé Squalor (Lucy Punch) e também um
maior espaço individual dos membros da trupe de Olaf, cada um
desenvolvendo mais as suas características, aproveitando o espaço
narrativo, uma vez que os Baudelaire não apresentaram mudanças
significativas (não que eles sejam ruins, pelo contrário, pois “segurar a
peteca” como eles seguram sem mudanças nos personagens é para
poucos...).
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Klaus, Violet e Sunny: Pé na estrada. O clifhanger de final de temporada promete grandes emoções dignas dos velhos seriados dos anos 30/ 40. Esperemos |
Chega-se à conclusão que se a CSC fosse a Ordem Jedi de Star Wars, Olaf seria o Anakim Skywalker, o membro que sucumbiu para o lado negro...
A direção de Barry Sonnenfeld (A Família Adams e Homens de Preto)
e o trabalho do designer de produção Bo Welch, continuam impecáveis
apesar de tudo, na sua criação de um universo anacrônico e retrô, onde a
tecnologia parece estar entre os anos 20 e 40, mas tanto o Sr. Poe e
esposa (e Olaf na temporada anterior...) dizem preferir ficar em casa à
noite vendo filmes via streaming, ou outras coisas como uma
comunidade afastada que se comporta como os puritanos do séc. XVIII, e
mais adiante um colégio interno tipo anos 30 com um computador digno do
início da década de 70.
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Junto (Tony Hale) o marido covarde e submisso de Ésme Squalor |
Agora como faltam apenas 4 livros, provavelmente a série cainhará para o seu desfecho, uma vez que os atores mirins estão crescendo, é inevitável que se encerre este arco das mazelas dos pobres irmãos Baudelaire, a não ser, que o próprio autor, escreva capítulos a mais expandindo as possibilidades do seu universo ficcional. Tal decisão seria arriscada, mas às vezes o improvável não é sinônimo de impossível.
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"- Se Eu fizer isso errado vai doer um pouquinho, mas seu fizer certo, doerá um poucão! He! He! He!" |
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