sábado, 18 de fevereiro de 2023

Nascido para ser rebelde - In Memorian: Milos Forman

 

Inconformista

por Alexandre César 
(Originalmente postado em 03/ 01/ 2018)

Do leste europeu aos EUA, sempre questionador


O jovem e rebelde Milos Forman na nos anos 60


 

Milos Forman (  Cáslav, Checoslováquia Danbury, Connecticut, EUA) sempre foi um jovem inquieto e questionador o mundo ao seu redor. estivesse em qualquer parte do mundo. A inconformidade sempre foi a principal característica do diretor por trás de clássicos como Um Estranho no Ninho (1975) e Amadeus (1984), apontando as injustiças, os tabus e as contradições do construto social, fosse qual o período histórico para o qual voltasse suas lentes.


Um Estranho no Ninho: Dois rebeldes (Jack Nicholson e Milos Forman) numa parceria vencedora


Nascido Jan Tomas Forman, a 18 de fevereiro de 1932 em Caslav, na então Checoslováquia, ele passou grande parte da infância num internato para órfãos (os pais morreram no campo de concentração de Auschwitz, durante a 2ª Guerra Mundial, quando tinha 9 anos). Estudou na Academia de Artes Cênicas de Praga e o seu primeiro grande sucesso foi Os Amores de uma Loira (1965), indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro.


"Hair" (1979) a adaptação do musical da Broadway. Sucesso moderado


Seguiu-se O Baile dos Bombeiros (1967) e, após refugiar-se em Paris por ocasião da invasão de seu país pelas tropas soviéticas em 1968, fez seu primeiro filme nos Estados Unidos: Procura Insaciável (1971), com a colaboração de Jean-Claude Carrière no argumento. O filme iria defini-lo em Hollywood

 

James Cagney, em "Na Época do Ragtime" (1981)

 

 
A sua tendência para a insubordinação adquiriu uma expressão plena em Um Estranho no Ninho (1975) baseado no romance de Ken Kesey. Autor de referência da contracultura, Kesey colocou por escrito a sua experiência em uma estadia numa instituição psiquiátrica. O livro já tivera uma exemplar adaptação nos palcos, com Kirk Douglas no papel do protagonista Randle Patrick McMurphy. Foi o próprio Douglas quem comprou os direitos da adaptação, reconhecendo que não poderia voltar a fazer a personagem - era preciso alguém mais jovem. Seu filho, Michael Douglas, avançou com a produção e Jack Nicholson brilhou como protagonista, um homem que incutiu a revolução entre os doentes de um hospital psiquiátrico. O filme foi tão bem sucedido que levou os Oscars de Melhor Filme, Diretor, Atriz, Ator e Roteiro Adaptado - algo que não acontecia na história da premiação desde Aconteceu Naquela Noite, de Frank Capra, em 1934. Forman também comandou Hair (1979) e Na Época do Ragtime (1981).

 

"Amadeus" (1984).Tom Hulce que, graças a Forman, ganhou uma indicação ao Oscar

 


Forman retornou à República Checa para rodar Amadeus (1984), adaptação da famosa peça teatral de Peter Shaffer sobre o excêntrico músico clássico austríaco Wolfgang Amadeus Mozart. O filme, estrelado por atores de teatro desconhecidos do grande público, foi outro grande sucesso - mais até que Um Estranho no Ninho. Também fez melhor história no Oscar. Ganhou as estatuetas de Diretor, Filme, Ator (para F. Murray Abraham, como o invejoso Antonio Salieri), Roteiro, Som, Direção de Arte, Figurino e Maquiagem. Depois dele, nunca mais se ouviu o Requiem de Mozart sem aquela estranha sensação de estar escondido entre as notas musicais a gargalhada estridente de Tom Hulce (que também concorreu ao Oscar de melhor ator com seu Mozart) e por um tempo “Salieri” virou sinônimo de falso amigo, invejoso.

 

Mozart e Antonio Salieri (F.Muray Abrahan) em "Amadeus"

 


Amadeus foi um filme que, ao inverso do realismo cru de Um Estranho no Ninho, transpirava sofisticação. Esta biografia de Mozart mantém o espírito rebelde de Forman, que achava entediantes os filmes russos e checos sobre compositores, e queria fazer a sua própria versão - clássica e, ao mesmo tempo contra os clássicos, fugindo ao convencional. 

 

Woddy Harrelson em O Povo contra Larry Flynt (1996): liberdade de expressão

 
Ainda se aventurando em filmes de época, Milos Forman realizou Valmont (1989), com Colin Firth e Jennifer Tilly, numa adaptação de As Ligações Perigosas, o romance clássico de Chorderlos de Laclos, numa saudável competição com a versão de Stephen Frears, lançada no ano anterior. Apesar de não ter sido tão bem recebido, é injusto olhar para a sua versão como inferior à de Frears (lembremos da sua extraordinária Merteuil, interpretada por Annette Bening). 

 

Jim Carrey em "O Mundo de Andy" (1999) numa performance mesmerizante



Posteriormente ainda realizaria obras como O Povo contra Larry Flynt (1996), com Woody Harrelson como o polêmico criador da revista Penthouse, discutindo a questão da liberdade de expressão e seus limites; O Mundo de Andy (1999) com Jim Carrey possuído em sua performance como o comediante Andy Kaufman - personagem que o assombra até hoje. Vide o documentário da Netflix sobre o seu método de trabalho ao compor o personagem. Tem também a sua participação como um padre tcheco em Tenha Fé (2000) de Edward Norton, além de seu filme Sombras de Goya (2006), com Javier Bardem e Nathalie Portman. Sua última participação nas telas foi em Bem Amadas (2011), drama musical de Chritophe Honoré.

 

faleceu em Danbury, Connecticut, nos Estrados Unidos no dia 13 de março aos 86 anos de idade. Segundo sua esposa, Martina Zborilova, sua partida foi calma, e ele estava rodeado por toda sua família e seus amigos mais próximos.

 

Milos Forman (1932 - 2018) Rebeldia bem-sucedida


 


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