Cinzas, brasas, chamas, paixão... - Crítica - Filmes: Do Jeito Que Elas Querem (2018)

 

"Panela velha" é que faz... 

por Alexandre César

(Originalmente postado em 16 /06/ 2018)

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  Comédia foca na sexualidade feminina da melhor idade

 

Diane (Diane Keaton), Vivian (Jane Fonda), Sharon (Candice Bergen) e Carol (Mary Steenburgen) são amigas desde os tempos de juventude na faculdade. Junto com a amizade, elas forjaram um grupo que se reúne uma vez por mês para discutir um livro ecsolhido por uma delas. Foram muitas leituras e trocas de experiências nesta longa convivência, durante a qual cada uma forjou o seu destino.

 

Diane (Diane Keaton),Vivian (Jane Fonda), Sharon (Candice Bergen) e Carol (Mary Steenburgen): "As Coroas Se Divertem"...

Diane casou-se e tornou-se uma mãe dedicada, ficando viúva após 40 anos de casamento. Vivian é uma mega-empresária que gosta de relacionamentos sem compromisso. Sharon é uma juíza federal que está remoendo o divórcio e o fato do seu ex estar com uma “novinha”. Carol agora é dona do próprio restaurante e está com o casamento em baixa após 35 anos de rotina.

 

Arthur (Don Johnson): O "gatinho" que Vivian "pegou" no passado e nunca a esqueceu

Escrito (em parceria com a produtora e roteirista Erica Simms), produzido e dirigido pelo quarentão Bill Holderman, a comédia Do Jeito Que Elas Querem (2018) é ambientada na Califórnia e no Arizona, retratando as rotinas de quatro senhoras de terceira idade, com a vida profissional estável e que são amigas para o que der e vier. Três delas são interpretadas por vencedoras do Oscar (Diane Keaton, Jane Fonda e Mary Steenburgen) e a quarta (Candice Bergen) foi indicada para receber a estatueta. 

 

Sharon (Bergen) e Tom (Ed Begley Jr.), o "ex", ao lado de sua "novinha" Cheryl (Mircea Monroe): A roda da vida roda

Suas vidas viram de cabeça para baixo quando a leitura do mês é o livro Cinquenta Tons de Cinza, da escritora E. L. James (que faz uma rápida ponta no filme). Ele atiça a imaginação das amigas, que estão na faixa etária acima dos 60 anos e um pouco "enferrujadas" na arte da paquera, fazendo-as reviver situações até então esquecidas.  

 

Carol (Mary Steenburgen) e Bruce (Craig T. Nelson): Longo casamento enfrentando os desafios da aposentadoria e a acomodação

  

O novo livro estimula romances e atiça a imaginação delas, fazendo com que elas incentivem uma a outra, confrontando-as com o mundo e seus desafios.Isso acaba por dar um novo gás a suas vidas.

 

Diane (Keaton) e Mitchell (Andy Garcia): ainda pode haver fogo sob as brasas...

Sharon descobre que Tom (Ed Begley Jr.), o ex-marido, e o filho vão noivar no mesmo dia. A auto-suficiente (e “pegadora”) Vivian reencontra Arthur (Don Johnson), um antigo namorado, e dorme - literalmente - com ele e entra em crise (“homens são para ter sexo, não dormir” é o seu mantra). A meiga Carol tenta de todas as formas ir para os “finalmentes” com Bruce (Craig T. Nelson), o marido traumatizado pela aposentadoria. E Diane está sendo enterrada pelas filhas dedicadas (e castradoras) Jill (Alicia Silverstone) e Adrianne (Katie Aselton), que não conseguem imaginar que a mãe ainda possa sentir desejos sexuais - um sentimento que se torna claro quando ela conhece Mitchell (Andy Garcia), um charmoso piloto. 

 

Existem algumas divertidas citações a sensação da literatura e do cinema "50 Tons de Cinza" ao longo do filme

O roteiro faz, de forma eficiente, um retrato de um segmento de mercado: O das mulheres com mais de 60 anos, que, pela revolução dos costumes e avanços da medicina, chegam a esta faixa etária e além, ainda produtivas, independentes e lúcidas. Em decorrência disso, estão ainda dispostas a ter uma vida social, amorosa e sexual plena. Elas rompem com aquele modelo da “vovozinha” da nossa infância. Não é à toa que a Tia May do Homem-Aranha agora é a Marisa Tomei (como alguns chamam: “Tia MILF”)...

 

Steemburgem, a "caçulinha" do grupo

Por isso as aventuras literárias sado-masoquistas de Anastasia e Christian Gray atiçam as fantasias do quarteto, tocando no preconceito latente de nossa sociedade de que a sexualidade dos “velhos” (e das “velhas") é algo engraçado, ridículo ou nojento, não levando em conta a riqueza das histórias de todas as pessoas, de todas as idades. Apesar de dirigido por um homem, não deve nada aos filmes de Nancy Meyers ou Nora Ephron, em seu jeito “mulherzinha” do desenvolvimento leve e divertido da história, mostrando um empoderamento feminino que não agride, com mulheres que dialogam e querem conviver com os homens.

 

Charme grisalho: Diane Keaton, sendo sempre Diane Keaton

É interessante ver as brincadeiras que o roteiro faz com o livro de E. L. James, referenciando cenas com passagens do livro/filme (Johnson é pai da protagonista do filme beseado no livro; a cena do avião de Mitchell parodia a sequência do planador etc). Diferente de outras comédias românticas, os diálogos são apimentados, apresentando alguma safadeza e auto-ironia das atrizes com a idade delas. Fonda está “nos trinques”, num bom trabalho de engenharia; a “cheinha” Bergen está cativante; Steenburgen está no ponto - suas ruginhas não fazem diferença -; e Keaton, no seu típico papel de “Diane Keaton”, está linda com o cabelo platinado/grisalho, e mostra que ainda conquista nossos corações.

 

Bergen, a "cheinha" charmosa e cativante

A Fotografia de Andrew Dunn mostra as estrelas como elas são: não esconde as marcas do tempo, valorizando os registros de suas experiências de vida de forma natural. Não importa o fato de não serem mais “gatinhas” ou pin-ups. A montagem de Priscilla Nedd-Friendly dá um tom tranquilo ao desenvolvimento das tramas das protagonistas, sendo o da relação de Keaton com suas filhas, o mais interessante. 

 

Fonda está em ótima forma, decorrente da vida saudável, exercícios e procedimentos estéticos (e porque não???)

Tópicos ligados a terceira idade - como cirurgia plástica, uma lingerie especial para ajudar a modelar a forma de quem a perdeu e a azulzinha, (o Viagra) - ilustram o “dicionário” de sexo de quem não é mais jovem, mostrando que no meio das cinzas abundam brasas que se bem atiçadas podem reacender o fogo da paixão de forma madura e intensa. 

"-E para o alto e avante, meninas!!!"