Quando o sangue é promessa de vida...
por Alexandre César
(Agradecimentos à Carlos Vinícius Marins pelas observações quanto à trilha sonora)
Charlton Heston faz o que sabe fazer melhor
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O filme é um dos marcos da Ficção-Científica distópica |
Março de 1975. Um conflito de fronteiras entre a União Soviética e a China*1 rapidamente descamba para uma guerra bacteriológica, liberando na atmosfera um vírus que rapidamente se difunde pelo planeta, exterminando a maioria da população humana. Após um acidente quase fatal, e já sentindo os efeitos letais da praga, o médico militar Dr. Robert Neville (Charlton Heston de Planeta dos Macacos) injeta em si mesmo uma vacina experimental (lote 93-B-71), que estava desenvolvendo, salvando-se enquanto a civilização desmorona.
Passados pouco mais de dois anos, em agosto de 1977, Neville passa os seus dias perambulando por uma Los Angeles deserta, buscando os meios de subsistência de que precisa nas lojas semidestruídas de alimentos, nas farmácias e nas butiques de elegância masculina, evitando tropeçar nos cadáveres ressecados que abundam pela cidade. Tendo tudo a sua disposição, quando quiser, das lojas, aos hotéis, ele pode até trocar seu “modesto” Cadillac vermelho por um clássico Mustang azul conversível só porque furou um pneu e ainda tem à sua disposição as salas de cinema, onde ele mesmo próprio projeta os filmes que assiste. A julgar pelo filme, a sua fita favorita é Woodstock *2, filme que já viu tantas vezes que decorou as falas dos entrevistados.
O filme sobre o festival de rock (que não combina com o seu perfil) é especial para ele, por trazer-lhe à lembrança, um mundo que já não existe (“- É.. Já não fazem shows como esse hoje em dia!” diz ele em certa altura..) e assim leva a sua rotina solitária, tomando o cuidado de sempre voltar para a sua casa, uma edificação fortificada ao longo do tempo, pois ao anoitecer, a “Família” (os humanos que não morreram pelo vírus, mas desenvolveram mutações bizarras como pele pálida e olhos sensíveis à luz, além de agressividade e delírios psicóticos), se levanta e sai às ruas para destruir os restos do que seu líder messiânico Mathias (Anthony Zerbe de Matrix Reloaded) considera blasfemo, “resquícios do mundo da roda”, que destruíram o mundo.
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...tocando o "catecismo republicano" para cima dos oponentes |
Mathias vê Neville como a personificação de tudo o que renega e ao longo desses últimos dois anos vem tentando pegá-lo, para assim acabar com “o Mal”, usando o fogo e seus métodos primitivos, apesar das divergências do Irmão Zachary (Lincoln Kilpatrick de A Fortaleza) que preferiria pegar os canhões da Guarda Nacional e explodir a ele e seu “paraíso infernal”, o que Mathias discorda, pois se eles usarem armas ou outras ferramentas que destruíram o mundo, recomeçariam o ciclo de maldição que se abateu sobre eles. Um dia, procurando descobrir o refúgio de Mathias durante o dia, e registrando em seu gravador portátil, anotando em seu diário todos os movimentos dos mutantes, Neville entra numa grande loja de roupas, e cruza o caminho com uma jovem, que foge dele. Após perde-la de vista (e questionando se a sua sanidade está se esvaindo) Neville vai para a adega de um hotel, sendo capturado pela “Família” e após ser julgado por Mathias é condenado à fogueira.
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... e se arruma para jantar (é domingo...) e jogar xadrez, com um imperador romano |
Quando tudo parece perdido, Neville é salvo pelo jovem Dutch (Paul Koslo de Robojox: Os Gladiadores) estudante de medicina e por Lisa (Rosalind Cash de As Aventuras de Buckaroo Banzai)
a jovem que Neville havia encontrado no dia anterior. Dutch lidera um
grupo de jovens e crianças que ainda não apresentaram sintomas da
doença. Lisa tem um irmão mais novo, Richie (Eric Laneuville de Jones, o Faixa Preta)
que está se transformando, e Neville se propõe à curá-lo, fazendo um
soro à partir do seu sangue, pois neste estágio, os seus anticorpos
poderão debelar a doença, e depois, cada pessoa que ele aplicar o soro
se tornará uma fonte de anticorpos, que poderá permitir a recuperação da
humanidade.
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Do lado de fora, "A Família", liderada por Mathias (Anthony Zerbe, ao centro) e o Irmão Zachary (Lincoln Kilpatrick o 2 da dir. para esq.) refletem sobre como agir |
Dirigido por Boris Sagal (Pobre Homem Rico) escrito por John William & Joyce Hooper Corrington (A Batalha do Planeta dos Macacos) a partir do livro de Richard Matheson*3, A Última Esperança da Terra (The Omega Man*4
) de 1971, traz Charlton Heston em sua melhor forma num dos papéis mais
icônicos da sua fase da ficção-científica distópica, fazendo aquilo que
sabe fazer como ninguém: Ser o último bastião do bom senso em meio ao
caos e embora descrente, ser capaz de ousar desafiar um mundo insensato,
pagando o preço que for necessário. Num mundo de COVID-19 e suas mutações, onde líderes populistas apostam num discurso anti-ciência, nunca o velho Heston pareceu tão querido...
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Mathias prefere "purificar" as coisas com fogo... |
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... e Neville revida usando o seu fuzil com visão noturna, abatendo alguns peões |
Heston havia lido o livro durante um vôo, retornando à Los Angeles,
e ficou interessado numa adaptação que modernizasse a história (ele
inclusive desconhecia a versão anterior). Anteriormente, quase na mesma
época, o estúdio britânico Hammer Films havia contemplado uma adaptação do livro de Matheson com o título de “The Night Creatures”, escrita pelo próprio Matheson, mas o projeto foi em última análise, considerado "muito gráfico"*5, e foi sendo adiado, até afundar, e finalmente morrer.
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Numa loja de departamentos, por entre os manequins... |
O filme, produzido por Walter Seltzer (O Senhor da Guerra) foi rodado entre outubro e novembro de 1970, nos finais de semana, quando o centro de Los Angeles fica praticamente deserto*6,
e diferente do livro (e da primeira adaptação), em que Neville era um
homem comum, os roteiristas John William & Joyce Hooper Corrington o
redefiniram como um cientista militar, e um tenente-coronel (pois um
salvador desse porte teria de ser mais do que um capitão, mas não um
coronel ou superior, para ter identificação com o público) e
converteram a trama numa ficção-científica distópica, mudando os seres
vampirescos do livro em mutantes inspirados em A Noite dos Mortos-Vivos (1968) de George A. Romero (que foi inspirado pelo livro) com um outro tipo de caracterização.
Assim,
os mutantes, que todas as noites saem para queimar livros, quadros e
vestígios de progresso, ao invés de simples zumbis animalescos, mudos e
sedentos de sangue, viraram uma seita fanática com uma retórica e
ideologia doentia e absurda (que ecoa com o momento atual) representando
um primado do coletivo sobre o indivíduo, com um pensamento similar às
ideologias totalitárias, que vão do fascismo no “Fora da Família não há nada“, conforme a visão de Mussolini ("Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado") ao pensamento anti-tecnologia, no melhor estilo Pol Pot do Khmer Vermelho
e, como todo herói precisa de um antagonista, criou-se o personagem
Mathias, cujo discurso fundamentalista anti-ciência faria a oposição ao
herói espartano de direita Neville.
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A "Família" mostra a Neville as "marcas" da praga: Albinismo, fotofobia e psicopatia |
Heston, que sondou (sem sucesso) Orson Welles para dirigir o filme, já havia trabalhado com Anthony Zerbe em E O Bravo Ficou Só (1967) de Tom Gries, indicou-o para o papel de Mathias, pois após revê-lo numa peça de teatro, chegou à conclusão que Zerbe tinha o perfil certo para o papel (ele aparece inclusive num flashback como um âncora de noticiário chamado Jonathan Mathias, que já discursava como um evangelista) e assim estava garantida a polarização herói-vilão necessária para termos a tensão que a trama pedia. Escolha certa pois a performance de Zerbe como líder do grupo (que parecem monges medievais) é soberba fazendo o contraponto certo ao estóico e até certo ponto cínico Neville, com a sua “Família”, que remete à “Família Mason”*7 cujos seguidores haviam sido julgados poucos anos antes. Ao final, o roteiro embora lento em boa parte do tempo, não deixa faltar informação alguma para o entendimento da trama.
A escolha de Rosalind Cash para o papel de Lisa*8, diferente da personagem feminina principal da versão anterior, era influenciada pelos filmes Blaxsploitation*9 em voga no período, dando um tom mais contemporâneo e inclusivo*10, da mesma forma que o jeitão meio riponga de Dutch, e sua comunidade de basicamente jovens e crianças, entre elas o menino Tommy (Brian Tochi de A Vingança dos Nerds) ecoando clássicos flower power como o antibelicista O Soldado que Declarou a Paz (1970) de Joseph Sargent e o ecológico Abençoai as Feras e as Crianças (também de 1971) de Stanley Kramer e assim, tínhamos um conjunto familiar onde a figura de Neville assumia tons de autoridade, como um patriarca para aquele grupo, justificando a sua luta contra Mathias e, lhe dando a opção de, ao descobrir onde eles se escondem durante o dia, optar por desistir de matá-los, preferindo ir embora da cidade com Lisa e os outros. Mas, quando tudo dá errado no final, acaba assumindo um papel redentor, na sequência final, que em seus momentos decisivos encerra a simbologia do sacrifício de uma nova geração pela próxima nas figuras do quepe militar (como luta patriótica pela manutenção social), nas crianças e adolescentes (a nova geração em si) e, um indivíduo morto em forma de cruz que simboliza o sacrifício por algo maior, e cujo local está indelevelmente ligado ao imaginário pop*11.
O contraste não deixa de ser curioso, levando em conta que anos depois Heston fora das telas, na vida pública assumiria uma postura conservadora, tornando-se republicano e, anos depois, presidente (de 1998 a 2003) da National Rifle Association, organização que tem como objetivo a promoção dos direitos dos proprietários de armas de fogo. Coisas de Hollywood...
Além das externas, rodadas nos finais de semana de Los Angeles, que permitia amplas panorâmicas passando mesmo a idéia de uma cidade deserta, coisa bem aproveitada pela fotografia de Russel Metty (A Marca da Maldade, Spartacus) que em seu tom narrativo, usa paletas de cor comuns indo pouco além do noturno para a sorrateira “Família” e a claridade da poeira que se assenta para solidão total do herói, acompanha Neville perambulando pela cidade de dia falando com indivíduos imaginários (para combater a solidão), a direção de arte de Art Loel (A História da Humanidade) e Walter M. Simonds (O Mundo Perdido) aliada à decoração de sets de William L Kuehl (O Grande Roubo do Banco) criaram em estúdio a casa/bunker de Neville, conjugando o aspecto funcional da garagem e de seu laboratório com o aconchego de seu quarto e sal principal onde há a grande televisão com outras menores, ligadas à câmeras que o registram de vários ângulos (“- Sou narcisista!” diz para Lisa em certa altura) além do busto de Caius Julius Caesar, com quem joga imaginariamente xadrez. Várias tomadas externas foram feitas em cidades cenográficas*12.
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Satisfeito, Neville se prepara para mudar-se com o grupo para as montanhas |
A caracterização dos personagens feita pelos figurinos de Margo Baxley (Conrack) e Bucky Rous (Amargo Pesadelo) define o aspecto funcional e espartano de Heston em peças como o seu conjunto safari com óculos ray-ban, seu traje de cooper, seu macacão militar nas cenas finais (com sua submetralhadora Smith & Wesson M76) e até no robe de chambre que usa quando vai jantar (“-Hoje é domingo! Domingo eu sempre me arrumo para jantar!!!” diz para o busto de Julius Caesar) diferente dos trajes descolados de Lisa (ela podia pegar a roupa que quisesse em qualquer loja) mesclando estilos indianos, afro, e o jeitão largado de Dutch, meio Easy Ryder, que usa o que achar limpo, o que contrasta com os óculos escuros (para proteger seus olhos da luz) e os mantos negros de Mathias e sua “Família” que remontam à inquisição, sendo mais definidos pelo trabalho do supervisor de maquiagem Gordon Bau (Perseguidor Implacável) e hair stylist de Jean Burt Reily (Inferno na Torre) que deu um aspecto fantasmagórico aos atores, com sua pele albina e cabelos brancos (independente da etnia) com chagas nos rostos e mãos (pois além da mutação, a doença ainda vai matá-los) e os olhos, cujas lentes de contato dão o aspecto de cegos.
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Lisa e Neville se separam para fazer os preparativos da partida... |
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... mas Lisa rapidamente reverte para a contaminação, enquanto Richie procura Mathias |
A crua direção de Sagal (cuja maior parte da carreira foi na TV) sem estilismos ou ousadias, mas sendo direta ao transmitir sua mensagem, mantém a tensão na maioria das cenas, valorizando os monólogos de Heston, que são o ponto alto do filme, (tendo o isolamento e a desesperança como aspectos mais atrativos de sua caracterização como personagem) como na cena em que Neville ouve um telefone tocando no meio da rua e, de repente, vários começam a tocar, ficando ensurdecedor até ele gritar desesperado que “- NÃO HÁ NENHUM TELEFONE TOCANDO!!!” (e tudo fica silencioso) e ele se dá conta que vai anoitecer e que ele está longe de casa, saindo no carro “cantando pneus” o senso de urgência dado pela edição de William H. Ziegler (Festim Diabólico, Minha Bela Dama) nesta cena ainda que essencialmente técnica, é primoroso justamente, por fazer você sentir o perigo de algo que ainda não conhece.
Mas é claro que muito dessa aventura se perderia se não fosse a música de Ron Grainer (Ao Mestre com Carinho, e autor do tema de Doctor Who)
que utiliza arranjos compostos por interpretações extravagantes,
misturando jazz e pop, que inicialmente causa estranheza, pela proposta
incômoda e controversa do enredo, retratando a época e o estado de
espírito jovial dos personagens, resgatando o clássico de Max Steiner “A Summer Place” (popularizada pelo arranjo de Percy Faith) e com temas como o marcante “The Omega Man” cuja canção com dois movimentos até daria um bom tema de série (porque a Netflix os a Amazon Prime Video não pensa nisso?) que até ; ”Surprise Party” que remete à temas similares aos de seriados policiais dos anos 70; “The Spirits Still Linger” que evoca temas similares aos de Enio Morricone dos westerns italianos e dos filmes B dos anos 50; “Zachary Makes His Move”
que como a sequência que se divide entre Neville, descendo ao porão de
seu prédio para ligar o gerador, Lisa, esperando na escuridão, e o Irmão
Zachary, escalando a fachada para surpreendê-los, alterna ora um tom
épico, ora suspense ou horror; similar às multifacetadas ”Neville Crashes Throgh” e “Mathias the Victor”
cada qual com trechos que se expandidos dariam bons temas de westerns,
românticos, de aventura, terror, policial e Blacksploitation e o
jazzístico “Swinging at Neville´s” que daria um bom tema de fundo
de filme de 007. Temas que, se ouvidos dissociados do filme parecem
desconexos, feitos para sublinhar a trama.
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Neville consegue fugir, e leva Lisa e o soro consigo, esperando o nascer do sol, mas Mathias chama Lisa, que hipnotizada é atraída. Neville tenta atirar, mas sua arma trava... |
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...o que Mathias aproveita, acertando-o com uma lança certeiramente |
A produção contou com um investimento de US$ 4.000.000 que retornou US$ 8.720.000, sendo na época de seu lançamento, severamente criticado por seu conteúdo violento, e Rosalind Cash, graças à sua sensível e agressiva interpretação e, sobretudo à sinergia com Heston, recebeu uma indicação ao prêmio Image Award como melhor atriz. Embora o filme não tenha ganhado nenhuma premiação, ainda significou um ponto notável na história do cinema ao longo dos anos, sendo um dos filmes favoritos de Tim Burton*13, e foi posteriormente incluído na lista de 2001 do American Film Intitute dos “100 maiores filmes americanos de tirar o fôlego”, entre 400 filmes avaliados, sendo citado e parodiado na cultura pop em obras como Os Simpsons, e inspirado outras obras*14.
No cômputo final, A Última Esperança Sobre a Terra, embora, como as outras adaptações, fuja da caracterização de Neville e do ponto de virada do livro*15 consegue por seu próprio mérito se manter como um clássico absoluto do gênero, sendo um filme emblemático que reflete as preocupações de sua geração e época conturbada. Parecendo datado aos olhos menos atentos, o filme ainda hoje impressiona pela sua originalidade (coisa rara, ao se tratar de uma refilmagem) sendo obra essencial para qualquer cinéfilo ou apreciador do cinema fantástico de boa qualidade, fazendo ponte com a nossa realidade, com epidemias reais e líderes populistas com discursos de ódio e postura anti-ciência, que ameaçam imergir o país, e o mundo, num futuro mais do que distópico... Cadê você Charlton Heston, quando mais precisamos???
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Ao final, "sangue de Neville tem poder!!!" |
Notas:
*1: O afastamento por questões ideológicas e econômicas entre a China e a União Soviética, agravado pela Revolução Cultural chinesa, causou um acúmulo de tensão entre as duas potências no final dos anos 1960, e ao longo dos 4.380 Km de fronteira comum (onde se encontravam 658.000 soldados soviéticos e 814.000 soldados chineses) e, a partir de 2 de março de 1969, aconteceram combates entre tropas, levando a um estado de quase irromper um conflito nuclear entre os dois lados, onde os Estados Unidos proclamaram adotar uma postura de neutralidade, embora com inclinações para o lado chinês. A situação acalmou-se após a visita do premier soviético Aleksey Kosygin a Pequim, o que levou a cessarem as hostilidades em 11 de setembro de 1969, mas as negociações se arrastaram por muitos anos, só se chegando a um entendimento final em 21 de julho de 2008, quando a atual Federação Russa (sucessora da União Soviética) e China assinaram um tratado definindo suas fronteiras de forma mais satisfatória para ambos os lados. Fonte:Wikipedia
*2: No início do filme, Neville vê um calendário datando março de 1975, mas o cinema local está exibindo Woodstock – 3 Dias de Paz, Amor e Música (1970) - que foi uma grande bilheteria da Warner na época em o filme estava sendo rodado - pelo “terceiro ano seguido” como ele mesmo diz. Para justificar tal anacronismo, devemos deduzir que em 1975, o filme devia estar em reapresentação (e à bastante tempo em cartaz) quando a epidemia se instalou, dizimando toda a população.
*3: Sendo o segundo dos quatro filmes baseados na novela Eu Sou A Lenda ("I Am Legend" ) de 1954, do escritor, ator e roteirista Richard Matheson. O primeiro filme, e a mais fiel adaptação do livro, apesar de algumas falhas, é Mortos que Matam (1964) com Vincent Price, o terceiro foi A Batalha dos Mortos (2007), um mockbuster com Mark Dacascos e a quarta adaptação foi Eu Sou a Lenda (2007) com Will Smith. A Noite dos Mortos-Vivos (1968) de George A. Romero foi também inspirado pelo livro. Curiosamente, algumas cenas de Neville e Lisa "fazendo compras" na L.A. abandonada são como reminiscências na sequência deste filme Despertar dos Mortos (1978). Matheson disse numa entrevista que como o filme era tão distante do livro, isso não o incomodou.
*4: Omega (Ω ou ω) é a última letra do alfabeto Grego. Porque esta posição do alfabeto, é frequentemente usada para denotar o último ou o fim, em contraste com Alpha, a primeira letra no início do alfabeto Grego. No caso do título do filme, Omega Man indica que Robert Neville é o último remanescente humano na Terra.
*5: O que é estranho de se dizer para uma produção da Hammer Films, cujas produções de clássicos de Drácula e Frankenstein entre outros, se caracterizava por um visual gótico rebuscado, com colorido vivo (e sangue beem vermelho), e cenas violentas.
*6: O produtor Walter Seltzer queria originalmente uma locação que parecesse uma área metropolitana abandonada mas isto era muito cara de construir, e por acaso, dirigindo no centro da cidade de Los Angeles num final de semana descobriu que como não havia compradores, as ruas ficavam desertas, e então a maioria das externas foram filmadas nos finais e semana.
*7: O filme foi lançado poucos meses após o julgamento de Charles Manson e seus seguidores, que se autodenominavam “A Família”, cujo mais notório crime do foi o assassinato de Sharon Tate, atriz em ascensão, revelada em O Vale das Bonecas (1967) de Mark Robson e A Dança dos Vampiros (1968) de Roman Polanski, (com quem era casada e de em estava grávida) e dos amigos Jay Sebring, esteticista e cabeleireiro, e o casal Voytek Frykowski e Abigail Folger cujos requintes de crueldade pelos membros do culto causou uma onda de terror na sociedade americana na época, servindo para reforçar o preconceito da sociedade americana contra os hippies e seu modo de vida, e cujo medo de invasão domiciliar serviu de inspiração para Aniversário Macabro (1972) de Wes Craven.
*8: A Warner queria Diahann Carroll (Julia) para papel de Lisa, tendo sido cotada também Judy Pace (Rififi no Harlem). Os roteiristas tiveram a idéia de fazer de uma mulher afro-americana como o interesse amoroso de Neville, porque ainda que o relacionamento inter-racial fosse considerado controverso nos anos 70, no contexto de um mundo em que a humanidade estivesse se tornando extinta, os poucos sobreviventes dificilmente se preocupariam com isso.
*9: Blaxploitation ou Blacksploitation foi um movimento cinematográfico norte-americano que surgiu no início da década de 1970. A palavra é um portmanteau (amálgama) de black ("negro") e explotaition ("exploração"). Os filmes blaxploitation eram protagonizados e realizados por atores e diretores negros e tinham como público-alvo, principalmente, os negros norte-americanos. Algo parecido havia sido testado entre as décadas de 1910 e 1950, eram os chamados race films. Fonte: Wikipedia
*10: Rosalin Cash inicialmente teve dificuldades em contracenar e, fazer sua cena de amor com Charlton Heston pois segundo ela ”Soa estranho transar com Moisés” (personagem bíblico que Heston interpretou em Os Dez Mandamentos). O bloqueio terminou quando ele lhe confessou as dificuldades por que passou ao interpretar Ben- Hur. Outra mostra de ousadia (infelizmente não consolidada) do roteiro é que numa cena deletada, Lisa vai ao cemitério visitar pela última vez o túmulo de seus pais, encontrando uma conhecida da “Família” (Ana Aries de A Invasão das Mulheres Abelha) que está cuidando de uma criança também mutante. Lisa não atira nela, e depois confessa a Neville que está grávida dele.
*11: A fonte onde Neville morre (atingido por uma lança como em Khartoum de 1967, dirigido por Basil Dearden) e, terminando numa posição que remete à Jesus Cristo crucificado, foi colocada no lugar de uma outra fonte, que depois das filmagens foi recolocada no local original tendo esta fonte sido muito usada em produções da Columbia Pictures (A Feiticeira, Jeannie é Um Gênio) sendo mais conhecida como a fonte da abertura do seriado Friends.
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Ontem e hoje: A fachada do prédio usada no filme (foto da esquerda) sofreu poucas mudanças, ao contrário das laterais, tendo agora árvores à sua frente (foto da direita) |
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O esconderijo da "Família", era a sede da polícia de Gothan City |
*12: A fachada da casa/fortaleza usada por Neville ainda se encontra relativamente intacta no Warner Brothers Ranch Park Boulevard (originalmente Columbia Ranch) em Burbank, Califórnia. Ela pode se acessada pelo Google Maps 3D. A fachada fica do lado leste-sudeste. Da mesma forma a rua da cena onde a "Família" anda (e vemos Lisa revelando a sua transformação numa mutante-albina) permanece quase intocada na cidade cenográfica da Warner Brothers, Stage 25, próximo ao prédio com colunas usado como a “colméia” da família, mais para nordeste, cuja fachada fora outrora usada como a delegacia de polícia de Gothan City no seriado Batman de 1966, com Adam West. Veja mais em:
*13: Tim Burton afirmou que este seria um dos filmes que “levaria consigo para uma ilha deserta”. Anos depois ele dirigiria a “reimaginação” de Planeta dos Macacos (2000), com Heston fazendo uma ponta como Zaius, pai do General Thade (Tim Roth), o vilão do filme.
*14: O filme foi parodiado no especial de Halloween da 4ª temporada de Os Simpsons e foi a inspiração para duas séries de comédia da CBC Radio "Steve The First" e "Steve The Second", estreladas por Matt Watts e Mark McKinney. Cada série era sobre um preguiçoso (o segundo, sendo filho do primeiro), chamado para salvar o mundo depois de um desastre.
*15: Tanto A Última Esperança da Terra quanto as outras adaptações, diferem do livro, ao retratarem Neville como um cientista talentoso, e três delas, mostrando-o encontrar uma cura e a passando adiante. As adaptações diferem do romance por definir os eventos três anos após o desastre, em vez de acontecer “no intervalo de” três anos, e também são definidas “em um futuro próximo”, alguns anos após o lançamento do filme, enquanto o romance se passa 20 anos após a data de publicação, e principalmente, ignorando a grande reviravolta que representa o clímax da novela de Matheson, pois em ambos os filmes o cientista Robert Neville é apresentado como um virtuoso e inquestionável herói. No livro, entretanto, em determinado momento, sabemos que quem causa mortes por onde passa é o próprio Neville, aqui, um homem comum. É ele na verdade o grande vilão. Ele é uma lenda para os vampiros, o “Bicho-Papão” deles, como vemos no final do livro:
“Robert Neville olhou para o novo povo sobre a Terra. Sabia que não pertencia àquela gente, sabia que, como os vampiros, ele era o anátema, o terror a ser destruído. E abruptamente, outra idéia nascia, divertindo-o, apesar da dor. Uma gargalhada partiu de sua garganta. Virou-se, apoiando as costas na parede enquanto engolia as pílulas. O circulo se fechava e se reiniciava, pensou sentindo a letargia final tomar conta de seu corpo. Um novo terror nascia com sua morte, uma nova superstição se instalava na fortaleza da eternidade. Eu sou a lenda.”
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