quarta-feira, 10 de junho de 2020

X-Elsa! - Crítica - Filmes: Frozen II (2019)

 

E nasce uma heroína!

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 14/ 12/ 2019)


Elsa e Anna mostram o seu valor... 



No início, o pai de Elsa e Anna lhes conta uma história que terá ligação com a trama principal



Elsa, tenta aparentar normalidade para Anna e seus amigos, sem muito sucesso


De todos os personagens recentes da Disney relacionados ao universo de princesas, Elsa e Jasmine sejam as mais impactantes por mostrar independência a vários ícones antes tão caros ao próprio ”Modo de ser Disney”. Frozen: Uma Aventura Congelante (2013) mostrou que a princesa / rainha Elsa não precisava de mais nada do que si mesma para ser feliz, sem a necessidade de atrelar a sua vida a namoros e muito menos casamento para seguir com a sua própria vida. É claro que viver sozinha não é lá tão legal assim, e o amor devotado de sua irmã mais nova Anna consegue comover a reclusa e poderosa princesa levando-a compartilhar a sua vida com aqueles que lhe são caros.



Olaf, o boneco de neve vivo: Existencialismo e colocações ecológicas
 
Seis anos depois do eventos do primeiro filme, e o inverno está chegando (argh!!! desculpe a piada...) no Reino de Arendelle que prospera alegremente. As irmãs Elsa (Taryn Spilman) e Anna (Gabi Porto) agora são jovens mulheres enfrentando as mudanças do amadurecimento. A agora rainha Elsa, procura descobrir a origem e natureza de seus poderes, e sua irmã Anna está vivenciando com seu amado Kristoff (Raphael Rosatto) a necessidade de dar um passo adiante em seu relacionamento, e Olaf (Fábio Porchat) o boneco de neve, e Sven, a rena... são Olaf, o boneco de neve e Sven, a rena ora! Apesar de o boneco de neve vivenciar uma divertidíssima fase existencialista, questionando o sentido de tudo e a rena estar mais feliz com o seu papel nas coisas. Mas, a única que realmente continua se questionando é Elsa, que agora ouve uma voz, similar a um canto de sereia, que a chama para ir além do que conhece.


As lembranças da infância das irmãs, junto à mãe é um dos pilares de sua união


Dirigido por Chris Buck (Tarzan, Tá Dando Onda) e Jennifer Lee (roteirista de Frozen: Uma Aventura Congelante, Uma Dobra no Tempo, Zootopia) Frozen II (2019) expande o reino de Arendelle com elegância, humor e bastante emoção numa nova aventura que irá agradar bastante os fãs e o público que não conhece Elsa, Anna, Olaf e cia. que embarcam numa nova jornada nas profundezas da floresta, cruzando com uma tribo chamada Northuldra, que divide uma terra amaldiçoada com soldados de Arendelle – presos dentro da floresta encantada por uma densa e inescapável neblina. Ao descobrir que ambos os grupos entraram em conflito por mais de três décadas, Elsa jura libertá-los desse cárcere e, ajudar seu próprio povo e descobrir a verdade sobre o mistério que insiste em assombrar sua família, e seu reino.


Vovô Pabbie aconselha as irmãs a embarcarem numa jornada de auto-conhecimento

 
O roteiro de Jennifer Lee, Chris Buck (que assinam a história), Marc Smith (Frozen: Febre Congelante) e dos músicos Kristen Anderson-Lopez & Robert Lopez acerta ao mostrar a sinceridade da união das irmãs e reformulando os convencionalismos do panteão Disney ao revisitar o clássico A Rainha do Gelo de Hans Christian Andersen (influência mais do que óbvia, com elementos obscuros, infiltrados nas mazelas dos conflitos e dos medos humanos de forma simples e descomunal) fugindo de pedantismos melodramáticos, sendo fluida a maneira como os arcos dos personagens principais se espalham numa variedade infinita de gêneros, convergindo para um ponto em comum.
 


A ambientação é um espetáculo à parte, atestando o avanço tecnológico do estúdio
 o avanço tecnológico do estúdio...
 
 
O longa inicia mostrando Elsa e Anna ainda crianças, ouvindo uma história do pai sobre quando ele ainda era príncipe de Arendelle. Ele conta às meninas a história de uma visita à floresta dos elementos, onde um acontecimento inesperado teria provocado a separação dos habitantes da cidade com os quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água. Esta revelação ajudará Elsa a compreender a origem de seus poderes, pois ela demonstra um poder construto compararável ao do Lanterna Verde (e sem anel, basta ela querer!!!) Mas... Como ela realmente adquiriu isso?


A salamandra (elemental do fogo). Um dos futuros bonequinhos de sucesso


 A história vai aprofundando as perguntas que ficaram sem respostas no primeiro filme e, sem medo de mergulhar de cabeça em lendas, magias e laços partidos, trazendo flashbacks e se propondo a solucionar questões que, antes, haviam sido estabelecidas simplesmente como fatos concretos, banais e rotineiros, mas seguindo um caminho de amadurecimento, tanto da produção (que é belíssima, atestando os avanços tecnológicos da animação aliados à uma impecável direção de arte que emula em mais de uma vez imagens de clássicos do estúdio) quanto de suas personagens, pois Anna, tem que encarar a sua excessiva preocupação com a irmã mais velha, e mesmo tentando deixá-la livre, seu temor por sua segurança faz com que a rainha nem sempre faça o que gostaria de fazer, mostrando como aqueles que nos amam podem acabar nos segurando sem querer; Olaff na sua trilha de questionamento ao mencionar sempre que “- A água têm memória!!!” remete a preocupações contemporâneas quanto à biodiversidade; Kristoff luta com suas inseguranças quanto ao pedir a mão de Anna em casamento, tendo um hilário número musical (com as renas) que emula clipes de rock romântico clássicos dos anos 80/90 assumindo ao final um papel que embora não seja de protagonismo, mostrando uma masculinidade cordial construtiva e colaborativa. Ele não diz “- Eu faço!!!”
mas sim  “- Do que você precisa?” e colabora para Anna salvar o dia.


As brumas sempre escondem mistérios...

E temos Elsa, que viveu até agora o conflito entre ficar em Arendelle ou usufruir 100% de seus poderes, pois no primeiro filme, ela canta que jamais voltaria para o reino, mas, ela cede em prol da felicidade de todos (como acontece em vários núcleos familiares...) sedo atraída por espíritos da natureza que, de alguma maneira, explicam a origem de seus poderes, de natureza elemental.
 


Kristoff e Sven tem, além dos momentos cômicos, o seu momento heróico, e o aproveitam bem

 
Ao Atingir a plenitude de seus poderes e mudar o seu visual (afinal a Disney precisa vendar para as garotinhas alguns milhões de trajes novos da personagem...) Elza cria uma “roupa de super-heroína” que não destoaria nada na Marvel ou na DC (afinal,no fundo ela é uma Rainha Branca com os poderes do Homem de Gelo) e outro mérito do roteiro é enfatizar a necessidade de se assumir os erros passados, principalmente para que se possam corrigir as injustiças cometidas e fazer o que é certo, ao invés de manter mentiras cômodas, bonitas e convenientes mas que “ferram” a todos, como negar o aquecimento global...


Um antigo segredo repercute no presente de Arendelle e força a encarar os erros do passado


A montagem de Jeff Draheim (Moana: Um Mar de Aventuras, Operação Big Hero ) dá dinamismo ao desenrolar da história, dando um bom ritmo que não cansa, mesmo nos momentos mais reflexivos e alternando o peso da narrativa nos momentos de ação e de humor, seja com as tiradas de Olaf ou as idas e vindas de Kristoff com Anna.
 
A música de Christophe Beck (Homem-Formiga e a VespaFrozen: Uma Aventura Congelante) é eficiente, sendo o tema “Into the Unknown” que embala os questionamentos de Elsa e talvez ela não faça tanto sucesso quanto “Let It Go“, mas, se no primeiro filme ela amadurece na frente do público ao criar seu castelo de gelo, aqui ela se liberta de tudo o que a atrapalhava, tornando-se uma mulher completa, que finalmente encontrou seu lugar no mundo e uma forma de conciliar sua felicidade com a convivência em família e sem precisar se atrelar a um homem para isso! Motivo mais do que provável para os fundamentalistas “denegrirem” a personagem ( “afinal mulher que não faz questão de se atrelar em um homem é sapatão!” diria uma certa líder política...). Ela passou por um dobrado para chegar até a sua plenitude, mas ao final valeu a pena sofrer por um momento tão bonito ao final, e se até agora ela não encontrou ninguém, não é motivo para chorar pois ser feliz é estar de bem com si mesmo, esteja só ou acompanhada, e isto Elsa está!


Poder é bom, mas às vezes não é suficiente...


Ao final, embora não precisasse ter sido feito pois o filme original era auto-contido, Frozen II sabe se assumir como sequência sem pretensões de superar o original mas sabendo complementá-lo sabiamente, além de oficializar que a Disney tem agora duas super-heroínas (o universo de Os Incríveis não conta, pois é muito mais da Pixar): No live-action a Malévola, e na animação, Elsa, que não faz feio comparada com qualquer Vingador ou X-Men...
 
Agora, para poder haver alguma continuação, terão de desencavar um VILÃO (ou VILÃ ) mesmo, para fazer frente à destemida Rainha do Gelo...


" -Vai encarar palerma? "

 

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