quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Um bom "Adeus" - Crítica - Séries: Justiceiro – 2ª Temporada

 

 

A volta da Tormenta...

 
por Alexandre César
(Originalmente postado em 09/ 11/ 2019 ) 

Série segue mostrando potencial em sua despedida

 

De pé, Frank Castle (Jon Bernthal) em sua grande estreia na segunda temporada de "Demolidor".

 

Tendo sido lançado na segunda temporada de Demolidor, o confronto físico e ideológico entre o Homem Sem Medo e Frank Castle, abordou tanto as diferenças na metodologia dos dois vigilantes, pois era patente que o violento ex-militar era um homem levado ao extremo pela morte de sua família. Após essa ótima introdução, que foi levada adiante na sua primeira e boa temporada solo (apesar dos pesares) a série manteve o hype do personagem e garantiu a sua visibilidade, mas agora, encontrando-se no olho do furação da transição da Marvel para o serviço próprio de streaming da Disney, e o cancelamento das séries da sua parceria com a Netflix ( Punho de Ferro, Luke Cage e Demolidor) a segunda temporada de O Justiceiro consegue, embora longa e irregular, levantar algumas discussões ainda que se arrisque menos em comparação com a anterior mas, demonstra no meio de sua brutalidade e (olhe só!) um toque de família e de redenção que poderia trilhar um caminho próprio, longe das preocupações típicas dos universos compartilhados.  
 
 
Relação de tons paternais: Frank e Amy Bendix (Giorgia Whigham) garota caçada por caras da pesada
 
 
Dando continuidade aos eventos do final da primeira temporada, acompanhamos Frank Castle (Jon Bernthal, talhado para o papel) — assumindo a identidade de Pete Castiglione, por causa do acordo que fez com a Segurança Nacional — viajando de cidade em cidade, na paz e tranquilidade e, até se dando bem com as mulheres!!! Mas, o Karma de um bom samaritano (coisa que a série sempre aponta...), sempre acaba por encontrá-lo, e assim, após uma briga no banheiro de um bar, Castle está de volta a ser o rolo compressor que estamos acostumados a ver, como se ele existisse apenas por estar preso em um ciclo de violência. Ele quer sair, mas simplesmente não sabe como funcionar fora disso, porque realmente gosta do que faz, e aqui, ao proteger uma menina, Amy Bendix (Giorgia Whigham, bela e talentosa), envolvida com um misterioso segredo, e caçada por John Pilgrim (Josh Stewart) que a julgar por suas marcas de tatuagens removidas era um neo-nazista que tornou-se pregador (parecendo saído de uma HQ de Garth Ennis) com sua fala mansa e olhar sereno mas, matador habilidoso e sutilmente ameaçador, cujas motivações e os objetivos de suas ações só são faladas nos episódios finais. Tal qual na última temporada de Demolidor, este arco tem uma crítica implícita às manobras da extrema-direita americana, no seu ranço fundamentalista que procura ganhar os corações e as mentes usando a Bíblia tanto para orientação, quanto para justificativa para atos vis e criminosos (familiar não?).
 
 
De máscara, Billy Russo (Ben Barnes) "segue" na "terapia" com a Dra. Krista Dumont (Floriana Lima, de costas)
 
 
Paralelo a isso, Billy Russo (Ben Barnes, bom mas nada acima da média), após sair do coma e ter sido submetido à cirurgias de reconstrução facial, gasta boa parte da temporada tentando resgatar a sua memória e remoendo pensamentos repetitivos em sessões de terapia (oficiais e não-oficiais) com a doutora Krista Dumont (Floriana Lima, funcional), tentando dar um sentido às suas memórias falhas e sentimentos confusos. 
 
 
Muito Billy Russo, e quase nenhum "Retalho"...
 
 
Embora estas conversas tenham a função de desenvolver o psicológico perturbado do antagonista ao ponto de deixá-lo suscetível aos seus impulsos e frustrações, demonstrando o seu psiquismo fragmentado, elas raramente envolvem o público, adiando a realização do personagem, frustrando os espectadores casuais com sua falta de atividade, e o público-alvo, cujas expectativas construídas pela primeira temporada, que prometia pela eficiente história de origem, que o personagem se tornaria o vilão Retalho (das HQs, e do filme de 2008, interpretado por Dominic West). Aqui, a sua construção falha por ser mais vítima do que bandido, e a maquiagem simplista mostra um homem fraturado, perigoso, mas não o vilão famoso por intimidar qualquer um à primeira vista. Na verdade, vemos a continuação da sua história de origem, que impede o personagem de assumir o seu posto maligno de vilão cruel e inescrupuloso, sendo a dinâmica de Billy Russo com Frank Castle e com Dinah Madani (Amber Rose Revah, contida) semelhante à da primeira temporada, gerando certas comparações quanto à ideologia entre Castle e Russo (até pela alternância de seus momentos atuais com as lembranças de sua brodagen passada) de forma bem arrastada. 
 
 
Momento Garth Ennis": John Pilgrim (Josh Stewart) o fundamentalista pistoleiro-pregador.
 
 
Usa-se bastante o recurso dos flashbacks para construir a narrativa, tal qual na primeira temporada, mostrando a juventude dos personagens e , em alguns episódios, o recurso de duas linhas temporais apresentadas ao mesmo tempo. Outro recurso narrativo usado é o das alucinações e sonhos para explicar várias das motivações e medos de seus protagonistas, sejam ele Billy, Pilgrim, Madani ou Dumont, mostrando os seus transtornos com algum fato passado, tendo esse recurso sido usado com Castle na temporada anterior, que trouxe diversos episódios do personagem sonhando com sua família.  
 
 
Ranço: Dinah Madani (Amber Rose Revah) ainda não perdoou Russo por ter lhe dado um tiro na cabeça
 
 
 
Felizmente, há espaço para o retorno de caras conhecidas deste universo, como a assistente da Nelson & Murdock Karen Page (Deborah Ann Woll), o detetive Brett Mahoney (Royce Johnson) e é claro,Turk Barret (Rob Morgan) que nos quadrinhos conhecemos como “Tucão” , o marginal que vende armas em Hell´s Kitchen e no Harlem, sendo presença comum a todos os seriados Marvel/Netflix quando alguém precisa comprar um “berro”... 


Momento "Não somos lindos???": Billy Russo e seu bando de ex-combatentes.

 
Como sempre, a falha crônica das séries da Marvel/Netflix se faz presente, que é o esticamento da trama desta temporada, que não precisava seguir ao longo de treze episódios, com adiposidades narrativas em vários dos arcos, arrastando os relacionamentos entre os personagens, que poderiam ser mais compactos, como a demora de Russo em passar à ação, as conversas da Agente Madani com o detetive Mahoney, que apenas servem para manter a pressão sentida pela personagem, pelo conflito entre seus ideais e a sua lealdade ao serviço, além de escolhas sem motivações de certos personagens para dar uma continuidade forçada ao enredo como a da Dra. Krista Dumont, cujas ações em relação ao seu paciente Russo, demoram a ser justificadas e... são forçadas.
 
 
Surpresa: Frank no início até "se dá bem" com uma gata, Beth Quinn (Alexa Davalos) mas por pouco tempo...
 
 
Neste conjunto ainda temos o erro de não deixar um vilão em destaque, fazendo um “revezamento” entre os vilões Billie Russo e John Pilgrin, o que as vezes confunde sobre quem é o “real vilão” desta segunda temporada, ficando Pilgrin por quase todo o tempo, como "O Grande Vilão Que Está Caçando" Castle e Amy, servindo de desculpa para mostrar ao espectador que existe uma "ameaça maior" que Russo e sua gangue de veteranos, o que permite que a dupla esteja sempre fugindo e, garantindo o cardápio de homens para o Justiceiro matar, além do fato de que é difícil acreditar que alguém, fosse por amizade, amor ou princípios, largaria tudo para seguir a missão de outro, caso de Curtis Hoyle (Jason R. Moore) o amigo veterano de Castle, ou de Krista Dumont, e é interessante notar que ninguém tem porteiro ou interfone, pela facilidade com que todo mundo vai entrando na casa dos outros sem avisar, recurso comum em muitas séries da TV aberta... 
 
 
Cada qual no seu quadrado: Curtis Hoyle (Jason R. Moore), Madani e Castle falam, discutem, falam...
 
 
Apesar dos pesares, Jon Bernthal faz quase tudo se dissipar quando está em cena, trazendo uma abordagem interessante de seu personagem, como já foi explorada nas HQs, mas ainda bem diferente do que o cinema e a TV já retratou, onde o personagem sempre foi visto como uma máquina de matar unicamente motivada pela dor e o luto.  
 
 
Karen Page (Deborah Ann Woll) dá as caras para matar saudades
 
 
Essa mudança, ainda que sutil, é refletida claramente em sua construção de personagem, aproveitando as cenas de luta, onde bate, apanha, sangra aos litros, (colecionando cicatrizes que poderiam fazê-lo ser confundido com o “Monstro de Frankenstein”) ou sabendo como manter um efeito ameaçador até nos momentos mais calmos e tranquilos bebendo cerveja num bar. Ao fim, notamos que de um jeito ou de outro Frank Castle é o centro das conversas e ações de todos os personagens, tal qual as limalhas de ferro são atraídas por um ímã...  
 
 
Brodagem: Frank e Curtis fazem uma dupla similar às de muitos seriados policiais
 
 
Com a onda recente de cancelamentos das séries Marvel/Netflix, a temporada termina com o sensação de história fechada, sugerindo um possível cancelamento em breve. Mas neste caso, a Netflix produziu um final funcional para Frank Castle (ou como Pilgrin o chama, citando a Bíblia: a Tormenta) pois como ele é o personagem mais genérico deste universo de séries, tendo a sua origem nos quadrinhos sido inspirada por filmes como Desejo de Matar (1974) de Michael Winner e Perseguidor Implacável (1972) de Don Siegel, talvez se pudesse reestruturar a série de maneira a funcionar à parte do Universo Cinematográfico Marvel sem a necessidade de interação com personagens ou elementos de outras séries e assim não levá-lo para o serviço de streaming da Disney, onde o casca-grossa” Castle destoaria beeemm da proposta colorida do cardápio de títulos da empresa do rato... 


"- SEUS NERDS DE #%**&+@!!! VENHAM ME ENCARAR SE VOCÊS SÃO HOMENS!!!! VENHAM QUE EU ESTOURO AS SUAS FUÇAS!!!"

 
 

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