Vinda no rastro de Star Wars, série tinha personalidade
por Alexandre César
(Originalmente publicado em 19/05/2020)
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O piloto exibido nos cinemas brasileiros em 1979, dublado e em sensurround, apresentava diferenças quanto à série..
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“Existem
aqueles que creem que a vida aqui começou lá em cima, bem distante no
universo, com tribos de humanos que podem ter sido os antepassados dos
egípcios, ou dos toltecas ou dos maias, seres que podem ser irmãos do
homem e que até agora lutam para sobreviver em algum lugar muito além
daqui." assim começava a narrativa em off de abertura do piloto de Galactica: Astronave de Combate, dirigido por Richard A. Colla e Alan J. Levi (não creditado) exibido nos cinema brasileiros em 1979, em Sensurround*1 e dublado, recurso na época quase sempre usado apenas para as animações da Disney e
alguns filmes ocasionais, a maioria dirigido ao público
infanto-juvenil, mas agora estendido para uma parcela crescente do
público que tem preguiça de ler legendas... Aqui, abertura da série
original:
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Grande
família: Jolly (Tony Swartz), Boomer (Herbert Jefferson Jr.), Sheba
(Anne Lockhart), Comandante Adama (Lorne Greene), Athena (Maren Jensen),
Apolo (Richard Hatch),Cassiopeia (Laurette Spang) e Starbuck (Dirk
Benedict)... |
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Papai orgulhoso: Athena e Apolo, os filhos de Adama, sempre estavam ao lado de seu líder, apoiando-o...
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Em 1977 Guerra nas Estrelas (atualmente Star Wars)
tomou de assalto as bilheterias mundiais resgatando a ficção científica
como gênero de sucesso financeiro e se tornando o carro-chefe da
cultura pop e deixando todos os outros produtores ávidos de conseguir
uma fatia desse filão rentável escancarado pela aventura escapista de
George Lucas.
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Design clássico: A Galactica tinha cerca de 1.445 ms de comprimento, sendo maior do que um Star Destroyer de "Star Wars"... . |
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A frota fugitiva: Aqui (excetuando as naves 15 e 16) vemos a relação das principais naves do comboio fugitivo, liderado pela Galactica... |
A partir de 1978 começaram a pulular nas telas do cinema (e da TV) inúmeros caça-níqueis com “um
rapaz com uma arma de raios na mão e uma moça bonita vestindo malha
metalizada na outra, enfrentando alienígenas borrachosos!” numa
mostra do quanto a indústria cultural precisa reduzir tudo a uma
fórmula estereotipada... no meio desta leva, um dos poucos produtos que
conseguiu ganhar alguma personalidade foi Battlestar Galactica (na época Galactica Astronave de Combate) criada pelo veterano Glen A. Larson (Magnum, A Super-Máquina, Esquadrão Classe A) que lançada pela rede de TV americana ABC e, calcada livremente na premissa do livro Eram os Deuses Astronautas? de
Erich Von Däniken, aludia às velhas civilizações dos egípcios, dos
maias, dos incas, dos toltecas e outras tantas, que teriam sido
descendentes de seres espaciais.
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Conde Baltar (John Collicos) eliminado no piloto mas poupado na série regular, pois
para ela funcionar, era necessário haver um vilão relacionável para se odiar...
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O
enredo da série sugeria que esses seres humanos "que até hoje lutam
pela sobrevivência em algum lugar do espaço" seriam os antepassados
dessas antigas civilizações, sendo os nossos “deuses astronautas”,
criando assim uma cosmogonia com grande influência da doutrina mórmon*2 .
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Starbuck & Apolo: As aventuras da dupla cairam no gosto do público graças à química entre os intérpretes...
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Em sua época a série original era inovadora por causa da grandiosidade de seus valores de produção, com dois nomes oriundos de Star Wars: Ralph McQuarrie como artista conceitual e John Dikstra com a sua empresa Apogee Inc. nos
efeitos visuais revolucionou o seu uso em seriados para a televisão,
além da evolução dos enredos dos filmes em geral e dos filmes para a
televisão em particular, especialmente dos filmes de ficção científica.
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Os "Vipers" coloniais, tinham um design tão marcante quanto o os "X-Wings" da saga passada numa galáxia "muito muito distante..."
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Os "Raiders" cilônios voavam em formação de três tal qual os "Zeros" japoneses na Segunda Guerra Mundial...
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É
claro que como se tratava de uma série de TV haviam limitações
orçamentárias, portanto as sequências espaciais da Galactica e do
lançamento e manobra dos caças, os “Vipers” coloniais, bem como de seus
rivais, os “Raiders” cilônios, eram reaproveitadas ad nauseum,
ficando depois de um tempo para o espectador mais atento, previsível o
resultado da sequências, pois sempre víamos por exemplo uma saraivada de
raios se aproximando de uma formação de três “raiders” (como os zeros
da Marinha Imperial Japonesa), destruindo o do meio e cada veículo
remanescente ia para um lado. Às vezes essa sequência (e outras...) era
repetida com o filme rebatido, de forma a sequência ir no sentido
contrário. Aqui temos duas compilação de algumas destas sequências
usadas e reusadas várias vezes:
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ocasionalmente surgiam alienígenas borrachosos ao longo da série... |
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Os "Anjos do Espaço" eram a atração do cassino do piloto da série...
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Segundo a série, e posteriormente em produtos derivados, em um passado longínquo, Kobol, o
planeta originário da raça humana não pôde mais suportar a vida e os
humanos, organizados em treze tribos, tiveram um grande êxodo, indo a
procurar um outro planeta em algum outro sistema solar. Milhares de anos
depois de estarem instalados em novas colônias, com a evolução, a
tecnologia avançou muito e a inteligência artificial usada pelos humanos
ganhou status de forma de vida e consciência própria, se revoltando contra seus criadores por achar que estes não davam valor à sua existência*3.
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Um raider chega a uma nave-base cilônia. As sequências de vôo e de combate das naves eram tão repetidas (às vezes rebatidas) que se tornavam previsíveis...
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A Nave-Base Cilônia. O design sofisticado das naves fêz muito sucesso entre os montadores de kits...
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Os
cilônios se valeram de plano de combinarem uma conferência de paz e
colocaram em prática a execução de um plano de destruição em massa (um
ataque maciço digno de Pearl Harbor)
que reduziu a humanidade a alguns poucos milhares de sobreviventes e
sem alternativas, esses sobreviventes decidiram, sob a liderança do
Comandante Adama (Lorne Greene de Bonanza),
montar uma frota com todas as naves disponíveis, liderada pela
Galactica, e partir à procura por uma lendária décima terceira tribo,
que havia deixado Kobol antes das outras doze tribos e assim se dirigem "a um planeta brilhante conhecido como Terra".
e aqui vemos uma relação dos kits baseados nas naves da série e de outras produções de Glen A. Larson:
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"Missão Galactica: O Ataque dos Cylons" foi o segundo filme feito à partir do seriado que passou aqui nos cinemas...
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Auxiliado
pelo seu filho Apolo (Richard Hatch), e os pilotos Starbuck (Dirk
Benedict), Boomer (Herbert Jefferson Jr.) e Jolly (Tony Swartz), o
Coronel Tigh (Terry Carter) e as tenentes Athena (Maren Jensen) e Sheba
(Anne Lockhart) que enfrentavam as tramóias do traidor Conde Baltar
(John Collicos), aliado dos cilônios, que no piloto da série era
executado, mas ao se efetivar a série a sequência foi reeditada, indo
para o final do segundo episódio, poupando-o para ser o vilão recorrente
e, introduzia-se o seu traiçoeiro braço-direito Lúcifer (no original, a
voz de Jonathan Harris, o Dr. Smith de Perdidos no Espaço).
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O centurião cilônio clássico: Mix de um "Darth Vader" ciclope com uma torradeira cromada...
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Ao
longo da série, a frota improvisada ia de planeta em planeta à procura
da Terra, com os cilônios em seu encalço. Apolo relacionava-se com a
viúva Serina (Jane Seymour), adotando o seu filho Boxey (Noah Hataway)
após a morte desta. Como curiosidade tínhamos Muffit, o cachorro-robô, que era interpretado por uma chimpanzé amestrada metida na fantasia (!?!).
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O coronel Tigh (Terry Carter) era o braço-direito de Adama, cuja lealdade era inquestionável...
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"Eram os deuses.." Os capacetes dos pilotos lembravam as esfinges egípcias...
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A
série devido a seu alto custo teve uma única temporada (21 episódios de
40 minutos), sendo os seus três primeiros episódios editados no piloto
que foi veiculado nos cinemas brasileiros em 1979 no sistema Sensurround, e mais tarde viria outro, Missão Galactica: O Ataque dos Cylons (1979) de Vince Edwards, Christian I. Nyby II foi um telefilme compilando os episódios “The Living Legend: Parts 1 & 2” e “Fire in Space” mostrando entre outras coisas o encontro da Galactica com a Pegasus uma
astronave que escapou do grande ataque, comandada pelo Comandante Cain
(Loyd Bridges, inspirando-se no Gen. George Patton) que inclusive era o
antigo caso de Cassiopeia (Laurette Spang) quando ela era “socializadora” (cortesã) e interesse romântico de Starbuck.
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Boxley (Noah Hataway) e "Muffit", o cachorro-robô, que na verdade...
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...era uma chinpamzé! Aqui, Muffit sem a máscara... |
Também foi exibido nos cinemas brasileiros, por volta de 1980. Outro momento marcante foram os episódios 13 e 14 (“The Battle of the Gods -Parts 1 & 2”) em
que surge a carismática e “milagrosa” figura do Conde Iblis (Patrick
Mac Nee de Os Vingadores que fazia a voz do líder supremo cilônio) que propõe-se a levar
os homens a um caminho de trevas (o demônio?), sendo confrontado pelos
Seraphs, seres luminosos (anjos?) ou ainda os episódios 17 (“Greetings from Earth”) e 19 (“Experiment in Terra”) em que encontram um sistema que tem um desenvolvimento paralelo similar ao da terra da guerra fria havendo duas facções: Os Terrans (algo como a OTAN) e a Aliança Oriental (similar ao Pacto de Varsóvia) tendo no episódio 17 a presença de Lloyd Bochner, figurinha fácil na TV da época fazendo o Comandante Leiter da Aliança Oriental, numa paródia de oficial soviético e no episódio 19 os Seraphs aparecem de novo para orientar Starbuck a como lidar com a crise das duas facções.
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O comandante da Pegasus, Cain (Loyd Bridges) era o "senhor que ajudava" Cassiopeia (Laurette Spang) na época de sseu antigo ofício...
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Vermelhos do espaço: Comandante Leiter (Loyd Bochner) da "Aliança Oriental"...
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No ano seguinte (1979) Larson reutilizaria muitos dos cenários, adereços e figurinos da série em Buck Rogers, uma outra série espacial, de custo mais barato, sem grandes pretensões épicas, com um espírito mas escapista e camp, mas isto, é uma outra história, e uma outra resenha...
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Mais adiante o Conde Iblis (Patrick MacNee) o "Anjo Caído", aparece para tentar os humanos nos episódios 14 e 15...
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Os "Seraphs", seres mais evoluídos tinham uma nave modelo "Cidade dos Anjos"...
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O sucesso da série e dos telefilmes levou a se pensar numa nova série, resultando no ano de 1980 em Galactica 1980 (10
episódios) apostava numa nova geração de personagens, tendo do elenco
original somente Lorne Greene (Adama) e Herbert Jefferson Jr. (Boomer)
quando a Galactica finalmente chegava à Terra, mas na época
contemporânea (os anos 80) por motivos de restrições orçamentárias e
tentando atrair o público infantil havia os “escoteiros espaciais” grupo de criancinhas típicas de “comercial de margarina” que
tinham super-habilidades, devido à gravidade da Terra ser bem menor do
que a de seus mundos natais, repetindo o tipo de sequências que já
estávamos cansados de ver em O Homem de Seis Milhões de Dólares. Obviamente fracassou após o seu melhor episódio*4,
levando os remanescentes das 13 colônias para uma longa hibernação, até
que no início do novo milênio Ronald D. Moore repaginar o conceito para
o mundo pós-11 de setembro...  |
Os Seraphs, seriam uma raça que se originou dos humanos primordiais, tendo evoluído para um patamer quase divino...
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Com bastante sucesso, a série foi veiculada no Brasil em 1981, na TV Globo e posteriormente outras emissoras como Record, Manchete, e depois Telecine Classic Movie onde
nos acostumamos a ver o agora clássico final de quase todo o episódio
(que por coincidência não deixa de ter semelhança com a cena final de Star Wars - Episódio V: O Império Contra-ataca de 1980) víamos a frota desmantelada de naves sobreviventes tendo a fanfarra inspirada de Stu Phillips e a voz em off do Comandante Adama, como se estivesse escrevendo num diário de bordo: "Fugindo
da tirania cilônia, a ultima Astronave de combate, Galactica, lidera
uma frota fugitiva, numa busca solitária, de um planeta brilhante,
chamado... Terra."
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A série de 1980 "flopou" direto por decisões equivocadas... |
Notas:
*1: Um sistema desenvolvido pela Universal que
usava caixas de som extras distribuídas pela sala na premissa de
propiciar uma maior imersão do espectador, mas aqui pela péssima
manutenção das nossas salas resultava na maioria das vezes em apenas uma
maior barulheira nas cenas de explosões e impactos, sem haver realmente
qualquer modulação sonora significativa. O som apenas ficava MUITO mais
alto do que o normal nas salas e incomodava mais do que proporcionar
imersão. A Universal o usou nos filmes Terremoto (1974), Midway (1976), Terror na Montanha-Russa (1977) além do piloto da série.
*2: Glen A. Larson (1937 - 2014), roteirista, produtor e criador da série, era membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e pegou a cosmologia de sua igreja, mixando-a com as teorias dos “Deuses-Astronautas” e as mitologias egípcia, suméria, etc... colocando tudo no liquidificador no melhor estilo George Lucas e a transformou na série.
*3: Segundo
o universo expandido da série os Cilônios eram andróides ciclopes
remanescentes de uma antiga civilização de répteis, e acreditavam em um
Deus único (monoteísmo) e os Humanos em vários (politeísmo), causando
conflito entre suas culturas.
*4: O episódio A Volta de Starbuck é considerado pelo fandon o
melhor desta segunda série ao retornar Dirk Benedict como o piloto que
, ilhado num planeta junto com um cilônio desgarrado, vivenciando uma
relação parecida com a do filme Inimigo Meu (1985) de Wolfgang Petersen, onde descobrimos que ele é o pai do Dr. Zee (James Patrick Stuart) um híbrido de humano com uma seraph, a raça de seres alienígenas humanóides mais evoluídos.
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"- Ao seu comando!" |
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