sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Superficial, raso e divertido – Monster Hunter (2021)

 

 


 

O meio, a mensagem e os monstros

por Alexandre César

Adaptação de game faz o que pode mas...

 

o videogame original da Capcom onde um adolescente é transportado para um mundo habitado por monstros
  

Em uma operação num país árido não determinado (provavelmente Afeganistão ou arredores), um destacamento de uma Operação de Segurança Conjunta da ONU liderado pela Ranger tenente Artemis (Mila Jovovich da cine série Resident Evil) procura uma outra unidade desaparecida, e passa por certos pilares misteriosos que desencadeiam uma igualmente misteriosa tempestade que os transporta para a realidade de um mundo desértico onde encontram os restos da unidade desaparecida e descobrem da pior maneira que este mundo é habitado por monstros colossais, os diablos, que rapidamente dizima a unidade, restando à sobrevivente Artemis tentar sobreviver, auxiliada por um guerreiro (Tony Jaa da cine série Ong-bak, esbanjando carisma) a este ambiente hostil e misterioso.

 

O filme, com Mila Jovovich e Tony Jaa dividindo o protagonismo

Dirigido por Paul W.S.Anderson (O Enigma do Horizonte), Monster Hunter (2021) é a materialização daquela frase tão comum á franquias “O meio é a mensagem”* do filósofo canadense Marshall McLuhan, tendo um fiapo de história extendido diga-se de passagem de forma competente, adaptando o videogame da Capcom, tal qual ele já havia feito anteriormente na rentável franquia Resident Evil (protagonizada por sua musa e esposa Jovovich) que encheu os cofres da Screen Gems, braço da Sony Pictures especializada em adaptações de games, animes e filmes B de terror. Anderson não é Orson Welles, mas felizmente não é Michael Bay, conseguindo dar uma boa narrativa e junto com a bela fotografia de Glen MacPherson (Os Três Mosqueteiros de 2011) que captura bem a aridez e o aspecto alienígena das locações da África do Sul e Namíbia, e a edição de Doobie White (Polar) que não abusa dos cortes, nos permitindo situar a geografia da ação de forma quase natural. 

 

Uma unidade de soldados que "combatem o terror" acaba indo parar numa realidade paralela onde o homem é a presa

O roteiro, escrito por Anderson em parceria com Karame Fujioka (criador do game) cria uma personagem não-existente no game para ser a protagonista tal ele fez com Resident Evil, cuja heroína Alice também é inexistente, mas como ele “precisa arrumar um papel para a patroa, senão tem briga em casa... aceitem gamers! E o resultado é bem satisfatório, com um protagonismo bem equilibrado entre Jovovich e Jaa, que têm uma boa química em cena. 

 

Logo os soldados descobrem o seu lugar na cadeia alimentar

Como todo o filme-pipoca assumido, seus personagens são basicamente bi ou unidimensionais, cumprindo a sua função narrativa e desaparecendo conforme a necessidade do roteiro como os integrantes do destacamento comandado por Artemis, que se compõe de T.I. (o cantor de hip-hop Lincoln de Homem-Formiga e a Vespa), Marshall (Diego Boneta de O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio), Dash (Meagan Good de Shazam!), Steeler (Josh Helman de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido) e Axe (Jin Au-Yeung de Velozes & Furiosos 6) na realidade, figurantes de luxo, que são logo descartados de forma pontual no melhor estilo camisas vermelhas da Star Trek clássica, com a função de mostrar que o perigo é real e que “a protagonista pode morrer!” (Tá! Acredita nessa...) e Artemis na primeira metade do filme coleciona cicatrizes, hematomas e luxações até ficar mais familiarizada com este novo ambiente, suficientemente articulada com o personagem de Jaa, (o Hunter do game, que até tem mais destaque do que Jovovich) quando ela muda o seu visual de militar para guerreira, graças ao bom trabalho de figurino de Danielle Knox (Spell) e ela então entra no “Modo Alice chutadora de bundas” a que estamos acostumados a ver Mila Jovovich...
 
 
Logo, a Ten. Artemis entra em "modo Resident Evil" e começa à detonar...

 
Do lado dos personagens do mundo dos monstros acontece o mesmo, sendo os membros da tropa do Almirante (Ron Perlman, o eterno Hellboy, encarregado dos diálogos expositivos para explicar o resto da história que não foi mostrado em tela) igualmente genéricos, tendo um pequenino destaque Handler (Hirona Yamazaki de Startup Girls) e a brasileira Nanda Costa (cujas falas de sua personagem Lea são em espanhol) e Palico, o amigato (captura de movimento de Aaron Beelner de O Mistério do Relógio na Parede) que é bizarramente simpático. Os outros são basicamente rostos sem nome...
 
Genéricos: O Almirante (Ron Perlman), Handler (Hirona Yamazaki) e  Palico (Aaron Beelner) são apenas o que o roteiro pede deles

 

 A música de Paul Haslinger (Pearl) é funcional e genérica, não tendo nenhuma passagem que realmente se destaque, coisa que o desenho de produção de Edward Thomas (Escape Room), a direção de arte de Guy Potegieter (Outlander), Cecelia van Straten (Mandela: O Caminho para a Liberdade) e Mark Walker (Tomb Raider: A Origem) e a decoração de cenários de Tracy Perkins (Sinking of the Lusitania: Terror at Sea) são mais felizes, criando elementos fantásticos como o galeão do Almirante que cruza os mares de areia do deserto, as armas desproporcionais de seus protagonistas, e espaços como as cavernas das aranhas gigantes ou o oásis que surge no terceiro ato, que além de remeter as diversas fases de um game, com suas devidas dificuldades, nos fazem querer saber mais sobre esse universo, por incutir um senso de curiosidade.

Tony Jaa com sua habilidade acrobática e suas "flechas-buscapé" é um show à parte

Ao final Monster Hunter é basicamente um “mais-do-mesmo” assumido que se sustenta de forma tênue graças à química entre os seus protagonistas, nos seus ótimos valores de produção, destacando-se os efeitos visuais das empresas Mr. X, Black Ginger, Stereo D, que criam monstros com uma textura palpável, como os diablos, os apceros (semelhantes à anquilossauros) e os rathalos, cuja semelhança à dragões é comparável aos de Game of Thrones, e cujo gancho inserido na metade de seu ato final já deixa claro a intenção de criar uma franquia. Agora, se o público-alvo gamer e não-gamer vai morder a isca, isto é uma outra história. 

Próxima fase!!!

 

Anh? Dracarys?!?

 

Notas:

* : Já levantamos essa questão das franquias nas críticas de Jurassic World - Reino Ameaçado e Missão: Imposível - Efeito Fallout que enquanto estiverem funcionando como produto de consumo, não importará se o filme é bom, se os atores estão empenhados ou apenas pagando o aluguel, se o roteiro tem afinal algum sentido, o público vai fazer fila para ver o filme, cabendo aos produtores saber dosar o mais-do-mesmo com valores autorais que permitam à mesma se reinventar e continuar rentável.


"- Não sei quanto à você guerreiro, mas não vou me enfiar nesse buraco fedido!!!"


 

 

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