O meio, a mensagem e os monstros
por Alexandre César
Adaptação de game faz o que pode mas...
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o videogame original da Capcom onde um adolescente é transportado para um mundo habitado por monstros |
Em uma operação num país árido não determinado (provavelmente Afeganistão ou arredores), um destacamento de uma Operação de Segurança Conjunta da ONU liderado pela Ranger tenente Artemis (Mila Jovovich da cine série Resident Evil) procura uma outra unidade desaparecida, e passa por certos pilares misteriosos que desencadeiam uma igualmente misteriosa tempestade que os transporta para a realidade de um mundo desértico onde encontram os restos da unidade desaparecida e descobrem da pior maneira que este mundo é habitado por monstros colossais, os diablos, que rapidamente dizima a unidade, restando à sobrevivente Artemis tentar sobreviver, auxiliada por um guerreiro (Tony Jaa da cine série Ong-bak, esbanjando carisma) a este ambiente hostil e misterioso.
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O filme, com Mila Jovovich e Tony Jaa dividindo o protagonismo |
Dirigido por Paul W.S.Anderson (O Enigma do Horizonte), Monster Hunter (2021) é a materialização daquela frase tão comum á franquias “O meio é a mensagem”* do filósofo canadense Marshall McLuhan, tendo um fiapo de história extendido diga-se de passagem de forma competente, adaptando o videogame da Capcom, tal qual ele já havia feito anteriormente na rentável franquia Resident Evil (protagonizada por sua musa e esposa Jovovich) que encheu os cofres da Screen Gems, braço da Sony Pictures especializada em adaptações de games, animes e filmes B de terror. Anderson não é Orson Welles, mas felizmente não é Michael Bay, conseguindo dar uma boa narrativa e junto com a bela fotografia de Glen MacPherson (Os Três Mosqueteiros de 2011) que captura bem a aridez e o aspecto alienígena das locações da África do Sul e Namíbia, e a edição de Doobie White (Polar) que não abusa dos cortes, nos permitindo situar a geografia da ação de forma quase natural.
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Uma unidade de soldados que "combatem o terror" acaba indo parar numa realidade paralela onde o homem é a presa |
O roteiro, escrito por Anderson em parceria com Karame Fujioka (criador do game) cria uma personagem não-existente no game para ser a protagonista tal ele fez com Resident Evil, cuja heroína Alice também é inexistente, mas como ele “precisa arrumar um papel para a patroa, senão tem briga em casa... aceitem gamers! E o resultado é bem satisfatório, com um protagonismo bem equilibrado entre Jovovich e Jaa, que têm uma boa química em cena.
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Logo os soldados descobrem o seu lugar na cadeia alimentar |
A música de Paul Haslinger (Pearl) é funcional e genérica, não tendo nenhuma passagem que realmente se destaque, coisa que o desenho de produção de Edward Thomas (Escape Room), a direção de arte de Guy Potegieter (Outlander), Cecelia van Straten (Mandela: O Caminho para a Liberdade) e Mark Walker (Tomb Raider: A Origem) e a decoração de cenários de Tracy Perkins (Sinking of the Lusitania: Terror at Sea) são mais felizes, criando elementos fantásticos como o galeão do Almirante que cruza os mares de areia do deserto, as armas desproporcionais de seus protagonistas, e espaços como as cavernas das aranhas gigantes ou o oásis que surge no terceiro ato, que além de remeter as diversas fases de um game, com suas devidas dificuldades, nos fazem querer saber mais sobre esse universo, por incutir um senso de curiosidade.
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Tony Jaa com sua habilidade acrobática e suas "flechas-buscapé" é um show à parte |
Ao final Monster Hunter é basicamente um “mais-do-mesmo” assumido que se sustenta de forma tênue graças à química entre os seus protagonistas, nos seus ótimos valores de produção, destacando-se os efeitos visuais das empresas Mr. X, Black Ginger, Stereo D, que criam monstros com uma textura palpável, como os diablos, os apceros (semelhantes à anquilossauros) e os rathalos, cuja semelhança à dragões é comparável aos de Game of Thrones, e cujo gancho inserido na metade de seu ato final já deixa claro a intenção de criar uma franquia. Agora, se o público-alvo gamer e não-gamer vai morder a isca, isto é uma outra história.
Próxima fase!!!
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Anh? Dracarys?!? |
Notas:
* : Já levantamos essa questão das franquias nas críticas de Jurassic World - Reino Ameaçado e Missão: Imposível - Efeito Fallout que enquanto estiverem funcionando como produto de consumo, não importará se o filme é bom, se os atores estão empenhados ou apenas pagando o aluguel, se o roteiro tem afinal algum sentido, o público vai fazer fila para ver o filme, cabendo aos produtores saber dosar o mais-do-mesmo com valores autorais que permitam à mesma se reinventar e continuar rentável.
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"- Não sei quanto à você guerreiro, mas não vou me enfiar nesse buraco fedido!!!" |
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