Poderosamente cativante
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"O Invencível" (1949) Sua primeira indicação ao Oscar num filme em que sua experiência de boxeador o ajudou a compor o personagem... |
“- As pessoas vivem falando sobre os velhos tempos. Elas dizem que os filmes antigos eram melhores, que os velhos atores eram muito melhores. Mas eu não penso assim. Tudo o que eu posso dizer sobre os velhos tempos é que eles passaram.”
Kirk Douglas
Com
Richard Benedict no ainda atual "A Montanha dos Sete Abutres" (1951)
drama sobre a manipulação da imprensa quanto aos fatos para conseguir
audiência.
Dono de um “Olhar Penetrante” capaz de intimidar Dwayne Jhonson quando furioso e de um sorriso largo, luminoso que aliado a uma covinha indecente no queixo dava um tom cafajeste que cativava a plateia como poucos, capaz de ir do drama existencial mais denso passando para a comédia sutil e a mais escapista aventura rocambolesca. Boxeador, veterano de guerra, ator, cineasta, filantropo, ícone de uma época já quase esquecida, Issur Danielovitch, ou melhor, Kirk Douglas (⭐ Cidade de Amsterdam do Estado de Nova York, 9 de dezembro de 1916 – ✝ Beverly Hills, 5 de fevereiro de 2020) foi uma das últimas estrelas vivas da “Era de Ouro” do cinema Norte-americano. Douglas é amplamente considerado um dos melhores atores da história do cinema, sendo pai dos atores Michael Douglas e Eric Douglas e do produtor Joel Douglas.
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Com Lana Turner em "Assim Estava Escrito" (1952) drama sobre os bastidores de Hollywood e sua segunda indicação. |
O jovem Issur Danielovitch nasceu na localidade de Amsterdam, no estado de Nova York, filho de Bryna ("Bertha") Sanglel e Herschel ("Harry") Danielovitch, um homem de negócios. Seus pais eram imigrantes judeus originários da localidade de Chavusy (Mahilou/Mogilev), do então Império Russo, hoje Bielorrússia. No lar a família comunicava-se em iídiche. O seu tio paterno, que tinha anteriormente emigrado. usava o sobrenome "Demsky”, que a família de Douglas logo adotou após terem se estabelecido nos Estados Unidos. Entretanto, os seus pais acabaram por adotar legalmente os nomes Harry e Bertha.
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Com Silvana Mangano em "Ulysses" (1954) divertida aventura épica baseada em Homero e na mitologia grega |
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Com Walt Disney durante as filmagens de "20.000 Léguas Submarinas"(1954) |
Na St. Lawrance University, Douglas (ainda conhecido como “Izzy Demsky”) fez parte da liga de boxe. Para tentar conseguir uma bolsa de estudos, entrou para um grupo de atuação onde logo seus talentos se tornaram conhecidos - recebeu a bolsa junto com uma jovem atriz: Lauren Bacall.
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No pungente drama de guerra "Glória Feita de Sangue" (1957) que alavancou a carreira do jovem diretor Stanley Kubrick |
Trocou legalmente o nome de "Izzy Demsky" para "Kirk Douglas" antes de ingressar na Marinha dos Estados Unidos no início da Segunda Guerra Mundial em 1941 servindo até o seu fim, em 1945. Depois da guerra, voltou para Nova York e começou a atuar na rádio e em comerciais de televisão, enquanto tentava entrar para a Broadway.
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Como o torturado Vincent Van Gogh em "Sede de Viver" (1956) sua terceira indicação. Anthony Quinn levou a de Ator coadjuvante como Paul Gauguin |
Douglas recebeu a ajuda da atriz e colega Lauren Bacall ao obter seu primeiro papel no filme O Tempo Não Apaga (1946) de Lewis Milestone, estrelado por Barbara Stanwyck. O resto foi decorrência e depois, história...
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Como Doc Holliday em "Sem Lei e Sem Alma" (1957) de John Sturges, com o amigo Burt Lancaster como Wyatt Earp |
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Como o bárbaro Einar em "Vikings, Os Conquistadores" (1958) repetindo a parceria com o diretor Richard Fleischer |
Ao longo de sua vasta filmografia Kirk Douglas recebeu apenas três indicações ao Oscar em em O Invencível (1949) de Mark Robson, Assim Estava Escrito (1952) de Vincent Minelli e Sede de Viver (1956) de Vincent Minnelli e George Cukor (não creditado). Neste último interpretou o pintor Vincent Van Gogh.
Duelo de interpretações: novamente com Anthonny Quinn e com o diretor John Sturges no Western "Duelo de Titâs" (1959)
Nas décadas de 1950 e 60 protagonizou vários filmes clássicos, como o repórter oportunista e manipulador de A Montanha dos Sete Abutres (1951) de Billy Wilder, o herói mitológico Ulysses (1954) de Mario Camerini, com Silvana Mangano, 20.000 Léguas Submarinas (1954) de Richard Fleischer, produção dos Estúdios Disney com a sua interpretação do marinheiro Ned Land em contraponto à magnífica atuação de James Mason como Capitão Nemo, O íntegro Coronel Dax do drama de guerra Glória Feita de Sangue (1957) de Stanley Kubrick e ainda o selvagem Einar em Vikings, Os Conquistadores (1958) de Richard Fleischer, com Tony Curtis, Janet Leigh e Ernest Borgnine.
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Com Woody Strode em "Spartacus" (1960) repetindo a parceria com Stanley Kubrick e desafiando a "Lista Negra" ao contratar e creditar o roteirista Dalton Trumbo, proscrito por suas posições políticas |
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De novo com o amigo Burt Lancaster no tenso suspense político "Sete Dias de Maio", (1964) com roteiro de Rod Serling (Além da Imaginação"). |
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Com Ann-Margret e um Arnold Schwarzenneger "Pré-Conan" em "Cactus Jack, o Vilão" (1979) clássico cartunesco da Sessão da Tarde |
Fez ainda nesta década entre vários outros filmes, a comédia criminal A Lista de Adrian Messenger (1963) de John Huston e o thriler político Sete Dias de Maio (1964) de John Frankenheimer, com Burt Lancaster e Fredric Marsh, foi um dos rostos do elenco estelar de Paris Está em Chamas?(1966) de René Clément ou o western Gigantes em Luta (1967) de Burt Kennedy com John Wayne, entre muitos outros filmes.
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Papa-Anjo: Com a novinha Farrah Fawcett em "Saturno 3" (1980) Ficção científica de visual sofisticado |
Douglas comprou os direitos de Um Estranho no Ninho na década de 1960, cuja peça de Dale Wasserman (baseada no livro de Ken Kesey) já havia interpretado e queria fazê-la nas telas, mas o tempo passou e como ficou velho para o papel de R.P. McMurphy, acabou por ceder os direitos ao seu filho Michael, que produziu o filme com reconhecido sucesso, dirigido por Milos Forman em 1975, que ganhou os Oscars de melhor filme (para os produtores Saul Zaentz e Michael Douglas), diretor (Mlos Forman), roteiro adaptado (Lawrence Hauben e Bo Goldman), ator (Jack Nicholson) e atriz (Louise Fletcher).
Como o comandante de um porta-aviões moderno que viaja no tempo em "O Nimitz Retorna ao Inferno" (1980)
Marcou ainda presença no imaginário pop em filmes como em filmes como O Farol do Fim do Mundo (1971) de Kevin Billington, baseado num conto de Jules Verne com Yul Brynner e Samantha Eggar, o “Bezão” apocalíptico Exterminação 2000 (1977) de Alberto de Martino, o horror A Fúria (1978) de Brian De Palma, com John Cassavetes e Amy Irving, a comédia Cactus Jack, o Vilão (1979) de Hal Needhan, com Arnold Schwarzennegger e Ann-Margret (parodiando o desenho Bom-Bom & Mau-Mau), na ficção científica com Saturno 3 (1980) de Stanly Donnen, com Farrah Fawcet e Harvey Keitel, e O Nimitz Volta ao Inferno (1980) de Don Taylor, com Martin Sheen e Katharine Ross,e o divertido Os Últimos Durões (1986) de Jeff Kanew com Burt Lancaster e Charles Durning, além de participações em filmes para a TV e séries como Contos da Cripta, O Toque de Um Anjo e Os Simpsons.
Despedida: Última parceria com o amigão Burt Lancaster na comédia "Os Últimos Durões" (1986)
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No episódio "Yellow" de "Contos da Cripta" (1991), uma paródia de "Glória Feita de Sangue" |
Nos últimos anos, Kirk Douglas ainda provaria ser na vida um “autêntico durão” ao escapar com o corpo todo queimado de um acidente de helicóptero (no qual os dois outros tripulantes morreram) e ainda sofreria um derrame em 1996, que afetou parcialmente sua capacidade de fala. Tratando-se com uma fonoaudióloga, ele conseguiu discursar como agradecimento à premiação do Oscar honorário de 1996 o qual recebeu pelas mãos de Steven Spielberg por "50 anos de modelo moral e criativo para a comunidade cinematográfica.". De uma lenda para outra (e uma desculpa da Academia de Artes e Ciências de Hollywood por nunca tê-lo distinguido com nenhum prêmio...).
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Em 1994 no episódio "Bar Mitzvah" de "O Toque de Um Anjo" |
Demonstrando ainda grande vigor, ele ainda em 2011, entregou à atriz Melissa Leo o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo filme de melhor atriz coadjuvante pelo filme O Vencedor tendo sido uma das aparições mais marcantes da 83ª edição da festa da premiação.
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Em 1996, a Academia lhe deu um Oscar pelo conjunto de sua obra (na verdade um pedido de desculpas disfarçado) |
Douglas morreu em sua casa, em Beverly Hills, Califórnia, nos Estados Unidos, em 5 de fevereiro de 2020, aos 103 anos. Nada mal para o filho de um simples trapeiro* que se mostrou uma lenda nas telas e fora delas...
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Com Anne Buydens, sua segunda esposa e companheira de caminhada num casamento de 65 anos |
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Em 2009 com a nora Catherine Zeta-Jones e o filho Michael, ator e produtor consagrado |
*: O Filho do Trapeiro é o título de sua auto-biografia, escrita sem a ajuda de ghost-writers, indo fundo nas suas lembranças de uma infância pobre, de pais analfabetos, e a sua luta regada a uma desesperada vontade de sair da miséria para conquistar uma vida melhor, e que felizmente não o fizeram esquecer de suas origens.
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