segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Agradando à gregos e troianos - Crítica - Filmes: Wonka (2023)

 


Para pais, filhos e agregados

por Alexandre César 

Cativante filme de origem do chocolateiro



Surgido nas páginas do clássico infantil de Roald Dahl A Fantástica Fábrica de Chocolate, Willy Wonka marcou o imaginário do grande público graças à adaptação do livro para o cinema realizada em 1971 por Mel Stuart (Enquanto viverem as ilusões). Gene Wilder (O Jovem Frankenstein) interpretou o excêntrico e genial chocolateiro de forma irônica e lúdica, alternando um certo olhar maníaco. Mas, o filme deixava uma grande lacuna sobre o seu passado.


Gene Wilder, na versão de 1971, é o referencial deste prequel


Coube a Tim Burton começar a resgatar na versão de 2005, o lado mais soturno do personagem. Na performance zombeteira de Johnny Depp, descobrimos parte de seu passado, como sua difícil relação com seu pai, um severo dentista viúvo (Christopher Lee) que odiava doces (daí vindo o conflito...). O filme acertou em muitos pontos, mas a caracterização de Wonka foi rotulada como sendo a de um 'Michael Jackson'de cabelo channel'...

Agora, é  a vez de Paul King (As Aventuras de Paddington) com Wonka (2023) nos dar mais um pequeno pedaço de como o jovem Willy (Timothée Chalamet* de Duna, partes I II) se tornou ’Wonka’, num filme que, se por um lado, afasta qualquer alusão ao lado sombrio do personagem, por outro, se mostra um espetáculo cativante, revelando-se o filme-família deste final de ano.


O sonhador Willy Wonka (Timothée Chalamet) busca realizar seus sonhos, inspirado no amor de sua finada mãe (Sally Hawkins)


O roteiro escrito por King e Simon Farnaby (Ghosts) mostra espetacular equilíbrio em dar espaço à vários (e marcantes personagens), em agradar à todas as faixas de público - sem deixar de tratar nenhuma delas com inteligência - e na apresentação de números musicais que, graças à edição de Mark Everson (Johny English 3.0) têm a duração certa para não  ficarem chatos, intercalando humor, emotividade e sutis críticas sociais. A maneira como o chocolate é alternado como alegoria de dinheiro de corrupção, droga viciante (os rivais de Wonka são um cartel) e fator libertário é uma aula de como se escrever um roteiro.

Chalamet funciona,  como um jovem idealista e um tanto ingênuo - prato feito para os oportunistas de plantão. Ele é amparado pelo ótimo, inspirado e cativante  elenco, não importando quão pequeno seja o personagem. Destacam-se  a sempre ótima Olivia Colman (Invasão Secreta) como Mrs.Scrubitt e Tom Davis (The Curse) como Bleacher, uma dupla de Vigaristas, que aprisiona o protagonista, e o explora, junto com a órfã Noodle (Calah Lane de Reunião de Família) entre outros. 


O cartel de fabricantes de chocolate: Fickelgruber (Mathew Baynton), Slugworth (Paterson Joseph) e Prodnose (Matt Lucas) são a pedra maior no sapato de Willy Wonka

Ainda temos os hilários Chefe de Polícia (Keegan-Michael Key de Reboot) o Padre Julius (Rowan Atkinson, o eterno Mr. Bean)  em ótimas interpretações, e do lado da trupe de Willy Wonka temos os explorados Abacus Crunch (Jim Carter de A Grande Mentira), um contador; Piper Benz (Natasha Rothwell de Mulher-Maravilha 1984), uma encanadora; Larry Chucklesworth (Rich Fulcher de Ainda Acordados) um humorista sem graça; e a 'muda' Lottie Bell (Rakhee Thakrar de Sex Education), uma telefonista. Mas o grande destaque mesmo se dá na figura de Hugh Grant (Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes) como Umpa-Lumpa, caracterizado como os homenzinhos da versão de 1971, roubando a cena com ótimo timing cômico, tornando Chalamet mero coadjuvante, quando está em cena.


Mrs.Scrubitt (Olivia Colman) é uma megera trambiqueira digna das animações da Disney


Um dado diferencial neste filme é que se na versão de Burton, a ênfase dada como formadora de caráter do protagonista, era na figura paterna, nesta  se resgata a relação de Willy com a sua mãe (Sally Hawkins de A Forma da Água) sendo um elemento crucial em sua fé nos bons sentimentos.


Com sua fleuma, Oompa Loompa (Hugh Grant) é o grande destaque, graças a seu timing cômico


Visualmente o filme (todo rodado na Inglaterra) é belíssimo, com a fotografia de Chung-hoon Chung (Obi-Wan Kenobi) valorizando os inspirados figurinos de Lindy Hemming ( Mulher-Maravilha 1984) e o belo design de produção de Nathan Crowley (O Rei doShow). Sua direção de arte ( com um ‘pé’ em Charles Dickens) cria (junto com os efeitos visuais) um mundo fabuloso que resgata o lúdico dos grandes clássicos da Disney, como Mary Poppins e 101 Dálmatas. O filme é sublinhado pela inspirada música de Joby Talbot (Alice in Wunderland) que embala bem a trama, de forma que quando rola o clássico tema “Pure imagination” de Leslie Bricusse e Anthony Newley, é difícil não se flcar com os olhos marejados.


A pequena órfã Noodle (Calah Lane) compartilha com Willy sonhos de liberdade. A direção de arte e os efeitos visuais criam um mundo esplendoroso e colorido

 Ao final, Wonka supera as expectativas de ser apenas mais um filme-família de ocasião, e deixa abertas as portas para uma continuação, que deverá mostrar como foi a construção da Fábrica de Chocolate e a consolidação do Império de Willy. Talvez aí,  possamos ver mais facetas de seu protagonista, que aqui  embora cativante, ainda ficou um tanto quanto ‘chapa-branca’...

Esperemos que seja um sucesso, pois a Warner precisa urgentemente...


O universo do filme pode ser chamado de 'comestível' na melhor definição



Notas:




*Tom Holland (Homem-Aranha: Sem volta para Casa) junto com Timothée Chalamet  foram os dois finalistas de uma longa seleção para o papel, sendo Chalamet o vencedor.


"- Agora, quem sabe no próximo filme, eu não possa me mostrar mais malvadinho? "



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