terça-feira, 10 de novembro de 2020

Página cósmica virada... - Crítica - Filmes: X-Men: Fênix Negra (2019)

  

 

É hora de dar adeus, e obrigado...

 

por Alexandre César  

(Postado originalmente em 08/ 06/ 2019)


E o universo mutante deixa a Fox e retorna à Marvel

 


A encarnação original da Fênix, nos traços de John Byrne...
 
 
Tendo iniciado a sua trajetória na tela grande no já longínquo ano de 2000 sob a batuta de Bryan Singer, os X-Men percorreram um longo e bem sucedido caminho de adaptações genéricas dos famosos mutantes da Marvel, com resultados variados mas sempre assegurando um bom retorno financeiro a 20th Century Fox, que havia arrematado a preço de banana os direitos de filmagem dos personagens mutantes da Casa das Ideias no final dos anos 1990. Com o surgimento da Marvel Studios e suas bem sucedidas fases, a comparação com as suas cineséries foi inevitável, e quando a primeira foi adquirida pela gigante Walt Disney Company, que depois a compraria também, estava decretado o fim desse ciclo, pois agora era inevitável a volta deste núcleo de personagens para o seu lugar de origem, faltando apenas fazer o fechamento do arco narrativo anterior.  
 
 


Prof. Charles Xavier (James McAvoy) no "Cérebro". O bom professor se revela não tão perfeito...


Escrito e dirigido por Simon Kinberg (roteirista de X-Men: Apocalipse de 2016 e X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido de 2014) X-Men: Fênix Negra (2019) conclui o arco iniciado com X-Men: Primeira Classe (2011) de Matthew Vaughn (que ambientava cada aventura numa década distinta, acrescentando uma dimensão de filme de época às aventuras dos heróis mutantes) sofreu atrasos, refilmagens, e paradas devido à venda do estúdio para a Disney e se não é o final ideal, o filme é o que tem mais cara de episódio de série, e funciona como o encerramento possível para esta encarnação, fechando as portas para que possa surgir a nova formatação via Universo Cinematográfico Marvel, quando os heróis poderão aparecer no juntamente com Deadpool e Quarteto Fantástico.
 

"Audaciosamente indo, onde nenhum X-Men jamais esteve..."

 
Ambientado em 1992, Charles Xavier (James McAvoy, revelando uma nova faceta do personagem) está lidando com o fato dos mutantes serem considerados heróis nacionais. Com o orgulhoso com os sorrisos, apertos de mão e homenagens por parte dos humanos que agora lhes são gratos (uma grande novidade para ele), envia sua equipe para perigosas missões, inclinado a fazer de tudo para preservar a imagem pública de seus alunos (como ele diz, “ - Os X-Men estão sempre 'a um dia ruim' de voltarem a ser inimigos”)...
 


A missão no espaço. Do original dos quadrinhos, só se manteve o ônibus espacial, Jean Grey, a entidade alienígena, e o espaço...
 
 
Mas a primeira tarefa dos X-Men no espaço resgatando o ônibus espacial Endeavour esbarra numa “explosão solar”, na verdade uma entidade cósmica que se funde a Jean Grey (Sophie Turner de Game of Thrones mostrando sutilezas na criação da personagem) que enfrentará uma nova provação, numa espécie de releitura do mito de Ícaro, pois esta entidade lhe acende uma gana malévola e faminta por poder. Pois ao adquirir corporalidade e tomar contato com os sentidos, e a gama de sensações advindas deles, o resultado dessa overdose sensorial é caótica.  
 

Versões: A Fênix de 2006 (Famke Janssen), uma mulher feita, e a de 2019 (Sophie Turner),, uma jovem descobrindo as si mesma

Se o filme faz uma reflexão interessante sobre o papel de Xavier como líder dos X-Men, mostrando-se um mentor vaidoso, controlador e com fome de relações públicas, sem mencionar um grande enganador, coisas de que Mística (Jennifer Lawrence, se despedindo do papel) o acusa, colocando seus motivos em xeque, por outro lado não deixa de ser verdadeiro o que ele diz em sua própria defesa: Ele está desesperado para proteger o status dos X-Men, para não deixá-los ser estigmatizados, mais uma vez, pelo mundo em geral, o que o faz demorar a enxergar que há algo de errado com sua maneira de usar de sua posição e das habilidades de seus pupilos. 
 
 
Heróis fora de órbita: Mística (Jennifer Lawrence) e Fera  (Nicholas Hout) lideram Mercúrio (Evan Peters), Tempestade e Cia. em sua primeira missão no espaço
 
 
Na outra ponta da comunidade mutante, Erik Lehnsherr, o Magneto (Michael Fassbender, sempre dominando o personagem) agora tem a sua comunidade numa pequena ilha ribeirinha (a futura Genosha?) tendo finalmente compreendido que a violência e um sem número de mortes sem sentido não o levarão a lugar nenhum. Os atos de Jean Grey/ Fênix o levarão à velha postura de líder vingativo na primeira metade, batendo de frente com Xavier e Cia. (como sempre) até ver que devem trabalhar juntos para solucionar o problema e superar o inimigo comum (como sempre...).
 
 
Erik Lehnsherr, o Magneto (Michael Fassbender) em sua ilha ribeirinha (Genosha?)inicialmente auxilia Jean Grey
 
 
Curiosamente, a história da Fênix Negra já havia sido contada em X-Men: O Confronto Final (2006), de Brett Ratner, escrito pelo mesmo Kinberg. Mas tal qual no anterior, a saga cósmica emblemática de Chris Claremont e John Byrne foi completamente remodelada, deixando de lado o clima mais cósmico para voltar à Terra e englobar melhor os personagens... Numa espécie de reboot, sendo uma adaptação até que funciona bem, mantendo-se surpreendentemente fiel no miolo do conceito (só o miolo) contando a história da Fênix, deixando-a como a trama central e não como uma subtrama (como no filme de 2006). Assim, Jean/Fênix é a personagem central, e o filme inteiro é sobre ela, e seus tramas, cabendo encontrar por si mesma a resposta de qual caminho tomar e o que fazer com seus novos poderes. 
 

Jean Grey e a alienígena Vuk (Jessica Chastain), uma vilã genérica...
 
 
Agora, com relação à HQ, que lembremos é uma história cósmica, e infelizmente ela acontece prioritariamente na Terra embora tenha um lado relativamente forte de ficção científica, incluindo uma rápida viagem ao espaço e a primeira aparição de alienígenas na cinesérie, os N´Baris, uma espécie transmorfa (nas HQs, inimiga dos Skrulls...) que é usada porque precisavam usar um vilão que unisse X-men e Magneto contra alguém, mas a vilã Vuk, a líder alienígena, apesar do esforço da ótima Jesssica Chastain (que tira leite de pedra mostrando grande afinco) no fundo é uma vilã esquemática cujo visual emula a Rainha Branca do Clube do Inferno já mostrada em X-Men: Primeira Classe. E na equipe de Magneto vemos mutantes genéricos, que na realidade tem visual de alguns personagens, e aparência de outros, soando estranho já que poderiam aproveitar a pluralidade que vemos na escola de Xavier. Uma pena. 
 
 
Momento fan service: A mutante cantora de discoteca Alison Blaire, a Cristal (Halston Sage)
 
 
Para não dizer que não tem nenhum herói clássico novo, há uma pequena cena onde podemos ver Alison Blaire, a Cristal (Halston Sage de The Orville), a mutante mais estonteante da Marvel, aparece em uma cena usando o traje clássico, com direito a maquiagem e calça pantalona, cantando e usando seus poderes de transformar sons em luz (só faltaram os patins) exibindo seus poderes, mas é uma participação do tipo “piscou, perdeu”... 
 

O combate no lar de Jean lembra o do filme de 2006.


Do resto da equipe, podemos destacar Hank McCoy, o Fera (Nicholas Hoult de Tolkien) que também dá duro para tornar crível o seu personagem, tal qual Ororo Munroe/ a Tempestade (Alexandra Shipp, tendo bons momentos), Kurt Wagner/ o Noturno (Kodi Smit-McPhee, abaixo de seu potencial), Mercúrio (Evan Peters, subutilizado) e Scott Summers/ Cíclope (Tye Sheridan, de Jogador Nº1) que se aqui tem uma química baixa com Turner enquanto casal, temos uma curiosa inversão de papéis, pois ele assume o papel de “donzelo em perigo” enquanto a Fênix é a dominante da relação, mas sejamos sinceros: Até Dwayne Johnson (The Rock) fazendo casal com uma mulher com aquele nível de poder acabaria na posição de indefeso em comparação... Aliás em certa altura se questiona porque não mudam o nome da equipe para X-Women, uma vez que em boa parte das situações, são as mulheres que salvam o dia...
 
 
Fera, Xavier e Ciclope (Tye Sheridan), o "macho-em-perigo"...
 
 
Dos valores de produção, temos o design de produção (Claude Paré), o figurino (Daniel Orlandi), a maquiagem e os efeitos visuais são competentes, mas sem chamarem muito a atenção para si, chegando até a um tom de sobriedade, podemos destacar a bela fotografia de Mauro Fiore (Avatar) e a música de Hans Zimmer (Trilogia Batman de Christopher Nolan) que funciona mas não tem nenhum tema memorável. 
 

Magneto (ao centro) Tempestade (Alexandra Shipp), Fera (Nicholas Hout), Noturno (Kodi-Smit McPhee) e dois mtantes "genéricos"
 
 
Ao final, vemos que se X-Men: Fênix Negra decepciona na proposta de nos entregar algo grandioso, pelo menos fecha de forma satisfatória o arco dos filhos do átomo sob o teto da Fox, sendo uma boa aventura genérica que não faz feio, desde que você não espere que seja como um dos filmes dos Vingadores. Agora só nos resta esperar a próxima encarnação e torçamos que agora inseridos no Universo Cinematográfico Marvel, os mutantes ressurjam das próprias cinzas de forma mais vistosa do que na versão anterior... tal qual uma Fênix!!!
 

Mercúrio: "Vou conseguir ter mais uma cena maneira! Vou conseguir! Vou... Raios!!!"

 

Até lá, "Morrer, dormir... e quem sabe sonhar..."

 

 

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