Novelão sim, mas bem feito
por Ronald Lima
(Originalmente postado em 21/ 02/ 2019)
Ashgar Farhadi entre as mentiras e "verdades" da vida
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Penelope Cruz & Javier Bardem: Equivalentes à Brad Pitt & Angelina Jolie... |
Formalmente a trama é o clássico “mistério do quarto fechado”, um formato tão antigo quanto a própria narrativa policial. Temos um crime aparentemente impossível e um número claro e limitado de suspeitos. Essa estrutura tradicional, no entanto, é apenas o pontapé inicial para um drama familiar sobre segredos guardados e antigos ressentimentos, explorando as fissuras dos laços familiares quando estes ameaçam se romper, revelando novas rachaduras em lugares inesperados - algumas com mais impacto do que outras -, ainda que todas elas sejam apenas alegorias para ilustrar os perigos e as consequências da desinformação.
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Arriba! Arriba! |
O filme, abusa de uma enorme latinidade, num tom novelesco e meio
dramático que se torna convidativo. Inicia-se com a introdução da
família espanhola, onde conhecemos todos os parentes da família de Laura
(Penélope Cruz, ótima no papel), membros de
uma pequena aristocracia local. Após sabermos disso, somos levados para o
grande casamento da irmã de Laura, onde se reúnem todas as gerações
dessa família numa recepção corrida e expressiva. Entre os felizes
convidados, Laura reencontra seu antigo amor Paco (Javier Bardem),
que era filho de empregados da família e hoje é dono de uma vinícola
que comprou muito barato. Laura está casada com um homem mais velho e
rico e se mudou para a Argentina onde criou seus dois filhos. Durante a
festa de casamento, ocorre um apagão geral, e a filha de Laura, Irene
(Carla Campra), desaparece. Irene é uma adolescente típica com muita
disposição a experimentar de tudo, esbanjando vitalidade.
A partir de então, iniciam-se as especulações de todos dentro da casa
sobre o que aconteceu com ela, enquanto a mãe desesperada sofre, como
uma boa personagem de novela, pelo desaparecimento da filha, tentando a
todo custo obter alguma notícia. Outras peças do quebra-cabeça vão sendo
dadas aos poucos, principalmente através do policial reformado (o ator
José Angel Egido) que é amigo de Fernando (Eduard Fernández), tio da
menina.
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Irene "Curtindo a vida adoidado" |
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Eles não sabem... |
A ainda estonteante Penélope Cruz funciona como a personagem central e
catalisador dos eventos no filme e Bardem é excelente como um típico
cultivador de vinícola. Seus momentos com Cruz são os pontos chaves do
filme, em seus closes tristes onde muito de
seu personagem parece rodar em torno de uma decisão que afeta grande
parte da história e que permeia todo o longa, tornando Paco um típico
anti-herói do cinema de Farhadi, guiado por sua masculinidade no intuito
de salvar o dia, (ainda que destrua a si mesmo no processo...).
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Paco (Javier Bardem) |
Complementando isso, o talentoso Ricardo Darín, entra na jogada um pouco mais tarde, mas seu personagem Alejandro, o marido de Laura, é caprichado no mistério e cai como uma luva para o ator, que com seu semblante sério, acrescenta mais uma camada de dualidade para o desdobrar da trama. É muito boa a química entre ele e Bardem, representando dois homens que, apesar de terem tudo para entrarem em um embate sem fim, fazem o possível em prol do bem comum. Gente civilizada...
O filme se revela uma grande panela de pressão que está à segundos de
explodir, nos fazendo duvidar de todos os personagens à medida em que
novas informações complicam a narrativa. Em um certo ponto deixamos de
questionar se esta família pode conseguir resgatar a garota
desaparecida, para nos perguntar: por que alguém sequer pensaria em levá-la embora em primeiro lugar, ora bolas!?
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Laura (Penélope Cruz) e Alejandro (Ricardo Darín) |
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Diferenças... |
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