domingo, 28 de novembro de 2021

Bicharada em alta - Crítica - Filmes: Dolittle (2020)

 



Diga: Roar!!! Au! Au! Có! Có!...


por Alexandre César 

(Postado originalmente em 21/ 02/ 2020)


Robert Downey Jr. brilha, mas não ofusca Rex Harrison 

 

Clássico da Sessão da Tarde: A versão de 1967.


John Doolittle é um médico que fala com os animais. Dado crucial do personagem criado pelo autor de livros infantis Hugh Lofting (1886 – 1947) e que legou-lhe uma legião de fãs, que vibraram quando seu personagem favorito ganhou as telas em O Fabuloso Doutor Dolittle (1967) dirigida por Richard Fleischer (20.000 Léguas Submarinas) com Rex Harrison (My Fair Lady) com Samantha Eggar (O Colecionador) em uma produção requintada para os padrões da época (apesar de muitos números musicais demasiado longos) e tendo Harrison se tornado a encarnação definitiva do personagem, que popularizou os livros e ainda gerou uma série animada da DePatie-Freleng*1 que quem assistia ao Capitão Aza na TV Tupi (lá estou eu de novo entregando a minha idade...) deve se lembrar.


A versão animada da DePatie-Freleng de 1970.


Edddie Murphy e a "modernização" do conceito em 1998.


Veio a década de 90 e Eddie Murphy, egresso do sucesso de O Professor Aloprado (1996) emplacou em 1998 a sua adaptação da história para um contexto urbano contemporâneo, jogando a fleuma britânica para escanteio e colocando no lugar a malemolência típica de seu intérprete, criando uma franquia tão duradoura quanto a da família Klump, mas alguma coisa havia se perdido. Talvez fosse bom voltar às origens...
 
 

Robert Downwy Jr. e a nova versão, mais fantasiosa e aventureira.

Diagrama: Dolittle e seus parceiros animais (vozes originais).

Dirigido por Stehen Gaghan (Syriana – A Indústria do Petróleo) Dolittle (2020) traz agora novamente John Dolittle (Robert Downey Jr. fazendo o que faz melhor: interpretar Robert Downey Jr.) resgatando a ambientação vitoriana e fantástica, com visual de ilustração de livro infantil, abraçando a fantasia sem pruridos realistas e felizmente não cedendo à vontade de fazer um musical (coisa que impediu a versão de 1967 de ser perfeita) e apoiado nos recursos da moderna tecnologia digital, deixou para trás as fantasias de espuma, marionetes e animais amestrados dos anos 60 para criar personagens relacionáveis e realisticamente convincentes, para um contexto fantástico.


Quando Sua Alteza, a Rainha Victoria (Jessie Buckley) chama, o bom doutor atende


Mestre e aprendiz: O jovem Tommy Stubbins (Harry Collett) vê Dolittle como um exemplo a seguir

O roteiro de Stehen Gaghan, Dan Gregor (Mother Mary), Doug Mand (The Comedians), Chris McKay (Lego Batman: O Filme) a partir do script de Thomas Shepherd (a partir dos livros de Lofting) logo de cara num ótimo desenho animado nos conta como John Dolittle conheceu e casou-se com a bela e destemida exploradora Lily (Kasia Smutniak de Perfeitos Desconhecidos, aparecendo em flashbacks) formando um casal feliz até a sua morte num naufrágio, que partiu o coração de John, e o fez tornar-se recluso em sua enorme propriedade, presente da jovem Rainha Vitória (Jessie Bucley de Judy: Muito Além do Arco-Íris) que manda a sua sobrinha Lady Rose (Carmel Laniado de A Christmas Carol) procurá-lo por estar adoentada. Neste trajeto seu caminho cruza com o do jovem Tommy Stubbins (Harry Collett de Dunkirk) que vê em tornar-se ajudante do médico de animais o objetivo de conquistar o seu lugar no mundo. Os dois jovens desenvolvem uma afinidade mútua.


Lord Thomas Badgley (Jim Broadbent) e o Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen) querem se livrar de Dolittle e seus associados, incluindo Lady Rose (Carmel Laniado)


O cruel Rei Rassouli (Antoni Banderas) pai da falecida Lily culpa Dolittle pela morte da filha

Dolittle volta à ativa ao descobrir que o título de sua propriedade está vinculado a um decreto real, que pode ser revogado com a morte da rainha, e ao examiná-la com os seus métodos pouco ortodoxos, descobre que a soberana está morrendo envenenada, sendo o antídoto o suco da fruta da Árvore do Conhecimento e assim a trupe parte para uma viagem, sendo seguido de perto pelo antigo rival dos tempos de faculdade Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen de Good Omens com o típico visual de vilão de cinema mudo) a manddo de Lord Thomas Badgley (Jim Broadbent, Oscar por Moulin Rouge: Amor em Vermelho) que trama tomar o poder e livrar-se da Rainha. No trajeto Dolittle deverá ter um acerto de contas com o Rei Rassouli (Antonio Banderas de A Máscara do Zorro em ótima caracterização) pai de Lily e que o culpa pela morte da filha. Peripécias não faltam para testar o grupo, numa aventura divertida embalada pela música de Danny Elfman (A Noiva Cadáver) que é correta mas não é o seu trabalho mais memorável, permeando o ritmo da edição de Craig Alpert (Deadpool 2) que dinamiza a narrativa ora acelerando, ora dando pausas estratégicas, mas nunca parando de fato o desenrolar da trama.


O Dr.Blair Müdfly é o típico vilão de filme mudo que se veste de preto, amarra a mocinha na linha do trem e fica cofiando os bigodes


Ralph Fiennes se destaca como Barry, o sinistro tigre com traumas psicológicos

Como adição ao elenco temos o vasto time animal do filme, fruto dos efeitos visuais em CGI e captura de movimento das empresas Clear Angle Studios (serviços de cyber escaneamento fotogramétrico), Framestore, Host VFX, Lola Visual Effects, Luma Pictures, Monkeyshine, Moving Picture Company (MPC), Proof, Stereo D, que contaram com as vozes de Poly, a arara (Emma Thompson de Walt nos Bastidores de Mary Poppins) o braço direito do bom doutor; Chee-Chee o gorila (Rami Malek de Bohemian Rapsody) que sofre de síndrome de pânico; Yoshi, o urso polar (John Cena de Descompensada) que não gosta de frio; Plimpton, o esquilo (Kumail Nanjiani de MIB: Homens de Preto Internacional) que narra sua história como um detetive noir; Dab-Dab, a pata (Otavia Spencer de Ma) com uma perna de pau; Jip, o cão (Tom Holland de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) que auxilia nos diagnósticos; Betsy, a girafa (Selena Gomez de Monte Carlo); Tutu, a raposa (Marion Cotilard, Oscar por Piaf: Um Hino Ao Amor); Kevin, a libélula (Craig Robinson de É o Fim); Barry, o sinistro tigre (Ralph Fiennes de O Grande Hotel Budapeste) com traumas psicológicos e um Dragão (Frances de la Tour de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1) que sofre de problemas gástricos, entre outros. Haja bicho...
 

A direção de arte, a fotografia e os efeitos visuais compõem um mundo visualmente rico, digno de um livro infantil ilustrado

O elenco animal com suas personalidades bem definidas agradarão a crianças e velhos, que se identificarão com um ou outro


Os figurinos de Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria) ajudam a compor o Dolittle de Downey Jr. como uma síntese de Tony Stark com Sherlock Holmes e com o Chapeleiro Louco, o Dr.Blair Müdfly de Sheen como aquele vilão tipo Dick Vigarista*2 que cofia os bigodes e o Lord Thomas Badgley de Broadbent como o hipócrita pomposo que arma os ardis pelas costas mas se faz de cidadão de moral ilibada (coisa tão comum atualmente...) ou o Rei Rassouli de Banderas como um cruel Rei Pirata de desenho animado de uma ilha oriental, mais divertido do que mau.

Tommy Stubbins e Lady Rose (Carmel Laniado): Deu Match...

A fotografia de Guillermo Navarro (O Labirinto do Fauno) valoriza em sua colorida palheta de cores luminosas, este mundo que o desenho de produção de Dominic Watkins (Branca de Neve e o Caçador) e a direção de arte de Gary Tomkins (Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2), Paul Laugier (Cinderela), Matthew Gray (Alexandria), Ravi Bansal (Distrito 9) entre outros criam, detalhado pela decoração de sets de (Cavalo de Guerra) que dá atenção aos mínimos detalhes de utensílios e adereços de cena presentes em cada cenário e locação.
 

Apesar de bom, Robert Downey Jr. não supera Rex Harrison...

Ao final do filme saímos satisfeitos por ver um filme-família que não carrega a pretensão de ser mais do que isto, e em que pese o fato de Downey Jr. fazer bem o seu trabalho, ainda não supera a performance de Rex Harrison, apesar de no computo final o filme ser melhor do que a versão de 1967, cujo principal problema era ser um musical com números muito longos (coisa que as produções de Walt Disney sempre driblaram muitíssimo bem) resgatando o aspecto lúdico do personagem, que pede bem mais uma ambientação de “num outro local e numa outra época” do que o tempo atual para cativar...

"-Ser ou não ser: Médico ou Chapeleiro?"

Notas:
 
*1: Estúdio responsável pelos desenhos de A Pantera Cor-de-Rosa, O Inspetor, Super Seis, Bom-Bom & Mau-Mau, A Formiga e o Tamanduá entre outras adoráveis velharias.

*2: Vilão do desenho A Corrida Maluca da Hanna-Barbera.


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