Diga: Roar!!! Au! Au! Có! Có!...
por Alexandre César
(Postado originalmente em 21/ 02/ 2020)
Robert Downey Jr. brilha, mas não ofusca Rex Harrison
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Clássico da Sessão da Tarde: A versão de 1967. |
John Doolittle é um médico que fala com os animais. Dado crucial do
personagem criado pelo autor de livros infantis Hugh Lofting (1886 –
1947) e que legou-lhe uma legião de fãs, que vibraram quando seu
personagem favorito ganhou as telas em O Fabuloso Doutor Dolittle (1967) dirigida por Richard Fleischer (20.000 Léguas Submarinas) com Rex Harrison (My Fair Lady) com Samantha Eggar (O Colecionador)
em uma produção requintada para os padrões da época (apesar de muitos
números musicais demasiado longos) e tendo Harrison se tornado a
encarnação definitiva do personagem, que popularizou os livros e ainda
gerou uma série animada da DePatie-Freleng*1 que quem assistia ao Capitão Aza na TV Tupi (lá estou eu de novo entregando a minha idade...) deve se lembrar.

A versão animada da DePatie-Freleng de 1970.

Edddie Murphy e a "modernização" do conceito em 1998.
Veio a década de 90 e Eddie Murphy, egresso do sucesso de O Professor Aloprado (1996)
emplacou em 1998 a sua adaptação da história para um contexto urbano
contemporâneo, jogando a fleuma britânica para escanteio e colocando no
lugar a malemolência típica de seu intérprete, criando uma franquia tão
duradoura quanto a da família Klump, mas alguma coisa havia se perdido.
Talvez fosse bom voltar às origens...

Diagrama: Dolittle e seus parceiros animais (vozes originais).
Dirigido por Stehen Gaghan (Syriana – A Indústria do Petróleo) Dolittle (2020) traz agora novamente John Dolittle (Robert Downey Jr. fazendo o que faz melhor: interpretar Robert Downey Jr.)
resgatando a ambientação vitoriana e fantástica, com visual de
ilustração de livro infantil, abraçando a fantasia sem pruridos
realistas e felizmente não cedendo à vontade de fazer um musical (coisa
que impediu a versão de 1967 de ser perfeita) e apoiado nos recursos da
moderna tecnologia digital, deixou para trás as fantasias de espuma,
marionetes e animais amestrados dos anos 60 para criar personagens
relacionáveis e realisticamente convincentes, para um contexto
fantástico.

Quando Sua Alteza, a Rainha Victoria (Jessie Buckley) chama, o bom doutor atende
O roteiro de Stehen Gaghan, Dan Gregor (Mother Mary), Doug Mand (The Comedians), Chris McKay (Lego Batman: O Filme) a partir do script de Thomas Shepherd (a partir dos livros de Lofting)
logo de cara num ótimo desenho animado nos conta como John Dolittle
conheceu e casou-se com a bela e destemida exploradora Lily (Kasia
Smutniak de Perfeitos Desconhecidos, aparecendo em flashbacks)
formando um casal feliz até a sua morte num naufrágio, que partiu o
coração de John, e o fez tornar-se recluso em sua enorme propriedade,
presente da jovem Rainha Vitória (Jessie Bucley de Judy: Muito Além do Arco-Íris) que manda a sua sobrinha Lady Rose (Carmel Laniado de A Christmas Carol) procurá-lo por estar adoentada. Neste trajeto seu caminho cruza com o do jovem Tommy Stubbins (Harry Collett de Dunkirk)
que vê em tornar-se ajudante do médico de animais o objetivo de
conquistar o seu lugar no mundo. Os dois jovens desenvolvem uma
afinidade mútua.

Lord Thomas Badgley (Jim Broadbent) e o Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen) querem se livrar de Dolittle e seus associados, incluindo Lady Rose (Carmel Laniado)
Dolittle volta à ativa ao descobrir que o título de sua propriedade está
vinculado a um decreto real, que pode ser revogado com a morte da
rainha, e ao examiná-la com os seus métodos pouco ortodoxos, descobre
que a soberana está morrendo envenenada, sendo o antídoto o suco da
fruta da Árvore do Conhecimento
e assim a trupe parte para uma viagem, sendo seguido de perto pelo
antigo rival dos tempos de faculdade Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen de Good Omens com o típico visual de vilão de cinema mudo) a manddo de Lord Thomas Badgley (Jim Broadbent, Oscar por Moulin Rouge: Amor em Vermelho)
que trama tomar o poder e livrar-se da Rainha. No trajeto Dolittle
deverá ter um acerto de contas com o Rei Rassouli (Antonio Banderas de A Máscara do Zorro em
ótima caracterização) pai de Lily e que o culpa pela morte da filha.
Peripécias não faltam para testar o grupo, numa aventura divertida
embalada pela música de Danny Elfman (A Noiva Cadáver) que é correta mas não é o seu trabalho mais memorável, permeando o ritmo da edição de Craig Alpert (Deadpool 2) que dinamiza a narrativa ora acelerando, ora dando pausas estratégicas, mas nunca parando de fato o desenrolar da trama.

O Dr.Blair Müdfly é o típico vilão de filme mudo que se veste de preto, amarra a mocinha na linha do trem e fica cofiando os bigodes

Ralph Fiennes se destaca como Barry, o sinistro tigre com traumas psicológicos
Como adição ao elenco temos o vasto time animal do filme, fruto dos efeitos visuais em CGI e captura de movimento das empresas Clear Angle Studios (serviços de cyber escaneamento fotogramétrico), Framestore, Host VFX, Lola Visual Effects, Luma Pictures, Monkeyshine, Moving Picture Company (MPC), Proof, Stereo D, que contaram com as vozes de Poly, a arara (Emma Thompson de Walt nos Bastidores de Mary Poppins) o braço direito do bom doutor; Chee-Chee o gorila (Rami Malek de Bohemian Rapsody) que sofre de síndrome de pânico; Yoshi, o urso polar (John Cena de Descompensada) que não gosta de frio; Plimpton, o esquilo (Kumail Nanjiani de MIB: Homens de Preto Internacional) que narra sua história como um detetive noir; Dab-Dab, a pata (Otavia Spencer de Ma) com uma perna de pau; Jip, o cão (Tom Holland de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) que auxilia nos diagnósticos; Betsy, a girafa (Selena Gomez de Monte Carlo); Tutu, a raposa (Marion Cotilard, Oscar por Piaf: Um Hino Ao Amor); Kevin, a libélula (Craig Robinson de É o Fim); Barry, o sinistro tigre (Ralph Fiennes de O Grande Hotel Budapeste) com traumas psicológicos e um Dragão (Frances de la Tour de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1) que sofre de problemas gástricos, entre outros. Haja bicho...

A direção de arte, a fotografia e os efeitos visuais compõem um mundo visualmente rico, digno de um livro infantil ilustrado

O elenco animal com suas personalidades bem definidas agradarão a crianças e velhos, que se identificarão com um ou outro
Os figurinos de Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria) ajudam a compor o Dolittle de Downey Jr. como uma síntese de Tony Stark com Sherlock Holmes e com o Chapeleiro Louco, o Dr.Blair Müdfly de Sheen como aquele vilão tipo Dick Vigarista*2 que cofia os bigodes e o Lord Thomas Badgley de Broadbent como o hipócrita pomposo que arma os ardis pelas costas mas se faz de cidadão de moral ilibada
(coisa tão comum atualmente...) ou o Rei Rassouli de Banderas como um
cruel Rei Pirata de desenho animado de uma ilha oriental, mais divertido
do que mau.
A fotografia de Guillermo Navarro (O Labirinto do Fauno) valoriza em sua colorida palheta de cores luminosas, este mundo que o desenho de produção de Dominic Watkins (Branca de Neve e o Caçador) e a direção de arte de Gary Tomkins (Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2), Paul Laugier (Cinderela), Matthew Gray (Alexandria), Ravi Bansal (Distrito 9) entre outros criam, detalhado pela decoração de sets de (Cavalo de Guerra) que dá atenção aos mínimos detalhes de utensílios e adereços de cena presentes em cada cenário e locação.
Ao final do filme saímos satisfeitos por ver um filme-família que não
carrega a pretensão de ser mais do que isto, e em que pese o fato de
Downey Jr. fazer bem o seu trabalho, ainda não supera a performance de
Rex Harrison, apesar de no computo final o filme ser melhor do que a
versão de 1967, cujo principal problema era ser um musical com números
muito longos (coisa que as produções de Walt Disney sempre driblaram
muitíssimo bem) resgatando o aspecto lúdico do personagem, que pede bem
mais uma ambientação de “num outro local e numa outra época” do que o tempo atual para cativar...

"-Ser ou não ser: Médico ou Chapeleiro?"
Notas: *1: Estúdio responsável pelos desenhos de A Pantera Cor-de-Rosa, O Inspetor, Super Seis, Bom-Bom & Mau-Mau, A Formiga e o Tamanduá entre outras adoráveis velharias.
*2: Vilão do desenho A Corrida Maluca da Hanna-Barbera.
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A versão animada da DePatie-Freleng de 1970.
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Edddie Murphy e a "modernização" do conceito em 1998.
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Veio a década de 90 e Eddie Murphy, egresso do sucesso de O Professor Aloprado (1996)
emplacou em 1998 a sua adaptação da história para um contexto urbano
contemporâneo, jogando a fleuma britânica para escanteio e colocando no
lugar a malemolência típica de seu intérprete, criando uma franquia tão
duradoura quanto a da família Klump, mas alguma coisa havia se perdido.
Talvez fosse bom voltar às origens...
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Diagrama: Dolittle e seus parceiros animais (vozes originais).
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Dirigido por Stehen Gaghan (Syriana – A Indústria do Petróleo) Dolittle (2020) traz agora novamente John Dolittle (Robert Downey Jr. fazendo o que faz melhor: interpretar Robert Downey Jr.)
resgatando a ambientação vitoriana e fantástica, com visual de
ilustração de livro infantil, abraçando a fantasia sem pruridos
realistas e felizmente não cedendo à vontade de fazer um musical (coisa
que impediu a versão de 1967 de ser perfeita) e apoiado nos recursos da
moderna tecnologia digital, deixou para trás as fantasias de espuma,
marionetes e animais amestrados dos anos 60 para criar personagens
relacionáveis e realisticamente convincentes, para um contexto
fantástico.
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Quando Sua Alteza, a Rainha Victoria (Jessie Buckley) chama, o bom doutor atende
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O roteiro de Stehen Gaghan, Dan Gregor (Mother Mary), Doug Mand (The Comedians), Chris McKay (Lego Batman: O Filme) a partir do script de Thomas Shepherd (a partir dos livros de Lofting)
logo de cara num ótimo desenho animado nos conta como John Dolittle
conheceu e casou-se com a bela e destemida exploradora Lily (Kasia
Smutniak de Perfeitos Desconhecidos, aparecendo em flashbacks)
formando um casal feliz até a sua morte num naufrágio, que partiu o
coração de John, e o fez tornar-se recluso em sua enorme propriedade,
presente da jovem Rainha Vitória (Jessie Bucley de Judy: Muito Além do Arco-Íris) que manda a sua sobrinha Lady Rose (Carmel Laniado de A Christmas Carol) procurá-lo por estar adoentada. Neste trajeto seu caminho cruza com o do jovem Tommy Stubbins (Harry Collett de Dunkirk)
que vê em tornar-se ajudante do médico de animais o objetivo de
conquistar o seu lugar no mundo. Os dois jovens desenvolvem uma
afinidade mútua.
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Lord Thomas Badgley (Jim Broadbent) e o Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen) querem se livrar de Dolittle e seus associados, incluindo Lady Rose (Carmel Laniado)
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Dolittle volta à ativa ao descobrir que o título de sua propriedade está
vinculado a um decreto real, que pode ser revogado com a morte da
rainha, e ao examiná-la com os seus métodos pouco ortodoxos, descobre
que a soberana está morrendo envenenada, sendo o antídoto o suco da
fruta da Árvore do Conhecimento
e assim a trupe parte para uma viagem, sendo seguido de perto pelo
antigo rival dos tempos de faculdade Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen de Good Omens com o típico visual de vilão de cinema mudo) a manddo de Lord Thomas Badgley (Jim Broadbent, Oscar por Moulin Rouge: Amor em Vermelho)
que trama tomar o poder e livrar-se da Rainha. No trajeto Dolittle
deverá ter um acerto de contas com o Rei Rassouli (Antonio Banderas de A Máscara do Zorro em
ótima caracterização) pai de Lily e que o culpa pela morte da filha.
Peripécias não faltam para testar o grupo, numa aventura divertida
embalada pela música de Danny Elfman (A Noiva Cadáver) que é correta mas não é o seu trabalho mais memorável, permeando o ritmo da edição de Craig Alpert (Deadpool 2) que dinamiza a narrativa ora acelerando, ora dando pausas estratégicas, mas nunca parando de fato o desenrolar da trama.
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O Dr.Blair Müdfly é o típico vilão de filme mudo que se veste de preto, amarra a mocinha na linha do trem e fica cofiando os bigodes
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Ralph Fiennes se destaca como Barry, o sinistro tigre com traumas psicológicos
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Como adição ao elenco temos o vasto time animal do filme, fruto dos efeitos visuais em CGI e captura de movimento das empresas Clear Angle Studios (serviços de cyber escaneamento fotogramétrico), Framestore, Host VFX, Lola Visual Effects, Luma Pictures, Monkeyshine, Moving Picture Company (MPC), Proof, Stereo D, que contaram com as vozes de Poly, a arara (Emma Thompson de Walt nos Bastidores de Mary Poppins) o braço direito do bom doutor; Chee-Chee o gorila (Rami Malek de Bohemian Rapsody) que sofre de síndrome de pânico; Yoshi, o urso polar (John Cena de Descompensada) que não gosta de frio; Plimpton, o esquilo (Kumail Nanjiani de MIB: Homens de Preto Internacional) que narra sua história como um detetive noir; Dab-Dab, a pata (Otavia Spencer de Ma) com uma perna de pau; Jip, o cão (Tom Holland de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) que auxilia nos diagnósticos; Betsy, a girafa (Selena Gomez de Monte Carlo); Tutu, a raposa (Marion Cotilard, Oscar por Piaf: Um Hino Ao Amor); Kevin, a libélula (Craig Robinson de É o Fim); Barry, o sinistro tigre (Ralph Fiennes de O Grande Hotel Budapeste) com traumas psicológicos e um Dragão (Frances de la Tour de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1) que sofre de problemas gástricos, entre outros. Haja bicho...
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A direção de arte, a fotografia e os efeitos visuais compõem um mundo visualmente rico, digno de um livro infantil ilustrado
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Os figurinos de Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria) ajudam a compor o Dolittle de Downey Jr. como uma síntese de Tony Stark com Sherlock Holmes e com o Chapeleiro Louco, o Dr.Blair Müdfly de Sheen como aquele vilão tipo Dick Vigarista*2 que cofia os bigodes e o Lord Thomas Badgley de Broadbent como o hipócrita pomposo que arma os ardis pelas costas mas se faz de cidadão de moral ilibada
(coisa tão comum atualmente...) ou o Rei Rassouli de Banderas como um
cruel Rei Pirata de desenho animado de uma ilha oriental, mais divertido
do que mau.
A fotografia de Guillermo Navarro (O Labirinto do Fauno) valoriza em sua colorida palheta de cores luminosas, este mundo que o desenho de produção de Dominic Watkins (Branca de Neve e o Caçador) e a direção de arte de Gary Tomkins (Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2), Paul Laugier (Cinderela), Matthew Gray (Alexandria), Ravi Bansal (Distrito 9) entre outros criam, detalhado pela decoração de sets de (Cavalo de Guerra) que dá atenção aos mínimos detalhes de utensílios e adereços de cena presentes em cada cenário e locação.
Ao final do filme saímos satisfeitos por ver um filme-família que não
carrega a pretensão de ser mais do que isto, e em que pese o fato de
Downey Jr. fazer bem o seu trabalho, ainda não supera a performance de
Rex Harrison, apesar de no computo final o filme ser melhor do que a
versão de 1967, cujo principal problema era ser um musical com números
muito longos (coisa que as produções de Walt Disney sempre driblaram
muitíssimo bem) resgatando o aspecto lúdico do personagem, que pede bem
mais uma ambientação de “num outro local e numa outra época” do que o tempo atual para cativar...
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"-Ser ou não ser: Médico ou Chapeleiro?"
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Notas:
*1: Estúdio responsável pelos desenhos de A Pantera Cor-de-Rosa, O Inspetor, Super Seis, Bom-Bom & Mau-Mau, A Formiga e o Tamanduá entre outras adoráveis velharias.
*2: Vilão do desenho A Corrida Maluca da Hanna-Barbera.
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