segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Decaindo a narrativa - Crítica - Séries: Altered Carbon - 2ª Temporada

 

 

Clone Requentado

por Alexandre César
(Originalmente postado em 06/ 03 / 2020)

Muda o cenário e o intérprete mas algo se perdeu... 




Takeshi Kovacs muda de corpo (literalmente) como mudamos de celular, de acordo com a necessidade da missão que irá realizar no mundo para onde vai, procurando sempre ficar fora do radar do Protetorado (autoritário governo plutocrata que governa os sistemas conhecidos). 30 anos depois de deixar para trás a Terra e as tramas “detetivescas” de quando usava a “capa” de Elias Ryker (Joel Kinnaman na 1ª temporada) ele volta para Harlan o seu mundo natal, e aceita um contrato de proteção de um figurão local, que lhe oferece uma “capa” de último tipo (Anthony Mackie de Vingadores: Ultimato) e levando a tiracolo o seu inseparável sidekick de Inteligência Artificial Paul (Chris Conner de A Colheita).


De cara nova: Takeshi Kovacs (Anthony Mackie) e seu parceiro Paul (Chris Conner).



Com um novo ator principal, a segunda temporada de Altered Carbon também traz uma nova proposta para a sua narrativa de ficção científica, trocando o policial noir tipo Blade Runner (1982) de Ridley Scott e entrando uma aventura que no seu conjunto lembra Total Recall (1990) de Paul Verhoeven, seguindo a história de Kovacs, que continua atrás de seu amor Quellcrest Falconer (Renée Elise Goldsberry de Irmãs) a desaparecida guerrilheira de seus tempos de Emissário (guerreiros tipo Jedi) com o seu antigo comandante do Protetorado Carrera/ Jaegger (Torben Liebrecht e Daniel Bernhardt nos flashbacks) em seu encalço. Outra dinâmica, mas algo parece ter se perdido...


"Cidadã de Bem": A governadora Danica Harlan (Lena Loren) apesar da "aura" governa despóticamente...


Embora uma Segunda Temporada de nunca tenha feito parte dos planos da Laeta Kalogridis ou da Netflix, a rede de streaming seguiu em frente e renovou a série de qualquer maneira dado o sucesso da Primeira Temporada e sentindo-se nesta atual, uma pegada de John Wick mas, é perceptível que vários aspectos dessa segunda temporada são apenas cópias da primeira, alguns um pouco melhorados mas na maioria deles o senso de dejá vu é gritante. Para dar uma nova dinâmica tivemos a adição de Trepp (Simone Missick de Luke Cage) uma caçadora de recompensas lésbica com implantes cibernéticos e casada com Myka (Sharon Taylor de Riverdale) que faz parceria com Kovacs e procurou-se dar mais espaço para outros personagens como Poe, que está com problemas no seu software, precisando reiniciar, coisa que ele protela por temer perder as lembranças de Lizzie Elliot (Hayley Law de Riverdale), encontrando apoio em Dig 301 (Dina Shihabi de Jack Ryan), um programa de rastreio arqueológico sem uso por causa do cancelamento das escavações, o apoio para se recuperar, mas embora o seu arco seja interessante, percebe-se que os roteiristas não sabiam o que fazer com o personagem.
 

Inclusão: O casal Myka (Sharon Taylor) & Trepp (Simone Missick).

 
O mundo de Harlan é a fonte principal do minério essencial para a fabricação dos “cartuchos”que gravam a consciência do indivíduo, permitindo a troca de uma “capa” (corpo) a outra, seja natural ou clonada, e a mineração desta comoditie é controlada com mão de ferro pela governadora Danica Harlan (Lela Loren de Power) que vive em queda de braço com o Protetorado e os interesses da elite local, entre eles, Tanaseda Hideki (James Saito de Punho de Ferro) o líder do clã da Yakuzaque sabe dos “podres”do fundador do planeta Konrad Harlan (Neal McDonough de DC´s Legends of Tomorow) que ajuda Kovacks, na redição do clichê de que todo chefão da Yakuza é no fundo, a despeito de suas atividades criminosas, um homem honrado e sábio, e não um gangster bem sucedido (que eles se vejam assim é uma coisa, mas que nós compremos essa imagem é algo bem questionável)...
 

Objeto de desejo: A uber guerreira Quellcrest Falconer (Renée Elise Goldsberry).

 
Temos num momento em que Takeshi é torturado pelo Protetorado a volta de personagens familiares como a sua irmã Reileen Kawahara (Dichen Lachman de Marvel´s Agents of S.H.I.E.L.D.), a detetive Kristin Ortega (Martha Higareda de Into the Dark) e Vernon Elliot (Ato Essandoh de Diamante de Sangue) como “capas”clonadas que tentam matá-lo e mais adiante um clone do Takeshi Kovacs original (Will Yun Lee de Rampage: Destruição Total) usado por Jaeger para confundir Kovacs e a desorientada Quellcrist, mas a dedução do desfecho é fácil se você já viu outros filmes e séries que lidam com o tema da clonagem e duplicação de personalidades...
 

Paul encontra apoio na Inteligência Artificial Dig 301 (Dina Shihabi).

 
A principal quebra em relação à temporada anterior, além da redução da nudez (mais comedida) e da violência gráfica, é a opção por mais sequências de ação, e menos momentos de reflexão sobre o estado do ser humano em meio à esta sociedade capaz de viver indefinidamente, e o impacto na pirâmide social, gerando um aumento de escala na narrativa da série, mas não necessariamente aprofundando ou discutido com entusiasmo os temas sociais e filosóficos, o que enfraquece um pouco a consistência deste universo, em comparação com a primeira temporada.


"Lembra de mim???" Carrera (Torben Liebrecht) a atual "capa" de Jaegger, antigo comandante de Kovacks nos tempos em que servia no Protetorado...

 
A fotografia de Corey Robson (Arrow), Bernard Couture (Lemony Snicket: Desventuras em Série) e P.J.Dillon (Game of Thrones) auxiliada pela edição de Geoff Ashenhurst (Defendor), Erin Deck (Into the Badlands), Stephen Philipson (Hannibal) e Jay Prychidny (Orphan Black) imprimem um ritmo perfeito para as cenas de ação, facilitando o maratonar e manter a atenção do espectador casual, auxiliadoa pela música de Jeff Russo (Legion) e Jordan Gagne (Star Trek: Discovery) mas ao mesmo tempo perdeu-se um pouco da ambição temática da série, que servia como um dos maiores apelos para fãs de ficção científica.


Paul embarca numa jornada pelo Cyberespaço na esperança de fazer um upgrade...

 
A ambientação é boa mas não tão impactante, sendo o desenho de produção de Carey Meyer (Into the Badlands) e a direção de arte de Don Macaulay (Elysium), David Clarke (Perdidos no Espaço) e Lisa Pouliot (Escola de Magia), auxiliados pelos efeitos visuais da Pixel Light Effects e da Spin VFX corretos, mas nada tão arrebatador ou marcantes quanto os visuais das ambientações cyberpunks da primeira temporada, indo os figurinos de Cynthia Ann Summers (Lemony Snicket: Desventuras em Série) na mesma direção.
 

Eu sou a sua cara: Kovacks e uma versão clonada de sua "capa" e consciência passada (Will Yun Lee) de quando era um fiel operativo do Protetorado...

 
Ao final, a temporada foi morna, sendo muito mais do mesmo, e caso aconteça uma terceira temporada decidindo ir mais à fundo nas tramas revolucionárias recorrentes deste universo, Falconer, por ter recebido mais destaque, seria uma personagem potencialmente mais interessante para se aprofundar (mais do que o próprio Kovacs) e como há muitos outros planetas nos mundos estabelecidos para a série a serem explorados, o que abre espaço para diferentes caracterizações deste futuro distópico(se essa for a direção que a showrunner Laeta Kalogridis escolher ir) a Netflix certamente deve introduzir spin-offs que se passem paralelamente à série, havendo a notícia de um anime, inclusive, que já estaria a caminho, o que seria uma boa saída pois o próximo livro de Richard K. Morgan apresenta uma escala muito grande para ser adaptado do modo como foi o primeiro romance de Takeshi Kovacs.


No mundo de Harlan se comemora o feriado nacional com uma ampla queima de fogos e de dissidentes...



 

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