Eu, sob a Sombra do Quiróptero
por Alexandre César
(Originalmente postada em 27 / 05 /2019)
A vida entre os quadrinhos, cinema, tv e a realidade
#Batman83Anos
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Em seus primórdios, antes de estrear o seriado de 1966, a Rede Globo chegou a passar o cine-seriado de 1943
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As minhas memórias afetivas em relação ao Batman, remontam à época em que estreou na Rede Globo de Televisão o icônico seriado sessentista Batman, estrelado por Adam West e Burt Ward. Antes da estreia eu vi, no mesmo dia e na Rede Globo, o seriado das matinês de cinema de 1943, The Batman (com 15 episódios de 30 minutos cada, em preto e branco) da Columbia Pictures, com direção de Lambert Hilyer (A Filha de Drácula, de 1936) e tendo Lewis Wilson como Batman/Bruce Wayne, Douglas Croft como Robin/Dick Grayson, Alfred sendo interpretado por Willian Austin e a presença do grande vilão nipônico Dr. Daka,
interpretado por J.Carrol Naish (que não era japonês). O vilão adorava
criar crocodilos, alimentando-os com frangos, e algum ocasional
desafeto. Batman e Robin tinham a grande missão de deter o Dr. Daka e desviar a carga de rádio que ele mantinha sobre Gotham City para
robotizar as pessoas, escravizando-as. Shirley Patterson fazia Linda
Page, assistente do Dr. Borden na Fundação da Cidade de Gotham e paixão de Bruce Wayne.

Fosse nas telas ou nos quadrinhos, a galeria de vilões do morcegão não tinha rival (com exceção da do Homem-Aranha)
Mas,
voltando ao seriado televisivo da dupla dinâmica, eu lembro o quanto me
marcou ainda menino, quando morava no subúrbio de Barros Filho, na
cidade do Rio de Janeiro, junto com vários da minha geração. Vivíamos a
Era de Ouro da aventura & ficção na TV quando, além do “Cruzado Embuçado”, tínhamos a Jornada nas Estrelas original, Além da Imaginação, Quinta Dimensão, os seriados de Irwin Allen (Perdidos no Espaço, Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Terra de Gigantes), Bonanza, Os Invasores, Daniel Boone, as séries do gênero Supermarionation de Gerry Anderson (Supercarro, Fireball - XL5, Thunderbirds, Stingray, Capitão Escarlate, Joe 90), os desenhos“desanimados” da Marvel,
entre tantas outras. Mas o Morcegão tinha um apelo ao qual nenhum
garoto, tivesse ele oito ou oitenta anos, podia resistir, tornando-se
uma febre mundial. Lembro que eu, sempre que era levado ao barbeiro,
pedia que me cortassem o cabelo num “penteado igual ao do Batman” (seja lá o que fosse isso...).
Na época a transmissão ainda era em preto e branco, mas as aventuras (contraditoriamente diurnas) do paladino de Gothan City exalavam
cores vivas mesmo na reprodução em tons de cinza das telinhas. Era algo
à frente de seu tempo, transpirando, em meio ao seu apelo escapista e
estilizado permeado por um humor “ingênuo”, uma inteligência e sátira
social que somente muitos anos depois eu entenderia. Exatamente por isso
nunca deixaria de amá-la. E ainda tinha aquela versão do batmóvel, que viria a se tornar o carro mais famoso do mundo.

Isto sim era um CARRO...
Aqueles eram os Anos de Chumbo, quando o Brasil vivia a “Redentora”, o golpe de 1964. Quando os militares - aliados ao empresariado, aos setores conservadores da sociedade e até a CIA - mergulharam o país no estado de exceção sob o pretexto de salvá-lo do comunismo que “ameaçava a democracia”... Familiar, não? E eu, ainda criança, ouvia os adultos falando que “havia um perigo no ar”, que “se os subversivos viessem, iriam nos fazer prisioneiros, nos obrigar a alimentá-los e obedecer às suas ordens”.

Uma realidade preto e branco fazia fundo aos coloridos episódios do herói
Lembro que uma vez cheguei a imaginar a minha casa tomada por um bando de soldados mal-encarados (que curiosamente não eram barbudos...),
sentados na sala, comendo uma comida que a minha mãe havia sido
obrigada a fazer para eles e - afronta maior - estavam vendo a nossa TV e
torcendo para que, daquela vez, o Batman não escapasse da armadilha. Que o Coringa ou o Pinguim ou qualquer dos malfeitores de Gotham havia armado uma armadilha para liquidar a ele e ao Robin!!! Torcer para que o Batman morresse!?! O Batman!?! “COMUNISTAS MALDITOS!!! QUE MORRAM TODOS!!!”, pensava eu na minha inocência impúbere...
Fui crescendo e descobri os quadrinhos do Batman (desenhados por Dick Sprang e George Klein, entre outros artistas da Era de Ouro dos quadrinhos) publicados pela editora EBAL.
As revistas eram impressas em preto e branco e eu adorava pintar com
lápis de cor, até acertando às vezes no equilíbrio cromático (às vezes
como disse...).

Opps!!! Capuz rosa!?!
E assim, gradativamente, fui tomando conhecimento do conceito raiz do Batman e
o quanto a versão televisiva era uma entre as várias interpretações que
o personagem permitia. Sempre surpreendendo pelas diferentes abordagens
dos seriados, filmes, animações... e nos quadrinhos, que era onde tudo
começou. Fui entendendo que épocas diferentes, mídias diferentes,
trazem interpretações diferentes de uma mesma ideia. Fosse como fosse,
os anos passaram, o mundo mudou, eu mudei... e mudou o Batman, embora continuasse a ser o mesmo, pois, somente abraçando a mudança conseguimos continuar a ser nós mesmos.

Mulher-Gato (Julie Newmar): A perdição de toda uma geração de garotos e adolescentes...
Abracei os quadrinhos - além do cinema, TV, animação, arte e literatura
no geral -, mas sempre reservei um canto para aquele morcego de Gotham
dos anos 60 e o seu batmóvel. Tive como fetiche a Mulher-Gato (e a Jeannie é um Gênio) e curti de montão as piadas que faziam acerca da comentada relação dele com o menino-prodígio. Ri muito com a imortal criação de Jô Soares, o Capitão Gay, quadro que ele atuava com o humorista Eliezer Motta no programa global Viva o Gordo, brincando com o conceito do super-herói em geral e com a chamada Dupla Dinâmica em particular. Era a dupla Capitão Gay (Soares) e o seu parceiro Carlos Sueli (Motta),
cujas identidades secretas eram respectivamente “o Comendador Gouveia” e
o seu fiel secretário Leopoldo. Parodiaram inclusive a clássica
sequência da subida no prédio com a “bat-corda”, tão comum no seriado sessentista.

Na terceira temporada surgiu a Batgirl (Yvonne Craig) para atrair as meninas, e os adultos babões...
Paralelo a isso, fiz a faculdade, conheci os mestres Neal Adams, Ernie Chan, Marshall Rogers, Frank Miller,
entre outros, que moldaram o Paladino Noturno dos quadrinhos com várias
tintas, num crescendo que, ao atingir um patamar de massa crítica,
lançaram novamente o personagem ao topo da Cultura Pop.

Carlos
Suely (Eliezer Motta) e Capitão Gay (Jô Soares) a icônica dupla
humorística que fêz muito sucessso no programa "Viva o Gordo"

Nos traços limpos e dinâmicos de Marshall Rogers o herói brilhou no final dos anos 1970
Foi quando vieram os filmes, de Tim Burton,
de resultados e qualidades variáveis, tirando, para a maior parte do
público, o personagem do ostracismo, apostando numa estética
dark/expressionista, e que fizeram de Michael Keaton (escolha improvável, mas acertada) um astro. Esta fase culmina com o filme de Joel Schumacher, que carnavalizou a franquia com suas luzes de neon e apostaram em Val Kilmer e em George Clooney para o papel do Homem-Morcego, mas, seu tom exagerado perdeu o equilíbrio, levando o personagem a um hiato de oito anos nos cinemas.

Keaton e Pfeifer em "Batman - O Retorno" (1992) onde Tim Burton investiu mais nas tintas, num filme mais autoral
Paralelamente aos filmes de Burton, fomos contemplados com a presença marcante do personagem no campo da animação por Batman Animated Series, Liga da Justiça, Liga da Justiça Sem Limites e Batman do Futuro. Também tivemos jogos para Super Nintendo e posteriormente Playstation 1 (embora pessoalmente, eu nunca tenha sido ligado em games).
Com isso, a década de 1990 foi quando o o Batman deixou
definitivamente de ser um personagem das HQs para se tornar a figura
mais icônica e reconhecível da Cultura Pop. Tudo fruto de um exército
de talentosos colaboradores, muitos dos quais sem os devidos créditos,
como Bill Finger, ao qual Bob Kane (que,
por muito tempo, foi considerado o único criador do herói) deve
muitíssimo do sucesso do personagem. Mas isso é o outro lado da moeda da
indústria do entretenimento corporativo, onde muitas vezes a
materialização do sonho implica na destruição da ilusão e no
gerenciamento do pesadelo.
Vieram depois os filmes de Christopher Nolan, investindo mais no realismo e crítica sócio-política e consagrando o Psicopata Americano Christian Bale como o mais realista Cavaleiro das Trevas. Depois veio a visão de Zack Snyder, com Ben Affleck como um Batman obsessivo
e de saco cheio de combater o crime e não ver uma mudança
significativa do quadro social. Uma visão que acabou dividindo
opiniões. Mas, como sempre, o nosso querido Morcego se viu desafiado a
cativar uma nova geração, reinventando-se, ou a retornar a um nicho
restrito de admiradores. E como sempre, ele venceu!

Em "Batman X Superman: A Origem da Justiça" (2015) de Zack Snyder, foi a vez de Ben Afleck criar uma nova versão do campeão de Gothan, mais obsessivo e melancólico, calcado em Frank Miller
Batman é
ao mesmo tempo a materialização da obsessão e da Síndrome do
Sobrevivente, bem como a materialização do desejo de vingança mesclado
com aspirações de buscar justiça com as próprias mãos regadas a altas
doses de fetichismo, contrabalançado com um rígido código de ética. É a
busca do bem maior tribal travestido de vigilantismo criminoso. Mas
também é uma alegoria do poder, da superação individual face às
adversidades da vida quando enfrentamos nossos medos e os fazemos
trabalharem ao nosso favor, transformando o medo e a raiva no fogo e no
martelo que forjam o aço da perseverança e da disciplina, que tornam
meninos assustados em vencedores destemidos.

Qual fã, seja de qualquer sexo, idade ou nicho social não quis ter pelo menos um boneco, dentre as milhares de versões disponíveis no mercado???
Mais
do que um psicopata rico que sai a noite vestido de morcego para
sublimar um desejo de vingança por uma perda que nunca será saciada, Batman representa a força da superação, coisa que percebemos na comparação com a sua contraparte solar: O Superman.

Passados mais de 30 anos, "O Cavaleiro das Trevas" de Frank Miller ainda permanece um dos pilares conceituais do personagem
As grandes histórias do Superman são
histórias de dilema moral, pois o grande poder do Homem de Aço é a sua
capacidade de distinguir o bem do mal. Já as grandes histórias do Batman são
histórias de superação, quando, atingindo os seus limites através do
seu preparo diligente, ele consegue galgar um novo patamar, mostrando
que, ao contrário do que se pensa, o aço não é mais forte do que a carne
que o maneja... Coisa que talvez nem os seus criadores tenham intuído
conscientemente E não percam nossas resenhas no youtube e nos acompanhe no face e instagram BLOG dos 3 Velhos Nerdsnem sempre na mesma bat-hora mas com muita bat-disposição.

Fosse nas telas ou nos quadrinhos, a galeria de vilões do morcegão não tinha rival (com exceção da do Homem-Aranha)
Mas,
voltando ao seriado televisivo da dupla dinâmica, eu lembro o quanto me
marcou ainda menino, quando morava no subúrbio de Barros Filho, na
cidade do Rio de Janeiro, junto com vários da minha geração. Vivíamos a
Era de Ouro da aventura & ficção na TV quando, além do “Cruzado Embuçado”, tínhamos a Jornada nas Estrelas original, Além da Imaginação, Quinta Dimensão, os seriados de Irwin Allen (Perdidos no Espaço, Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Terra de Gigantes), Bonanza, Os Invasores, Daniel Boone, as séries do gênero Supermarionation de Gerry Anderson (Supercarro, Fireball - XL5, Thunderbirds, Stingray, Capitão Escarlate, Joe 90), os desenhos“desanimados” da Marvel,
entre tantas outras. Mas o Morcegão tinha um apelo ao qual nenhum
garoto, tivesse ele oito ou oitenta anos, podia resistir, tornando-se
uma febre mundial. Lembro que eu, sempre que era levado ao barbeiro,
pedia que me cortassem o cabelo num “penteado igual ao do Batman” (seja lá o que fosse isso...).
Na época a transmissão ainda era em preto e branco, mas as aventuras (contraditoriamente diurnas) do paladino de Gothan City exalavam
cores vivas mesmo na reprodução em tons de cinza das telinhas. Era algo
à frente de seu tempo, transpirando, em meio ao seu apelo escapista e
estilizado permeado por um humor “ingênuo”, uma inteligência e sátira
social que somente muitos anos depois eu entenderia. Exatamente por isso
nunca deixaria de amá-la. E ainda tinha aquela versão do batmóvel, que viria a se tornar o carro mais famoso do mundo.
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Isto sim era um CARRO...
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Aqueles eram os Anos de Chumbo, quando o Brasil vivia a “Redentora”, o golpe de 1964. Quando os militares - aliados ao empresariado, aos setores conservadores da sociedade e até a CIA - mergulharam o país no estado de exceção sob o pretexto de salvá-lo do comunismo que “ameaçava a democracia”... Familiar, não? E eu, ainda criança, ouvia os adultos falando que “havia um perigo no ar”, que “se os subversivos viessem, iriam nos fazer prisioneiros, nos obrigar a alimentá-los e obedecer às suas ordens”.
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Uma realidade preto e branco fazia fundo aos coloridos episódios do herói
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Lembro que uma vez cheguei a imaginar a minha casa tomada por um bando de soldados mal-encarados (que curiosamente não eram barbudos...),
sentados na sala, comendo uma comida que a minha mãe havia sido
obrigada a fazer para eles e - afronta maior - estavam vendo a nossa TV e
torcendo para que, daquela vez, o Batman não escapasse da armadilha. Que o Coringa ou o Pinguim ou qualquer dos malfeitores de Gotham havia armado uma armadilha para liquidar a ele e ao Robin!!! Torcer para que o Batman morresse!?! O Batman!?! “COMUNISTAS MALDITOS!!! QUE MORRAM TODOS!!!”, pensava eu na minha inocência impúbere...
Fui crescendo e descobri os quadrinhos do Batman (desenhados por Dick Sprang e George Klein, entre outros artistas da Era de Ouro dos quadrinhos) publicados pela editora EBAL.
As revistas eram impressas em preto e branco e eu adorava pintar com
lápis de cor, até acertando às vezes no equilíbrio cromático (às vezes
como disse...).
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Opps!!! Capuz rosa!?!
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E assim, gradativamente, fui tomando conhecimento do conceito raiz do Batman e
o quanto a versão televisiva era uma entre as várias interpretações que
o personagem permitia. Sempre surpreendendo pelas diferentes abordagens
dos seriados, filmes, animações... e nos quadrinhos, que era onde tudo
começou. Fui entendendo que épocas diferentes, mídias diferentes,
trazem interpretações diferentes de uma mesma ideia. Fosse como fosse,
os anos passaram, o mundo mudou, eu mudei... e mudou o Batman, embora continuasse a ser o mesmo, pois, somente abraçando a mudança conseguimos continuar a ser nós mesmos.
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Mulher-Gato (Julie Newmar): A perdição de toda uma geração de garotos e adolescentes...
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Abracei os quadrinhos - além do cinema, TV, animação, arte e literatura
no geral -, mas sempre reservei um canto para aquele morcego de Gotham
dos anos 60 e o seu batmóvel. Tive como fetiche a Mulher-Gato (e a Jeannie é um Gênio) e curti de montão as piadas que faziam acerca da comentada relação dele com o menino-prodígio. Ri muito com a imortal criação de Jô Soares, o Capitão Gay, quadro que ele atuava com o humorista Eliezer Motta no programa global Viva o Gordo, brincando com o conceito do super-herói em geral e com a chamada Dupla Dinâmica em particular. Era a dupla Capitão Gay (Soares) e o seu parceiro Carlos Sueli (Motta),
cujas identidades secretas eram respectivamente “o Comendador Gouveia” e
o seu fiel secretário Leopoldo. Parodiaram inclusive a clássica
sequência da subida no prédio com a “bat-corda”, tão comum no seriado sessentista.
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Na terceira temporada surgiu a Batgirl (Yvonne Craig) para atrair as meninas, e os adultos babões...
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Paralelo a isso, fiz a faculdade, conheci os mestres Neal Adams, Ernie Chan, Marshall Rogers, Frank Miller,
entre outros, que moldaram o Paladino Noturno dos quadrinhos com várias
tintas, num crescendo que, ao atingir um patamar de massa crítica,
lançaram novamente o personagem ao topo da Cultura Pop.

Carlos
Suely (Eliezer Motta) e Capitão Gay (Jô Soares) a icônica dupla
humorística que fêz muito sucessso no programa "Viva o Gordo"

Carlos
Suely (Eliezer Motta) e Capitão Gay (Jô Soares) a icônica dupla
humorística que fêz muito sucessso no programa "Viva o Gordo"
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Nos traços limpos e dinâmicos de Marshall Rogers o herói brilhou no final dos anos 1970
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Foi quando vieram os filmes, de Tim Burton,
de resultados e qualidades variáveis, tirando, para a maior parte do
público, o personagem do ostracismo, apostando numa estética
dark/expressionista, e que fizeram de Michael Keaton (escolha improvável, mas acertada) um astro. Esta fase culmina com o filme de Joel Schumacher, que carnavalizou a franquia com suas luzes de neon e apostaram em Val Kilmer e em George Clooney para o papel do Homem-Morcego, mas, seu tom exagerado perdeu o equilíbrio, levando o personagem a um hiato de oito anos nos cinemas.
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Keaton e Pfeifer em "Batman - O Retorno" (1992) onde Tim Burton investiu mais nas tintas, num filme mais autoral |
Paralelamente aos filmes de Burton, fomos contemplados com a presença marcante do personagem no campo da animação por Batman Animated Series, Liga da Justiça, Liga da Justiça Sem Limites e Batman do Futuro. Também tivemos jogos para Super Nintendo e posteriormente Playstation 1 (embora pessoalmente, eu nunca tenha sido ligado em games).
Com isso, a década de 1990 foi quando o o Batman deixou definitivamente de ser um personagem das HQs para se tornar a figura mais icônica e reconhecível da Cultura Pop. Tudo fruto de um exército de talentosos colaboradores, muitos dos quais sem os devidos créditos, como Bill Finger, ao qual Bob Kane (que, por muito tempo, foi considerado o único criador do herói) deve muitíssimo do sucesso do personagem. Mas isso é o outro lado da moeda da indústria do entretenimento corporativo, onde muitas vezes a materialização do sonho implica na destruição da ilusão e no gerenciamento do pesadelo.
Vieram depois os filmes de Christopher Nolan, investindo mais no realismo e crítica sócio-política e consagrando o Psicopata Americano Christian Bale como o mais realista Cavaleiro das Trevas. Depois veio a visão de Zack Snyder, com Ben Affleck como um Batman obsessivo
e de saco cheio de combater o crime e não ver uma mudança
significativa do quadro social. Uma visão que acabou dividindo
opiniões. Mas, como sempre, o nosso querido Morcego se viu desafiado a
cativar uma nova geração, reinventando-se, ou a retornar a um nicho
restrito de admiradores. E como sempre, ele venceu!
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Em "Batman X Superman: A Origem da Justiça" (2015) de Zack Snyder, foi a vez de Ben Afleck criar uma nova versão do campeão de Gothan, mais obsessivo e melancólico, calcado em Frank Miller
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Batman é
ao mesmo tempo a materialização da obsessão e da Síndrome do
Sobrevivente, bem como a materialização do desejo de vingança mesclado
com aspirações de buscar justiça com as próprias mãos regadas a altas
doses de fetichismo, contrabalançado com um rígido código de ética. É a
busca do bem maior tribal travestido de vigilantismo criminoso. Mas
também é uma alegoria do poder, da superação individual face às
adversidades da vida quando enfrentamos nossos medos e os fazemos
trabalharem ao nosso favor, transformando o medo e a raiva no fogo e no
martelo que forjam o aço da perseverança e da disciplina, que tornam
meninos assustados em vencedores destemidos.
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Qual fã, seja de qualquer sexo, idade ou nicho social não quis ter pelo menos um boneco, dentre as milhares de versões disponíveis no mercado???
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Mais
do que um psicopata rico que sai a noite vestido de morcego para
sublimar um desejo de vingança por uma perda que nunca será saciada, Batman representa a força da superação, coisa que percebemos na comparação com a sua contraparte solar: O Superman.
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Passados mais de 30 anos, "O Cavaleiro das Trevas" de Frank Miller ainda permanece um dos pilares conceituais do personagem
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As grandes histórias do Superman são
histórias de dilema moral, pois o grande poder do Homem de Aço é a sua
capacidade de distinguir o bem do mal. Já as grandes histórias do Batman são
histórias de superação, quando, atingindo os seus limites através do
seu preparo diligente, ele consegue galgar um novo patamar, mostrando
que, ao contrário do que se pensa, o aço não é mais forte do que a carne
que o maneja... Coisa que talvez nem os seus criadores tenham intuído
conscientemente
E não percam nossas resenhas no youtube e nos acompanhe no face e instagram BLOG dos 3 Velhos Nerds
nem sempre na mesma bat-hora mas com muita bat-disposição.