O absurdo da realidade
por Alexandre César
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O casal Olaf (Kristofer Hivju) e Elsa (Hannah Hoekstra) são os primeiros a observarem "mudanças" na vida selvagem |
Nas redondezas, a enfermeira Sari (Keri Russell, de Felicity) mãe solteira, instrui sua filha Dee Dee (Brooklynn Prince, de Home Before Dark). Como ela vai fazer um plantão à noite, lhe dá instruções do que fazer pela manhã quando for à escola. Mas a pimpolha resolve matar aula com seu amiguinho Henry (Christian Convery, de Sweet Tooth) e dar uma volta próximo da cachoeira do parque florestal.
O Parque florestal é cuidado pela Ranger Liz (Margo Martindale de Bem-Vindos à Vizinhança) uma guarda florestal tiazona, auxiliada por Peter (Jesse Tyler Ferguson de Família Moderna) um guia “good vibes”.
Ao mesmo
tempo, temendo perder o carregamento de drogas do cartel e sem ter como pagar essa
fortuna, o chefe do tráfico local Syd (Ray Liotta, de História de um Casamento, em
sua última atuação) convoca seu capanga Daveed (O´Shea
Jackson Jr., de Obi-Wan Kenobi) para que vá com Eddie (Aiden Ehrenreich, de Admirável Mundo Novo), o filho do traficante, recolher na floresta a
valiosa carga. Este movimento é previsto por Bob (Isiah Whitlock Jr., de Destacamento
Blood), um dedicado policial certinho, que parte para
interceptar o resgate da carga, após (tentando fazer a coisa certa) presentear sua colega de farda Reba (Ayoola Smart, de Juliet, Nua e Crua) com algo bem fora do gosto da policial.
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O trombadinha Stache (Aaron
Holliday, de camisa amarela) esbarra com Daveed (O´Shea
Jackson Jr. ao fundo) e Eddie (Aiden Ehrenreich) |
E para finalizar, temos Stache (Aaron
Holliday,de Euphoria), Vest (J. B. Moore, de O
Jovem Wallander) e Ponytail (Leo Hanna, de About
Joan): uma gangue muquirana de trombadinhas que assalta campistas do
parque e se "acham” o perigo real e imediato. Eles e os outros citados acabam
convergindo, cruzando o caminho entre si e com o grande carnívoro, que se está sob o efeito de uma dose cavalar do perigoso entorpecente, e louco para
conseguir mais uma dose...
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Sari passa maus bocados fugindo do urso |
Dirigido por Elizabeth Banks (A Escolha Perfeita 2) a partir do roteiro de Jimmy Warden (A Babá: Rainha da Morte) e levemente baseado em fatos reais*1, O Urso do Pó Branco (2023) aproveita sua premissa absurda ao longo de 1 hora e 35 minutos para gerar uma comédia de erros plena de humor sarcástico, corrosivo e politicamente incorreto, regatando as comediotas oitentistas, temperada com doses de violência gráfica e gore. Com resultados divertidos, em alguns momentos o filme lembra os desencontros das tramas dos Irmãos Cohen (com menos inventividade, mas ainda assim, funcional), não tendo medo de colocar crianças na equação (coisa que hoje em dia os grandes estúdios ficam cheios de dedos...).
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O CGI do urso é eficiente, bem como os efeitos práticos e próteses de suas vítimas |
A edição de Joel Negron (Thor: Ragnarok) lembra bastante filmes B ao estilo da franquia Sexta-Feira 13, como na sequência envolvendo os paramédicos Tom (Scott Seiss, de Shortcomings) e Beth (Kahyun Kim, de Deuses Americanos), num ritmo que combina com a música de Mark Mothersbaugh (O Que Fazemos nas Sombras), entrecortada com clássicos dos anos 80, época em que o filme se passa.
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Sari encontra sua filha Dee Dee
(Brooklynn Prince) e seu amigo Henry (Christian
Convery) próximos ao covil da fera |
O funcional desenho de produção de Aaron Haye (Bohemian Rhapsody) compõe, junto com a direção de arte de Conor Dennison (Fundação) e Christine McDonagh (O Homem do Norte), espaços rústicos e funcionais, como o posto administrativo do Parque e o restaurante de estrada onde Daveed e Eddie se encontram, e outros mais acolhedores. Este último é o caso da casa de Sari, onde a decoração de sets de John Neligan (Obsessão) e Jil Turner (Vikings), com elementos característicos dos anos 80, demarcam um claro recorte da época. Os figurinos de Tiziana Corvisieri (Pitch Perfect: Bumper in Berlin) vão pelo mesmo caminho, com seus trajes compostos de peças que poderiam ser compradas em saldões e atacados de fábrica, à despeito do cuidado do vaidoso Daveed com seus tênis novos de grife e sua camisa de marca.
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Ao grupo de Daveed e Eddie se unem a policial Reba (Ayoola
Smart) e Syd (Ray Liotta) |
Agora falemos do urso, que não existiria de forma crível sem os efeitos visuais de Weta FX, Rising Sun Pictures, Myth Image, Lola Visual Effects, Esceptional Minds, Halon Entertainment, Clear Angle Studios, supervisionados por Robin Hollander (Planeta dos Macacos: A Guerra) e Matt Greig (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis). Embora desigual no realismo entre as sequências, o animal atinge os objetivos propostos pela narrativa, ora revelando a fera como uma pobre vítima das circunstâncias, ora como um ser que a cada cafungada do “pó mágico”, volta à vida como um monstro chapado, tipo o Incrível Hulk. Os efeitos de suas ações sobre os frágeis humanos são apresentados nas próteses e efeitos práticos da Weta Workshop, que pagam tributo ao histórico dos filmes de Jason, Freddy Kruger e similares.
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Vários são os momentos de humor escrachado em que o urso cai "chapado" |
Ao final do filme, constatamos que, à despeito de suas irregularidades, O Urso do Pó Branco apresenta na sua abordagem cínica uma boa critíca à hipocrisia da “Guerra às Drogas” americana, que sempre serviu mais para manter o status quo vigente do que realmente combater o crime, ou evitar que elementos químicos estranhos contaminassem o meio ambiente...
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Tudo se resume a achar a coca e sobreviver para faturar uma grana com ela... |
Notas:
*1: Como é mostrado no prólogo do filme, Andrew Thornton era um traficante que foi encontrado morto em 11 de setembro de 1985 perto de uma estrada no estado de Tennessee, depois de pular do avião em movimento. Estava com parte de sua preciosa carga amarrada em seu corpo, além de uma mala. Seu paraquedas falhou por não suportar todo o peso que carregava. Em terra, a polícia encontrou na Floresta Nacional de Chattahoochee, junto a 40 tabletes rompidos e espalhados pelo chão, um urso negro morto de cerca de 220 Kg. Sua autópsia revelou que ele consumiu uma grande quantidade de cocaína, morrendo por overdose. O urso foi empalhado e atualmente se encontra em exibição num shopping na cidade de Lexington, no estado do Kentucky. O caso ganhou a mídia e virou uma lenda urbana da região. O animal foi chamado de “Pablo Escobear” , um trocadilho com o nome do traficante Pablo Escobar e “bear” (urso em inglês). Outro apelido que o animal recebeu foi “Cokey, the Bear” que poderia ser traduzido como “Coca, o Urso”.
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