domingo, 19 de março de 2023

Agora, com menos enchimento na malha!!! - Crítica – Filmes: Shazam! Fúria dos Deuses (2023)

 


Oh deus! Deusas!!!


por Alexandre César

E o Adeus aos últimos vestígios do DCU prossegue...







Shazam! (2019) resgatou, numa aventura lúdica e divertida, o espírito do personagem, que embora em nenhum momento use o nome de Capitão Marvel (por causa das questões jurídicas cobrindo o nome*1) e usando de sua ingenuidade e esperança num tratamento mais solar aos personagens deste universo, destoando  dos tons sombrios e carregados até vigentes (até porque, esta ruptura era o que o personagem pedia!) o que o tornou um bem sucedido azarão do Universo Cinematográfico DC.

 

A família dos Vasquez: Pedro Pena (Jovan Armand), Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer), Billy Batson (Asher Angel), Darla Dudley (Faithe Herman), Mary Bromfield (Grace Caroline Currey) e Eugene Choi (Ian Chen). Cada um num ponto entre infância-adolescência



Agora, dirigido novamente por David F. Sandberg (Annabelle 2: A Criação do Mal) com roteiro de Henry Gayden (Tem Alguém na Sua Casa) e Chris Morgan (Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw) , baseados nos personagens da DC criados por Bill Parker e C.C. Beck, Shazam! Fúria dos Deuses (2023) da New Line Cinema, traz a continuação da história do adolescente Billy Batson que, ao invocar a palavra mágica “SHAZAM!”, que se transforma no seu alter ego adulto, o super-herói, Shazam, e agora à despeito de suas qualidades e despretensão, enfrenta o maior dos desafios: O clima de encerramento do Universo Cinematográfico DC, cujas mudanças decorrentes da fusão Warner Bros-Discovery capitaneada por David Zaslav, reverberam mais do que um raio, cancelando filmes e, pelo eminente reboot de todo universo narrativo da DC Comics nas telas, por James Gunn e Peter Safram, vem fazendo com que filmes sejam abandonados pelo público, uma vez que este acaba perdendo a vontade de acompanhar um universo narrativo que não terá continuidade, cujo maior sacrificado foi Adão Negro, e seu protagonista Dwayne Johnson, cuja baixa performance nas bilheterias já o tornaram uma “carta fora do baralho”...

 

Adversárias: As Fúrias Kalypso (Lucy Liu), Hespera (Helen Mirren) e Anthea (Rachel Zegler), filha de Atlas, resolvem retomar os seus poderes


 O filme (o décimo segundo filme do Universo Estendido da DC) foi originalmente programado para ser lançado em 1º de abril de 2022, mas devido à pandemia de COVID-19, a data de lançamento foi adiada para 4 de novembro de 2022 e novamente para 2 de junho de 2023, sendo finalmente agora lançado, em março.

 

Anthea, se aproxima de Freddy Freeman, passando-se por uma estudante e testemunhando a coragem deste frente aos bullyies da escola
Hespera é uma líder determinada e uma oponente formidável

 

Desde o filme anterior, o grupo, foi tentando encontrar, sem muito sucesso, seu lugar no mundo, e na comunidade heroica, sendo (à despeito de seus esforços) chamado pela mídia de “o Fracasso da Filadélfia” apresentando cada um características de suas próprias fases da vida: Billy Batson (Asher Angel de Andi Mack) vive os dilemas e angústias do crescimento, às vésperas de fazer 18 anos, e sair do programa de auxílio do estado, enquanto seu alter-ego heroico SHAZAM (Zachary Levi de Thor: Ragnarok) continua uma criança em corpo de adulto, apesar de estar sofrendo da “síndrome do impostor*2” e de sua insegurança como líder, contrastando com a mais centrada e madura Mary Bromfield / Super Mary (Grace Caroline Currey de Annabelle 2: A Criação do Mal) que quer fazer universidade, assumindo já ser uma jovem mulher*3. Diferente dos dois mais velhos, o deficiente alto-astral Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer de It: Capítulo Dois) continua roubando a cena, usando seu Super-Freddy (Adam Brody de Bela Vingança) como potencializador de sua persona mais descolada e juvenil. Dentre os mais jovens, o calado Pedro Pena (Jovan Armand de Second Chances) encara auto-descobertas, enquanto seu eu-heróico Super-Peter (D.J. Cotrona de G.I. Joe: Retaliação) faz bonito na ação; o hacker-mirim Eugene Choi (Ian Chen de Juntos para Sempre) e seu Super-Eugene (Ross Butler de Raya e o Último Dragão) continua analítico, e a caçula Darla Dudley (Faithe Herman de This Is Us) e sua contraparte Super-Darla (Meagan Good de Turno do Dia) são basicamente a mesma pessoa fofa que ama gatinhos e unicórnios.

 

O Mago Shazam (Djimon Hounsou) cresce e aparece como personagem cômico

 


O acolhedor lar adotivo de Rosa (Marta Milans de White Lines) e Victor Vasquez (Cooper Andrews de The Walking Dead) continua apesar das fraturas dos raios, o porto seguro do supergrupo, e que terá a sua força desafiada pelo surgimento das Fúrias*4 Hespera (Helen Mirren de Velozes e Furiosos 9), Anthea (Rachel Zegler de Amor, Sublime Amor), e Kalypso (Lucy Liu de Kung Fu Panda) que aprisionaram o Mago SHAZAM (Djimon Hounsou de Um Lugar Silencioso Parte II, agora assumindo o lado humorístico do personagem) para recuperar os poderes dos deuses que ele tomou, para ‘turbinar’ os seus campeões.

 

Hespera e Kalypso são as adversárias de fato, dando trabalho aos heróis

 

 Narrativamente, a edição de Michel Aller (A Freira) mantém um ritmo ora mais lento, quando nos permite espaço para sentirmos os dilemas de seus personagens, e mais frenético, quando se entrega à ação escapista, que no fundo é o que esperamos desse tipo de filme, que a música de Christophe Beck (Free Guy - Assumindo o Controle, Frozen 2) com supervisão musical de Season Kent (DC Liga dos Superpets, A Família Addams 2: Pé na Estrada) ao inserir hits como “Holding Out for a Hero” por Bonnie Tyler, entre outros, procura alcançar o divertimento certo.

 

A família Shazam: Super-Eugene (Ross Butler), Super-Freddy (Adam Brody), SHAZAM (Zachary Levi, Super Mary (Grace Caroline Currey,  Super-Darla (Meagan Good) e Super-Peter (D.J. Cotrona)

Shazam tenta (sem muito sucesso) negociar com Hespera uma solução pacífica

 
O filme é visualmente rico, com o criativo desenho de produção de Paul Kirby (Jason Bourne) recriando os ambientes deste universo ficcional, como a Pedra da Eternidade (transformada num ‘muquifo’ adolescente) e o Reino do Olimpo, bem desgastado pelo abandono, que auxiliado pela direção de arte de Audra Avery (Samaritano); Cameron Beasley (Pantera Negra: Wakanda para Sempre); Shawn D. Bronson (Gavião Arqueiro); Laura C. Cox (Red One); Brittany Hites (The First Lady) entre outros, aproxima a ambientação com os universos fantásticos da Warner Bros como Harry Potter, Game of Thrones, O Senhor dos Anéis, entre outros, que a decoração de sets de Danielle Berman (Alerta Vermelho) personaliza com vários easter-eggs dos filmes do estúdio.

 

Kalypso (tendo um dragão) infelizmente, logo se revela uma vilã formulaica

 
Os figurinos de Louise Mingenbach (Godzilla II: Rei dos Monstros) são eficientes ao definir os trajes básicos da família Vasquez, em contraste com os estilosos trajes da família Shazam (que agora parecem ter menos enchimento de borracha do que no filme anterior) e os trajes das Fúrias, que dão imponência às suas intérpretes, embora Helen Mirren se imponha, até com os farrapos de uma mendiga se fosse necessário, como quando ela diz a Shazam: -“Crianças roubaram o poder de TODOS os deuses! Isso é muito pessoal, Billy.”

 

Os efeitos visuais sofreram um upgrade em relação ao filme anterior


 Mantendo essa premissa, a colorida fotografia de Gyula Pados (da franquia Jumanji) complementa-se com os efeitos visuais da RISE Visual Effects Studios, Double Negative (DNEG), Direct Dimensions (DDI), Big Flick Rentals e OPSIS, supervisionados por Bruce Jones (Aquaman) e Raymond Chen (Alita: Anjo de Combate) que nos brindam inclusive com visuais fantásticos e nostálgicos em seus ambientes e seres, como os monstros, que homenageiam o mestre Ray Harryhausen.

 

Homenagem: Os monstros mitológicos do filme são calcados em designs do mestre do Stop-Motion Ray Harryhausen

No final Shazam supera as suas inseguranças e mostra ser um herói no sentido amplo da palavra

 

 Pesados os prós e contras, Shazam! Fúria dos Deuses continua seguindo a premissa do filme original de ser despretensioso, e que não se ressente de ser bobo, e assumidamente para a família ou, para qualquer público mais emotivo (e de bom coração) em duas horas e dez minutos de diversão escapista, com uma nítida diferença entre o bem e o mal. E é isso. Infelizmente o momento em que está sendo lançado condenou-o a ser deixado de lado pelo próprio estúdio, que não executou um marketing adequado para vendê-lo ao público (inclusive tendo vazado de forma patética sua cena surpresa com um personagem clássico da DC), gerando mais desconfiança do que expectativa, lançando grandes dúvidas sobre seu futuro no novo universo cinematográfico a ser reiniciado. É um pena.

 

Obs: Há duas cenas pós-créditos. Uma lançando uma vaga possibilidade de retorno do personagem, e outra (a mais engraçada) brincando com o final do filme original.



Notas:

 


*1: Após uma longa batalha nos tribunais com a National Periodical Comics (futura DC Comics), que acusava o personagem de ser um plágio do Superman, e a queda das vendas do pós-segunda guerra (que eclipsou a maioria dos super-heróis) o personagem (que tinha fãs célebres como Elvis Presley) foi em 1953 cedido pela Fawcett Comics (em crise financeira) para a National Periodical Comics findando o processo, colocando em seguida, o herói no limbo, para assim garantir o reinado do kryptoniano; mas aproveitando-se disso, Stan Lee, que trabalhava na Marvel Comics (surgida nos anos de 1960) resolveu registrar a marca “Capitão Marvel”, antes que a agora DC a renovasse, mesmo não tendo um personagem ainda para usar o nome (o Capitão Marvel da Marvel só surgiria em 1967...) o que obrigou a DC a rebatizar a revista para Shazam! e depois para The Power of Shazam, só usando o nome do personagem Capitão Marvel no miolo da revista. 

 



*2: Síndrome do Impostor: O principal sintoma que os portadores dessa crítica apresentam, é o medo de ser “desmascarado”, devido à insegurança na própria capacidade, acreditando ser uma fraude sempre prestes a ser descoberta. Isso desencadeia outros sintomas, como ansiedade e angústia. 




*3: Dessa vez Mary Bromfield é vivida nas suas duas versões por Grace Caroline Currey. No filme anterior Grace Fulton (Annabelle 2 - A Criação do Mal) vivia sua versão adolescente. 



*4: As Fúrias se originam da mitologia Grega e são filhas de Atlas (um dos deuses que deram seus poderes à Shazam ):

- Hespera recebeu o nome das Hespérides, os espíritos do pôr do sol, que cuidavam de um jardim de maçãs douradas. Hespera também é a forma feminina de Hesperus, irmão de Atlas e o deus da Estrela Vespertina Vênus.

- Kalypso recebeu o nome da feiticeira que cuidou de Ulisses em seu caminho para casa. 

- Anthea é a deusa dos jardins, pântanos, das flores, e do amor humano.

Há também dois membros das Hespérides (primitivas deusas primaveris que representavam o espírito fertilizador da natureza) chamados Calypso e Antheia (outra grafia do nome de Anthea). Donas do jardim das Hespérides, situado no extremo ocidental do mundo. A rigor, o termo "hespérides" designa dois grupos distintos de divindades, que com frequência são confundidos.


-"Valeu galera por terem vindo aos cinemas! Espero que a bilheteria permita que voltemos a nos ver nas telas!!!"

 

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